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Celebridades

Marta Gautier - A comédia da vida

Rir é o melhor remédio e no humor Marta Gautier descobriu uma verdadeira fonte de prazer. As mulheres estão no centro do seu universo. Fala delas, das relações e da vida com a propriedade que a psicologia lhe proporcionou. E com imensa piada!

Marta Gautier - A comédia da vida
Marta Gautier - A comédia da vida
29 de agosto de 2012 às 07:37 Máxima

Psicóloga, psicoterapeuta, escritora e agora humorista. Marta Gautier é uma mulher multifacetada. Depois de ao longo dos anos consultarmos os seus livros sobre família e comportamento, e acompanharmos à distância as palestras que dava aqui e ali para orientar pais nas suas relações com os filhos, foi com curiosidade que fomos descobrir esta sua nova faceta: a de stand up comedian.

O seu monólogo cómico Vamos Lá Perceber As Mulheres… Mas Só Um Bocadinho tem-se revelado um sucesso. As sessões esgotam. O público não lhe consegue ficar indiferente, rindo às gargalhadas ao rever-se nos retratos que Marta faz de mulheres, homens e situações do quotidiano. Ela leva a cena com mestria o que vê no seu dia a dia pessoal e profissional. Conduz o público à sua maneira para que este veja os seus dramas e amarguras de um outro ponto de vista, mais leve, irónico e irreverente. Transforma a vida numa comédia e diverte-se com isso. Quer atividade mais séria?

PARA VER AO VIVO

Os próximos espetáculos agendados são:

. Teatro São Jorge (Lisboa) - 10, 17 e 18 de setembro (Esgotado).

. Teatro Confluência (Cascais) - 25 e 26 de setembro.

. Teatro São Jorge (Lisboa) - 10, 17 e 18 de setembro (Esgotado).

É possível entender as mulheres?

Acho que nós próprias estamos nessa luta. Queremos entender-nos porque sentimos alguma escravidão em relação às nossas questões hormonais, que vão variando. Hoje, a nossa filosofia de vida pode ser uma e termos a certeza de que o mais importante é ‘x’ e no dia seguinte tudo muda. Às vezes vivemos um bocadinho zangadas com o facto de não conseguirmos encontrar um denominador comum que nos ajude a orientarmo-nos a nós próprias.

É também com frequência que pensamos uma coisa e dizemos outra. Isso, além de confundir os homens, confunde-nos a nós. E temos um ideal de pessoa que gostaríamos de ser. Muitas vezes respondemos e temos atitudes tentando imitar esse ideal e depois perdemos a nossa própria essência por não estarmos a ser fiéis àquilo que somos. Por vezes temos um bocadinho de vergonha daquilo que somos, da complicação ou das sensibilidades que temos.

http://videos.sapo.pt/BkI9EPavODEECkhZ9kUI

E transformar isso em comédia foi fácil?

http://videos.sapo.pt/BkI9EPavODEECkhZ9kUI

Não foi difícil. Em psicoterapia, a pessoa vai ao consultório porque está a ver uma questão da sua vida de um determinado ângulo. Insiste e não consegue sair desse ângulo. Uma das coisas que a psicologia tenta é mostrar outros lados da questão e levar a pessoa a treinar-se para ver a situação de outro modo. Quando isso acontece há um alívio. Ao levar esta cena ao palco na forma de um monólogo cómico, a minha intenção é que as pessoas vejam a sua realidade de um novo ângulo. Mas atenção: eu não tenho nenhuma intenção pedagógica. Faço isso para me divertir. E depois fico entusiasmada por poder, de uma certa forma, dizer: “Vejam, isso é assim! Não é tão dramático como se pensa.” O humor é uma técnica psicoterapêutica e, apesar de não estar a fazer psicoterapia em palco, ao rirem-se, as pessoas conseguem perceber que, afinal, aquilo que julgavam ser dramas não é assim tanto.

