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Moda

ModaLisboa: ao segundo dia Leslie apareceu, Luís Carvalho serviu-lhe cerejas

No sábado Luís Carvalho festejou os seus cinco anos de marca, Nuno Gama foi ao museu e Alexandra Moura regressou à ModaLisboa.

14 de outubro de 2018 às 15:51 Catarina Moura

Ainda que o mau tempo não se tenha sentido como em outras edições da ModaLisboa, o furacão Leslie e as notícias e alertas da protecção civil fizeram com que a programação de rua da 51ª edição da ModaLisboa fosse interrompida este sábado, 13. Depois de desmontadas as estruturas exteriores, dentro do Pavilhão Carlos Lopes os designers portugueses continuaram indiferentes à expectativa de mau tempo, trazendo a primavera: a fechar o dia, Luís Carvalho serviu cerejas com esperança na sua internacionalização.

Na passerelle a única consequência de Leslie foi a progressiva diminuição do público na sala. A audiência voltou a compor-se para Luís Carvalho, que comemora este ano cinco anos de marca, sempre a desfilar em Lisboa, onde rapidamente se afirmou, fechando desde cedo a programação de alguns dias de ModaLisboa. "Cinco anos parece ser pouco tempo para comemorar, mas para mim é importante porque, no mundo da moda em Portugal, é muito difícil sobreviver e ter uma marca consistente. E há um grande crescimento desde a primeira colecção para a última: penso que esta representa bem aquilo que acho que é o ADN da marca", diz o designer acrescentando que a marca é neste momento sustentável.

Essa identidade que construiu está no trabalho dos volumes e nas silhuetas femininas rigorosamente estruturadas, em materiais como os tafetás, crepes e cetins de seda e nos estampados desenvolvidos por si e em que não investia tanto desde os primeiros anos. Para Cherry, a colecção que fechou o penúltimo dia de ModaLisboa, desenvolveu padrões com cerejas, tornando este fruto numa inspiração literal mas indo além disso. As cerejas estiveram também em moldes circulares que decoraram decotes e saias, em vestidos e tops volumosos e na inspiração oriental que vem com as flores de cerejeiras - houve quimonos e cintos ao jeito asiático.

O próximo passo da marca Luís Carvalho é a internacionalização, conta à saída do desfile avançando que está já a sondar showrooms internacionais. "Em Portugal já tenho um público conquistado e para o volume de vendas que quero preciso de ir para fora porque Portugal não é suficiente", explica acrescentando que o mercado parisiense é aquele com que mais se identifica e portanto aquele que primeiro vai tentar.

Enquanto Luís Carvalho falava sobre a progressão da sua marca nos últimos cinco anos, lá fora sentiam-se uns leves chuviscos e quase nenhum vento, mas já tinham sido desmontadas as estruturas do WonderRoom, a loja temporária da ModaLisboa onde desta vez se apresentam 24 marcas e designers nacionais, da Workstation, a exposição de fotografia que documenta o evento e que este ano inclui também ilustração, o espaço Portuguese Shoes e o showcase ModaPortugal, que conjuga moda, tecnologias e indústria - todos estes espaços abertos ao público em geral. O regresso desta programação está marcado para domingo, 14, último dia do evento, noticiou a agência Lusa.

Sábado começou com apresentações abertas a todo o público e não apenas com acesso por convite, como acontece com a maioria dos desfiles. Nuno Gama foi para onde se sente mais confortável: junto dos tesouros e da história portuguesa. As portas do Museu Nacional de Arte Antiga abriram-se ao público em geral para que todos pudessem circular entre os modelos masculinos, distribuídos pelo terceiro piso, dedicado à pintura e escultura portuguesas.

O MNAA como cenário apareceu como forma de "agradecer aos painéis de São Vicente de Fora a inspiração" da última colecção (Outono-Inverno 18), diz Nun Gama, e de "trazer-vos aqui para que possam receber aquela magnífica energia que os painéis emanam e todo o espólio do museu", acrescenta. Os seus fatos 100% alpaca, criações em tons secos e outras em preto, branco e vermelho foram inspeccionados de perto pelos visitantes do MNAA, enquanto aa onda de gente foi observada pela segurança do museu - toda concentrada neste piso.

