A rainha: 70 anos de casamento, 65 de reinado
Isabel II de Inglaterra completa, em 20 de Novembro, 70 anos de casamento com o príncipe Filipe. Uma relação que já conta mais anos do que o seu reinado é o ponto de partida para tentarmos descodificar um pouco do que torna especial esta monarca com uma popularidade crescente.

A noiva encomendou o vestido de casamento menos de três meses antes do enlace. Feito num requintado satin duchesse, bordado com linha prateada e adornado com cristais e cerca de 10 mil pérolas em forma de semente, vindas dos EUA. Sir Norman Hartnell, o costureiro real, criador do vestido, inspirou-se na pintura Primavera, de Botticelli, e disse que queria criar o vestido mais bonito que alguma vez tivesse idealizado. E conseguiu esse feito. Afinal, a cliente do vestido de noiva era a princesa Isabel, a herdeira do trono britânico. O casamento consumou-se em 20 de novembro de 1947, viviam-se o pós-II Guerra Mundial e um período de dura austeridade. "Numa altura em que as restrições de todos os tipos afetam o povo britânico, o casamento real permite-lhe escapar às dificuldades do momento. Muitas inglesas enviaram os seus talões de racionamento de vestuário para a confeção do vestido de noiva. Os talões serão devolvidos aos remetentes, com agradecimentos. Com efeito, o Governo concedeu à noiva uma centena desses preciosos cupões para a constituição do seu enxoval." Assim conta Marc Roche (Bélgica, 1951), jornalista correspondente permanente do jornal Le Monde, em Londres, no seu livro Isabel II ? Uma Vida, Um Reino (Editorial Presença, 2016). A viver em terras de Sua Majestade desde 1985, especializou-se em dois temas: a City e a monarquia britânica.
Ao fim de 70 anos de casamento, celebrados em novembro deste ano, a rainha Isabel II e o príncipe Filipe já viram a sua história de amor contada, vezes sem conta. Conheceram-se, pela primeira vez, em 1939. Filipe tinha 18 anos e era aluno no Colégio Naval de Dartmouth e a então princesa Isabel tinha 13 e estava com os pais que tinham ido passar revista aos cadetes. Nos anos que se seguiram, muito aconteceu nas vidas de ambos e a II Guerra Mundial foi uma dura realidade na qual os dois tiveram papéis ativos. O pedido de mão aconteceu em 1946, como descreve Roche, "numa colina romântica que domina a charneca escocesa". E acrescenta: "Ela aceita sem pedir autorização ao rei. Trata-se do primeiro e único ato de rebeldia de Isabel contra os pais que se curvam perante a vontade da primogénita. Para desposar a futura rainha de Inglaterra e do Império, Filipe renuncia à nacionalidade grega e aos seus antigos títulos nobiliárquicos." Isabel e Filipe são ambos trinetos da rainha Victoria (a avó da Europa, como é carinhosamente lembrada) e ele, príncipe da Grécia e da Dinamarca, teve de mudar de religião para se casar. Na véspera do casamento, o rei torna-o Duque de Edimburgo e Alteza Real, um estatuto que até o adorado marido da rainha Victoria demorou 17 anos a conquistar. Tudo a postos para um dos casamentos do século e, provavelmente, um dos momentos-chave da história do Reino Unido. Na série The Crown, a cena do casamento demorou cinco dias a ser rodada e foi encomendada uma réplica do vestido da noiva, no valor de cerca de 33 mil euros, que demorou sete semanas a ser feita. Na verdade, este casamento já conta mais anos do que o próprio reinado da rainha e estamos a referir-nos à monarca com o reinado mais longo daquele país, mais precisamente 65 anos completados em fevereiro deste ano.