As mulheres estão sempre no centro dos seus trabalhos. Este último livro, Gosto de Ti Assim (ed. Objectiva), por exemplo, tem como ponto de partida uma mulher e o seu diário.

É uma mulher que não se consegue conformar com a fase em que se encontra de há uns anos para cá. Sente que está um bocadinho hipnotizada, que faz as coisas mecanicamente. Tem alguma saudade da alegria e da jovialidade que costumava ter. Então propõe-se escrever todos os dias aquilo que sente e fá-lo ao longo de 30 dias. Com isso, é obrigada a revisitar o seu passado. Muitas vezes temos questões não resolvidas dentro de nós, de infância. Dá para vivermos com uma batota aqui outra ali, sem resolvermos realmente a situação. Quando temos filhos, estes são uma oportunidade para solucionarmos estas questões, pois eles acordam em nós partes que estavam adormecidas. Muitas vezes são as nossas questões interiores que não estão resolvidas.

Andamos muito stressados, cansados e sem tempo – conversa que já não se aguenta. Mas realmente temos de cumprir inúmeras tarefas e, para trás, fica o essencial. É o que acontece a esta mulher do livro. No seu percurso ela acaba por conseguir entender os seus pais e perdoar algumas coisas. Consegue pedir desculpas a si mesma e fazer as pazes com a criança que foi. Mas custa porque para fazer um trabalho desses é preciso olhar para dentro. E isso é para os fortes.

Se tivermos paixão e acreditarmos profundamente no que fazemos, não há erro.

Como é estar sozinha em cima do palco?

Perguntam-me se não é muito cansativo e dizem, muitas vezes, que é preciso coragem para estar sozinha num palco durante quase duas horas! Eu nunca tinha estado num palco. Mas o que acho coragem foram coisas que eu ultrapassei na minha vida sem público. E, portanto, isso não me custa mesmo muito.

Eu não tenho bem a consciência do que se tem estado a passar. Ajuda-me alguma desvalorização daquilo que faço. Acho que as pessoas estão ali por acaso. Depois, há muitos anos que queria ter um espetáculo assim. Nunca me tinha aventurado porque achava que não fazia muito sentido uma psicóloga fazer isso. Mas eu debato-me diariamente com estas questões. No consultório e fora dele. Até principalmente fora. Gosto de pensar nestas questões. Quero ser uma pessoa melhor. Quero entender os homens, perceber se é cliché continuar a chatear-me com eles por causa dos mesmos assuntos. Quero ter essa humildade para perceber e melhorar, não só por mim mas pelos meus filhos. Tem a ver com o amor. O amor é o que movimenta tudo, não é? Mas um dia aventurei-me. Fui fazendo pequenos textos e depois juntei-os. Percebi que eram sobre mulheres. E resolvi levar isto ao palco.

Alguém a orienta tecnicamente?

Eu tirei um curso pequeno na área do humor. Quando acabou, o professor perguntou se eu não queria fazer um espetáculo sozinha. Eu já tinha pensado em fazer, mas quando ele me perguntou isso, claro, foi um mote.

E como foi?

Estava entusiasmada. Acho que a minha vida melhorou e que sou ainda mais feliz agora. Quando mostramos o nosso ponto de vista, seja em que área for, se tivermos paixão e acreditarmos profundamente no que fazemos, não há erro. Mesmo que os outros não concordem, há qualquer coisa que seduz as pessoas na propriedade com que fazemos as coisas. Isso é sedutor porque é o que toda a gente anda à procura: ter coragem para seguir a sua intuição. E eu queria muito fazer esse monólogo, dizer: “Esperem, vejam por este prisma! Estão a ver como os vossos casamentos até podem ser espetaculares e até a relação com os vossos filhos? Não tenham culpabilidade por terem sentimentos ambivalentes em relação a eles, isso é a história de amor!”


Ao expor-se e mostrar a sua visão, é catártico para quem a vê?

