Louca por compras: quantas peças de roupa devemos ter no armário?
Mais do que renovar o guarda-roupa (só os super-ricos é que o poderão fazer, duas vezes ao ano), o que está in é atualizá-lo ou até “reciclá-lo” sem nos arruinarmos com compras desnecessárias. O mote é ter-se estilo sem nunca ser e, pior ainda, parecer uma vítima da moda.

Numas férias distantes, num país também distante, eu lembro-me de entrar no elevador de um hotel e de ficar absolutamente rendida ao estilo de uma senhora francesa com uma silhueta daquelas de ponto de exclamação (ou não fosse ela uma francesa).
Usava um vestido Pucci comprido. Não me contive e elogiei-o. Depois de agradecer o cumprimento e sem encontrar forma, diga-se a verdade, de poder retribuir, confessou (de um rés-do-chão a um 15.º andar pode-se ficar a saber muito sobre a vida de uma pessoa) que era um vestido vintage que o marido lhe tinha oferecido há muitos anos, por ocasião do décimo aniversário de casamento e que passados outros tantos anos o tinha recuperado para vestir naquelas férias: "Nada como uma boa compra que nunca passa de moda, n’est ce pas, chérie?" Voilà! O exemplo ali materializado do que era o luxo da longevidade, a autoridade silenciosa que se transporta, através dos anos, sem desiludir. Não sei o que invejei mais, se o vestido, se o bom gosto ou se o facto de essa senhora, passada uma década sobre as outras décadas de vida que elegantemente aparentava, ainda caber dentro do mesmo.

Ali estava a prova viva que quando se trata de gastar dinheiro, mais vale investirmos em qualidade, ou melhor, em valores seguros. E isto não significa que tenhamos de nos arruinar para comprar um casaco comprido, umas botas altas ou qualquer adereço de marca, seja Pucci ou não. O que significa é que devemos fazer escolhas, termos noção das prioridades e comprar a melhor qualidade que conseguimos pelo melhor preço. Menos é mais. E pode ser muito mais apesar do preço quando a versatilidade está presente. Um tailleur que possa ser usado de variadíssimas formas ao longo dos anos acaba, no final, por custar menos do que um armário cheio de pechinchas.
Se dividir o custo da peça de roupa ou do acessório pelo número de vezes que o usou ou sabe que o vai usar, terá o real custo do mesmo. Um casaco de caxemira é caro e nem todos poderemos ter acesso a um, mas quando se consegue investir num deles e quando se usa anos a fio acabará por custar menos do que um de moda descartável que se usa uma estação e se "deita fora".
Inès de la Fressange, musa de Karl Lagerfeld e ex-modelo Chanel, confessa no livro Chic Simple Clothes (por Christa Worthington, edições Knoff): "Trabalhei na indústria da moda durante muito tempo. Tal como toda a gente, trabalho, saio e todas as manhãs tenho de encontrar algo para vestir – algo no qual eu me sinta confortável todo o dia. Dantes, eu tinha guarda-roupas tão cheios que quase podiam rebentar. Hoje, prefiro ter só algumas peças, mas de boa qualidade. Não concordo com a ideia de as tendências mudarem automaticamente de uma estação para a outra. O meu guarda-roupa desenvolve-se, gradualmente, com subtis inovações e de acordo com o meu estilo de vida." Para eu nunca me esquecer desta linha de ação, todos os anos recito um mantra (sem muito sucesso, diga-se): vou transformar esta falta de jeito para comprar só o que preciso num efeito de estilo e sair vitoriosa disso tudo! Mas contra mim escrevo.