Em maio, foi anunciado que o Duque de Edimburgo (patrono, membro e presidente de mais de 780 organizações, segundo o site da família real) deixaria de ter compromissos públicos a partir deste outono. A rainha, com 91 anos (menos cinco do que o príncipe consorte), mantém-se estoica no desempenho das suas funções. E com uma popularidade crescente. O que é que a torna especial? "Creio que é considerada especial porque todos crescemos com ela. Claro que ainda há pessoas que se lembram do pai, o rei Jorge VI, e eu sou uma delas, pois tinha 12 anos quando o rei morreu, em 1952. Mas a rainha tem estado sempre na linha da frente em tempos de tragédia, em tempos de celebração e em representação do Reino Unido como nação do palco do mundo. Isabel II viu presidentes, papas, chefes de governo, assim como déspotas e ditadores virem e irem e sobreviveu a todos com a reputação em alta." Assim declarou à Máxima Dickie Arbiter, antigo assessor de imprensa e porta-voz da Família Real Britânica, entre 1988 e 2000. Esteve presente no annus horribilis de 1992 e na organização do funeral da princesa Diana, em 1997. "A rainha é, de longe, a chefe de estado melhor informada porque está no cargo há mais de 65 anos. E a fazer um trabalho de que não vai desistir, até ao seu último suspiro. Enquanto os governos vêm e vão, a rainha teve 13 primeiros-ministros durante o reinado e dá o que o povo do Reino Unido precisa: continuidade e estabilidade. A popularidade crescente deve-se à sua entrega ao dever, à sua longevidade no cargo e porque é tudo o que a maioria das pessoas do Reino Unido conhecem."
A coroação de Isabel II, a 2 de junho de 1953, foi a primeira de sempre a ser transmitida pela Televisão e cerca de três milhões de pessoas juntaram-se, nas ruas de Londres, para a saudar. Em 2012, o público que se juntou nas margens do Tamisa ascendeu a mais de um milhão de pessoas para ver o desfile de embarcações que assinalou o Jubileu de Diamante da rainha, num dia em que até o tempo inglês seguiu a tradição, por ter sido cinzento e chuvoso. A rainha de Inglaterra é uma das raras pessoas que arrasta multidões, na atualidade, e, provavelmente, constitui-se como o último ícone vivo do século XX. Mantém-se a figura central de pesadas tradições, como por exemplo a Abertura de Estado do Parlamento (que remonta ao século XIV) e a Trooping the Colour, a cerimónia que celebra o aniversário oficial da rainha e é executada pelos regimentos da armada britânica e da Commonwealth (uma tradição desde o século XVII), mas fez questão que a Internet fosse usada como meio para dar informação sobre a família real ao seu povo. Arbiter trabalhou de perto com a rainha e, quando decidiu pôr as suas memórias no livro Ao Serviço de Sua Majestade (Vogais, 2014), não podiam faltar episódios como aquele em que a rainha o convidou para um piquenique em Balmoral, na Escócia, e no fim dividiu com ele a tarefa de lavar a loiça. E esclarece-nos: "A rainha é normal, praticamente. Faz o que a maioria das pessoas faz, ou seja, janta com a família quando eles estão por perto, gosta de passear, particularmente com os seus cães, e continua a montar a cavalo quando está no castelo de Windsor. Vê televisão, ouve rádio e tem um iPod. Quando não está em serviços oficiais, gosta de passar tempo ocioso como qualquer pessoa." Isabel II é, inevitavelmente, moldada não só pelo protocolo e pelo sentido de Estado que o cargo exige como também pela sua própria personalidade. Perante uma figura com tanta exposição pública é inevitável que a curiosidade do público se concentre também na sua vida em privado. Há elementos que cruzam os dois universos, como o famoso código das carteiras de mão (sempre fiéis à marca Launer, tal como Margaret Thatcher ou a Duquesa da Cornualha) que Dickie Arbiter descodifica: "A rainha usa a carteira na curva do braço esquerdo. Quando está na rua, indica que é altura de continuar [a andar], trocando a carteira para o braço direito. Põe a carteira no chão quando está sentada e quando é altura de se mexer ou sair, pega nela." E há pormenores de uma vida privada que só sabemos quando partilhados por membros do staff, como hábitos e gostos culinários como Darren McGrady fez. Chef real, trabalhou nas cozinhas