Mankeeping: o fardo invisível que as mulheres carregam para tomar conta dos homens
O termo foi cunhado por uma psicóloga social num estudo publicado em 2024 pela Universidade de Standford. Refere-se ao fardo emocional e social que as mulheres carregam nas relações, sobretudo em torno das conexões sociais dos seus companheiros.

É um conto tão velho como os tempos — e, talvez por isso, esteja tão profundamente enraizado nas dinâmicas dos casais heterossexuais que é preciso vir um termo novo para que dele nos apercebamos. As mulheres passam mais tempo a cuidar da casa e dos filhos, pontos que estão sustentados pelas estatísticas, mas pouco se tem falado da sobrecarga emocional que resulta de tomar conta dos companheiros: lembrá-los de aniversários importantes, de marcar consultas no médico, garantir que não falham com compromissos ou lavar-lhes a roupa.
Mankeeping é o que acontece quando uma mulher se responsabiliza por certas necessidades quotidianas do seu marido ou namorado. Refere-se ao fardo emocional e social que muitas vezes carregam nas relações, sobretudo em torno das conexões sociais dos homens. O termo foi cunhado pela psicóloga social Angelica Puzio Ferrara num estudo publicado pela Universidade de Standford em 2024, entitulado Teorizar o Mankeeping: A recessão das amizades masculinas e o trabalho associado das mulheres como componente estrutural da desigualdade de género.
Um dos pilares deste trabalho é a redução significativa das redes sociais reais dos homens ao longo dos últimos 30 anos. Esta ideia é sustentada por estudos conduzidos na América do Norte e na Europa, que mostram que os sistemas de suporte emocional masculinos tendem a centrar-se na sua relação romântica, com cada vez menos homens a contarem com ligações familiares ou amizades para receberem esse suporte emocional, dependendo, para isso, quase inteiramente das suas companheiras.
Assim, neste estudo, o Mankeeping baseia-se em três ideias principais: as mulheres são responsáveis pelo apoio emocional de homens que não o procuram noutros sítios; a oferta deste apoio é uma forma de trabalho; e as mulheres carregam um fardo no seu tempo pessoal e bem-estar quando este esforço não recebe reciprocidade — um ponto fulcral de todo o conceito.
Na cultura pop, há vários exemplos de Mankeeping. Na série Os Simpsons, Marge é responsável pelas logísticas familiares e, simultaneamente, por garantir que Homer não falha os seus compromissos como pai. É ela quem organiza a agenda familiar e quem, praticamente sozinha, pensa e planeia com antecedência, enquanto cuida de Homer como se de um filho se tratasse. Em Uma Família Muito Moderna, Claire Dunphy parece fazer o mesmo pelos filhos e por Phil, o marido.
Ainda que pudesse argumentar-se que estas mulheres escolhem viver assim, como suportes sociais dos seus parceiros, o verdadeiro problema do Mankeeping é, como escrevíamos acima, a falta de reciprocidade.
Angelica Ferrara, que cunhou o termo, explicou em entrevista ao jornal brasileiro O Globo que as mulheres "tendem a ter vários pontos de apoio aos quais recorrem diante de problemas", enquanto os homens, "na maioria das vezes, recorrem a elas."
Eagan Dean, um dos investigadores do mesmo estudo publicado por Stanford, explica-o da seguinte forma: "O Mankeeping pode parecer-se com uma mulher que organiza o calendário social do seu marido, com comprar postais de aniversário pelo namorado (para os amigos dele), ou com providenciar apoio emocional primário para o seu irmão — sem receber esforço semelhante de volta."

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