Aos primeiros acordes da nova estação, à primeira ameaça de temperaturas ligeiramente mais baixas para a época (no final de setembro, o boletim meteorológico passa a ser um dos meus programas de televisão mais vistos…) e eis-me em êxtase a olhar para as montras, a tomar de assalto as lojas, absolutamente convencida de que eu não tenho nada para vestir e de que preciso de tudo o que está nos expositores diretamente para o meu closet para ser feliz!
Uma esquizofrenia fashion, até porque o que era moda há cinco minutos, já não é. Resultado? Um armário que é um túnel infinito onde tudo se perde. Se a minha vida dependesse da capacidade de conseguir enumerar todas as calças, as camisas, as túnicas, os casacos e os vestidos que lá estão… já estaria, há muito, morta e enterrada. Alguém (uma francesa, claro!) disse a propósito de outrem (uma americana): "Eu não percebo como é que ela se pode vestir bem com tanta roupa no armário." Talvez seja este o paradoxo da Moda.
Quanto mais se amontoa, mais difícil é a escolha. Muitas vezes, a maior parte mesmo, são compras desnecessárias, impulsivas, duplicações do mesmo! E é por esta razão que deixei de ir às compras com uma amiga. De cada vez que eu pegava numa camisola bege, eu ouvia, tal como um coro da tragédia grega a invocar os deuses e a repetir-se num efeito irritante, a pergunta dessa minha amiga: "Outra bege?! Mas quantas iguais a essa tens lá em casa?" Um inferno. Ter um guarda-roupa funcional com o qual possa resolver as inúmeras exigências do dia-a-dia é como escrever. Quem não tem vocabulário não se sabe expressar. Ou seja, na Moda quem não tem os básicos e as peças intemporais que se desdobram, ano após ano, em variantes de formas e de materiais fica limitada ou limitado. São uma espécie de bóia salva vidas e não requerem de muita imaginação para funcionar.

As estações mudam, mas aqueles continuam a ser sempre os mesmos. Como os bons amigos.Quando são verdadeiros, são para a vida! Guccio Gucci, fundador da Casa Gucci, dizia que quando a qualidade continua a ser lembrada, há muito que se esqueceu o preço. E isto pode ser aplicado a muitos aspetos da nossa vida. Mas há também que lembrar Coco Chanel que afirmava: "Sou contra a moda que não dura. Não posso aceitar que ponhamos de lado as nossas roupas só porque é Primavera." Devemos reter isso para quando decidirmos atualizar o nosso guarda-roupa.
Até porque o estilo está nos antípodas das tendências do momento e dos ditames das estações. É mais a cola que embrulha o pacote de tudo o que se viu, olhou, comprou ou herdou. É aquilo que a cirurgia estética não consegue emendar. É o acessório inesperado que cimenta o look.
Assim, pense bem, será que é naquela carteira trendy que quer mesmo gastar o seu orçamento de uma revoada? Não será melhor apostar num bom casaco e nuns bons sapatos? Afinal de contas, no inverno vão ser praticamente o que se notará do seu outfit. E não há como uns bons sapatos para nos levantar a moral. Nunca vi uma mulher ou um homem voltar a cabeça ao vislumbre de uma mulher que carregue orgulhosamente uma Birkin. Mas já vi acenar com aprovação perante a visão de uns deslumbrantes escarpins. Tem razão quem disse, um dia, que para sabermos se alguém está bem vestido temos de baixar a cabeça.

Como usar as 10 tendências-chave do outono
Explosão de tartan, sobreposições fortes, bolsas à volta da cintura, blocos de cor… Com a chegada do outono revemos as bases de um guarda-roupa cheio de estilo.
25 peças aos quadrados
Vermelho e preto cruzam-se e recuperam o clássico padrão da estação invernosa. Modernizado em formas, o tartan é sempre sinónimo de personalidade.
Melania Trump e as suas leggings invisíveis
A primeira dama dos Estados Unidos da América voltou a dar que falar por causa das suas escolhas de estilo.
Os ténis mais (o)usados da estação
Polémicas ou estratégias de marketing à parte, diferentes marcas de luxo continuam a apresentar ténis em modelos old school, com aspecto usado e sujo, e a preços elevados. Um sério caso de amor/ ódio que deixa no ar a questão: sim ou não?