É catártico para mim também. Hoje vou atuar e estou contente por isso. Para já, é um desafio enorme dizer uma piada. Depois, se mudarmos uma palavrinha, a piada pode ficar melhor. E isso desafia-me. Há também o facto de eu poder gritar – há um lado meu mais popular que é exorcizado ali. O eu gritar, o eu falar das relações homem-mulher, as pessoas a rirem-se e a comentar excitadas com as outras ao reconhecer que ‘a não-sei-quem’ é assim, tudo me faz pensar: “Caramba, afinal que bom é saber que tinha razão em coisas loucas que pensava e sentia!” Foi uma bênção fazer este espetáculo. Normalmente, as pessoas não têm esta sorte de estar tanto tempo em cartaz. Eu estou desde novembro e não me enjoo do texto porque ele vai ganhando corpo, vou pondo piadas novas e tirando outras. E, agora sim, começo a estar instalada e a gozar aquilo. Isto vai amadurecendo comigo e é bom.

E algum dia vai explicar os homens?

Lá também faço. Há quem diga que é uma sátira às mulheres. Há quem diga que é uma sátira aos homens. Há quem diga que é as duas coisas. Estamos sempre a falar do nosso homem e achamos que estamos a falar só do nosso. “Sabe, é que ele tem muita dificuldade em falar dos sentimentos. Não sei se é daquela mãe ou o quê…”, dizem. Têm todos! Então vamos encarar isso como um facto e parar de ter desgostos atrás de desgostos! Como é que lidamos com isso? Há truques. Em vez de irmos de frente, tem de se tornear. Há mulheres que dizem: “Eu não gosto de fazer jogos. Gosto da verdade.” Hmmm… Isso dá sempre um bocadinho mal. É que há um jogo, uma sedução, um passo à frente, outro atrás. Mesmo os homens que dizem que somos complicadas, se deixássemos completamente de o ser não sei se eles viveriam tão apaixonados. Aliás, em termos de inconsciente masculino coletivo, eles querem conquistar o difícil. Se fôssemos muito claras em tudo não haveria esse interesse, se calhar.

Os psicólogos tendem a ter um excesso de zelo quando saem das quatro paredes dos seus consultórios. A sua atitude é completamente distinta e os seus livros têm um tom menos académico. Porquê esta opção?

Entre os livros de psicologia há muitos que são sobre o que se deve fazer em relação aos filhos, ao casal… Isso é um bocadinho claustrofóbico porque se tenho de fazer isso tudo então não me apetece ser mãe, porque isso pactua com aquilo que a nossa sociedade apressada já está a fazer: exigir que nos esqueçamos de nós mesmos. Prefiro fazer uma abordagem mais livre. Prefiro que as pessoas intuam. Às vezes as pessoas não conseguem perceber muito bem as regras da psicologia e como funciona a mente. O que eu me proponho é fazer um romance que explica as personagens, as suas diferenças e as suas ambivalências, para que as pessoas percebam, na prática, aquilo que às vezes não conseguem compreender. Porque é que uma mulher chora quando aparentemente não tem razão nenhuma para chorar? Porque é que faz A quando queria fazer B? Em vez de explicar teoricamente, assim resulta muito mais. Também é o meu género, também me ajuda, é catártico para mim fazer uma coisa mais na prática.

Realização: Joana Lestouquet e Marina Sousa

Fotografia de Ricardo Lamego

Assistente de fotografia: Ana Viegas

Maquilhagem: Sónia Pessoa

Cabelos: Helena Vaz Pereira para Griffehairstyle

Marta Gautier
1 de 4 / Marta Gautier
Psic?loga, psicoterapeuta, escritora e humorista
2 de 4 / Psic?loga, psicoterapeuta, escritora e humorista
Atualmente com espect?culos no Teatro de S?o Jorge e no Teatro Conflu?ncia
3 de 4 / Atualmente com espect?culos no Teatro de S?o Jorge e no Teatro Conflu?ncia
O mais recente livro de Marta Gautier. ? o di?rio de uma mulher em 30 dias.
4 de 4 / O mais recente livro de Marta Gautier. ? o di?rio de uma mulher em 30 dias.
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