 

Este sábado marcou ainda o regresso de Alexandra Moura à ModaLisboa com um "powered by Portugal Fashion" - é o resultado do protocolo entre o evento lisboeta e o portuense assinado em Setembro. Depois da ausência de quatro estações, a designer que começou a sua carreira com a ModaLisboa volta a esta primeira casa para lembrar a própria infância. Na passerelle do Pavilhão Carlos Lopes soaram sinos de igreja no início e no final do espectáculo, memórias das férias em Vila Verde da Raia, e Trás-os-Montes, onde moravam os avós Amélia e Delfim. As imagens da casa de aldeia vão ter a quadros com flores pintadas ao jeito impressionista - "uns mais elegantes misturam-se com outros mais kitsch" - ou a flores artificiais, a carpetes e sofás com brocados, colchas de cetim, folhos e laços. Isto tudo vê-se nos constantes laços que já são sinónimo de Alexandra Moura, nas saias com peitilho muito naifes, nos folhos, na viscose floral em preto para vestidos e tops femininos e numa ponte com o moderno no uso de gangas e tecidos impermeáveis com padrão floral em quispos e mochilas.

O dia seguiu no Lago do Botequim do Rei que foi pela primeira vez palco do evento - uma forma de o devolver à cidade depois das obras de reabilitação, explica Eduarda Abbondanza, directora da Associação ModaLisboa. Foi Awaytomars, a plataforma de design colaborativo encabeçada por Alfredo Orobio e Marilia Biasi, que estreou o sítio com um desfile aberto ao público em se olhou para a história da luz como agente estimulante da visão e da gravação de imagens. "Drawn By Light" foi criada por 809 designers e mostra padrões digitais semelhantes à forma como diferentes superfícies refletem e refractam a luz. As cores são as dos primeiros corantes dos slides de meados do século XIX para projeções em salas de entretenimento públicas: roxo profundo ou as cores de anilina estiveram em saias compridas e esvoaçantes, em fitas a marcar a cintura por cima de fatos e camisas, e em muitas assimetrias.

Dentro do Pavilhão Carlos Lopes, Constança Entrudo apresentou-se pela primeira vez na passerelle, aos 24 anos, depois de ter estado no WonderRoom na edição passada. Chega pela plataforma LAB, que apoia jovens designers e as suas marcas, e apostou numa colecção completamente unissexo e em que cada um pode ser ele próprio. "Para mim a moda é uma ciência social e a maneira como tu te vestes influência a tua vida", diz.

Constança que se identifica primeiramente como designer textil. Os tecidos foram de facto o mais marcante na sua colecção "Connections": muitos desfiados ou tecidos feitos de um aglomerado de fios por entrelaçar, malhas com torcidos aleatórios e até um top feito de cintos e as suas fivelas.

A primeira inspiração foi o trabalho da artista contemporânea Anne Colliers sobre a forma como todos estamos conectados e o livro Difficult Loves de Italo Calvino, em que uma há uma rede de pessoas apaixonadas, mas nunca correspondidas. Nesta colecção "nenhuma peça se usa apenas de uma maneira" e as criações estão ligadas por exemplo por jóias que resultam de um colaboração com a Colomb d’Humiers.

A completar a tarde, Patrick de Pádua acrescentou cores à sua habitual paleta de pretos e brancos: azul, amarelo, vermelho, laranja e roxo entretam em blazers a fazer conjunto com calções, bombers numa mistura de cor geométrica e silhuetas alongadas a piscar o olho ao  sportsware. Seguiu-se-lhe Aleksandar Protic a sua interpretação das novas gerações brasileiras - o que uma nova força perante as eleições presidenciais e o movimento #elenao. Em sedas, algodão e misturas de seda, viscose e tecidos tecnológicos houve vestidos compridos e fluidos, cheios de pregas, bege cortado por um amarelo fluorescente em pormenores, preto em conjuntos de rede e transparências a criar personagens poderosas na passerelle.

Mesmo antes de Luís Carvalho fechar o sábado, Ricardo Andrez deu espaço a quem vem de fora da terra e estampou marcianos em padrões repetidos ou em grande ao centro de sweats. O verde e roxo vivo extraterrestre - o que quer que isso seja - tomaram o palco em silhuetas oversize ou em macacões operários brilhantes. Domingo a ModaLisboa abandona Marte e regressa a Lisboa para o seu último dia.

 

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