do palácio durante 11 anos e contou, numa entrevista ao site da Marie Claire americana, pequenas curiosidades como o facto de a rainha gostar muito de chocolate preto, de não suportar alho e ainda de comer ao pequeno-almoço cereais Kellogg’s num recipiente de plástico e de beber chá Darjeeling (com origem na Índia). Ou ainda que em Balmoral o príncipe Filipe faz grelhados ao ar livre e a rainha come fruta de uma Tupperware amarela. Há também a possibilidade de se visitar a casa da rainha, ou seja, o Palácio de Buckingham. A residência oficial de Isabel II e do príncipe Filipe que abre ao público durante um período de tempo durante o verão. E com o lançamento do livro de Angela Kelly, assistente pessoal, conselheira e curadora da rainha, lançado em 2012 a propósito do Jubileu de Diamante, Dressing the Queen: The Jubille Wardrobe (Royal Collection Trust, 2012), é possível também fazer uma visita ao guarda-roupa de Isabel II. A autora leva-nos pelo piso onde é tratado o guarda-roupa da rainha e explica como tudo é feito: das ilustrações às provas que duram cerca de meio-dia e são acompanhadas de quatro ou cinco pessoas, até ao dia em que uma roupa vai ser usada e o look é completado com pregadeiras, carteira, sapatos, luvas e écharpe. E há, claro, um exaustivo registo de tudo o que a rainha usou em cada ocasião. Arbiter esclarece que "a rainha sempre usou cores fortes, não apenas para o público a poder ver melhor mas porque ela sempre gostou – creio que se tornaram mais fortes desde a morte da rainha Isabel, a rainha-mãe, em março de 2002, mas a escolha sempre foi dela e não por outro motivo qualquer".
No ano passado, o Reino Unido celebrou o 90.º aniversário da rainha com tanta euforia como se de um jubileu do seu reinado se tratasse. Reinaldo Herrera, colaborador da Vanity Fair americana e marido de Carolina Herrera, foi convidado da rainha em situações informais e partilhou memórias num artigo para uma edição especial da revista em celebração deste aniversário, em 2016. A mesma edição para a qual a fotógrafa Annie Leibovitz retratou a rainha no Castelo de Windsor num ambiente íntimo, com a família e com os seus cães, bem diferente das fotografias com ar institucional que já havia juntado as duas, em 2007. "Quando se fala sobre ‘a rainha’ não há necessidade de dizer de que país", diz Herrera e acrescenta: "Ela nunca se explica, nunca se defende, nunca se desmistifica. Esta austeridade e esta distância fizeram de Inglaterra o único país realmente real porque ela manteve a mística da monarquia e os princípios da democracia. A rainha pública pertence-nos a nós, a rainha privada pertence à família dela." Este ano cumprem-se 100 anos da dinastia de Windsor, começada pelo avô da rainha, Jorge V, em 1917. Perante uma altura da História em que se vivia um clima anti-alemão, o rei decidiu mudar o nome da dinastia de Saxe-Coburg-Gotha para Windsor, o nome do local onde viviam e do castelo que faz, como nenhum outro, parte da história da monarquia britânica, já que as suas nove dinastias estão, de certa forma, ligadas a ele. Apesar de uma longa e rica história, de palácios, de joias e da tradição do chá, a herança alemã na família real continuava muito presente através do nome e assim começou a dinastia que, hoje, reconhecemos como o mais representativo ícone desse país. Este ano foi também anunciado que os Duques de Cambridge esperam o seu terceiro filho (sexto bisneto da rainha) e avizinha-se a euforia de mais um bebé real por parte de um povo em festa com a sua monarquia. Como será o futuro da monarquia? Arbiter diz que "a instituição da monarquia funciona no Reio Unido e sim, há murmúrios de tempos a tempos de quem tem inclinação republicana, mas a grande maioria favorece o status quo, a monarquia, e, a não ser que haja uma revolução, o que é altamente improvável, a monarquia irá sobreviver ao século XXI e além dele". E garante que o futuro está assegurado por, pelo menos, mais três gerações: o príncipe Carlos, herdeiro há longas décadas, depois o príncipe William e, de seguida, o filho deste, o pequeno príncipe Jorge que, com quatro anos de idade, já é um fenómeno de popularidade. Quem sai aos seus…


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