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Celebridades

Uma princesa diferente

Atenção, seguidores da realeza! Já começou a contagem decrescente para o casamento do príncipe Harry e Meghan Markle.

Foto: Alexi Lubomirski
19 de abril de 2018 às 10:00 Carolina Carvalho

Quando um casal de ogres selou a sua história de amor na mais popular saga de animação dos últimos tempos em Shrek, em 2001, o conceito quase sagrado do que um conto de fadas deve ser ruiu ao som de muitas gargalhadas. Na animação, a revolução dos contos de fadas é notória nas últimas duas décadas, mas na vida real ela também está em curso, há já muito tempo, embora a um ritmo, talvez, mais burocrático. Os príncipes até podem continuar a ser mais encantadores do que encantados, mas já percebemos que cabe às princesas redefinir os estereótipos instalados. Uma tendência que o mais recente noivado real não só confirma como promete fazer história. E já está a fazer. Mas talvez o facto de Meghan Markle não ser caucasiana não seja propriamente uma novidade, já que há historiadores que defendem, através do estudo da linhagem e do retrato oficial, que a rainha Charlotte (1744-1818), mulher do rei Jorge III (1738-1820) de Inglaterra e mãe dos 15 filhos daquele soberano, tinha ascendência africana por ser descendente do rei português Afonso III (1210-1279) e da sua amante, Ouruana, uma princesa moura de tez tão escura que se acreditava ser negra.

Mas voltando ao século XX. Entre o anúncio do noivado da rainha Isabel II com o príncipe Filipe e o do neto destes, o príncipe Harry, com Meghan passaram 70 anos. O primeiro foi feito pelos reis e pais da atual rainha, através da Court Circular, a fonte de comunicação oficial real que, assim, fazia chegar a informação aos meios de comunicação social. O segundo foi feito através do Twitter. Em apenas 97 carateres e com o tradicional comunicado a acompanhar, Clarence House anunciou que haverá um casamento real na próxima primavera. Em 1947, para que os súbditos vissem o anel de noivado da então princesa herdeira Isabel foi preciso esperar pela divulgação da fotografia oficial do noivado, tirada no Palácio de Buckingham e a preto e branco, obviamente. Para que se pudesse ver o anel de Meghan foi preciso esperar algumas horas para se realizar uma aparição dos noivos nos jardins do Palácio de Kensington, seguida de uma entrevista televisiva. Uma vez que o famoso anel de noivado da princesa Diana transitou para o dedo da duquesa de Cambridge, coube ao noivo a difícil tarefa de tornar este anel uma peça especial e assim fez. Com três diamantes, dois da coleção da princesa Diana e, entre estes, um de tamanho maior proveniente do Bostwana, país onde ambos se apaixonaram sob as estrelas, o príncipe Harry coroou a sua apaixonada como a próxima noiva real. Mas Meghan Markle promete ser (e já é) muito mais do que isso. O tempo em que os membros da realeza tinham de escolher noivas e noivos entre o restrito meio nobiliárquico para defender todo o tipo de alianças, das políticas às comerciais, já lá vai.

Algumas das rainhas e princesas mais populares da atualidade eram plebeias que construíram o seu próprio conto de fadas, bem como uma vida bem mais próxima da realidade dos seus súbditos do que a da família real que as adotou. No início da década de 1980, quando o príncipe Carlos procurava uma noiva, a escolha ficou espartilhada pelo conservadorismo e tradicionalismo da monarquia britânica que procurava a candidata perfeita e, embora a princesa Diana se tenha tornado a mais popular princesa de sempre, o seu conto de fadas não teve um final feliz. Hoje, os tempos são outros. Talvez os erros do passado tenham ajudado a pensar melhor o futuro e se é a coroa que dita as regras do jogo, é o coração que escolhe quem joga. Ao contrário dos duques de Cambridge e do seu namoro de quase uma década, o príncipe Harry pediu Meghan Markle em casamento, um ano e meio depois de se conhecerem. Viveram os primeiros seis meses da relação em privacidade, mas os restantes sob o olhar curioso da imprensa que começou a "farejar" a vida da potencial noiva real.

Tal como o príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederico, que conheceu a advogada australiana Mary Donaldson durante os Jogos Olímpicos da Austrália, em 2000 (também o rei Carlos Gustavo da Suécia conheceu a mulher, então Sílvia Sommerlath de Toledo, durante as Olimpíadas de Verão de 1972, em Munique, quando a mesma trabalhava no Comité Organizador dos Jogos como tradutora e hostess), e o príncipe Guilherme da Holanda (atual rei), que se apaixonou pela economista argentina Maxima Zorreguieta, o príncipe Harry descobriu a sua princesa numa terra distante.

Embora o casal se tenha conhecido em Londres, através de amigos em comum, Meghan é norte-americana e viveu em Toronto durante os últimos sete anos, devido à rodagem da série Suits, na qual contracenava. Mas no que diz respeito a procurar informação, a distância física das raízes e da vida quotidiana da atriz foram compensadas pelo blogue que criou (The Tig, entretanto encerrado) e pela conta de Instagram aberta ao público. E o facto de ser americana ainda dá um brilho mais reluzente ao conto de fadas. E não se trata da relação especial entre os EUA e o Reino Unido. Alice Heine foi a primeira americana a casar com um soberano reinante europeu, o príncipe Alberto I do Mónaco, em 1889, e escreveu o primeiro capítulo de uma história de princesas americanas, como a mais cinematográfica e icónica de todas, Grace Kelly, que atravessou o Atlântico para se tornar Sua Alteza Sereníssima desse mesmo principado, a rainha Noor da Jordânia ou a princesa Marie-Chantal da Grécia. Ser princesa bem podia já ter o seu espaço no sonho americano.

Meghan já foi casada, nomeadamente com o produtor de Hollywood Trevor Engelson, tendo-se divorciado em 2013. A última vez que uma americana divorciada se aproximou da família real britânica a instituição tremeu (o rei Eduardo VIII abdicou por amor a uma americana, a divorciada Wallis Simpson), mas não se desmoronou, até se redefiniu e hoje o noivado real tem a bênção da rainha Isabel II e, até, dos seus cães de raça corgi que, segundo o príncipe Harry contou, com grande surpresa, se sentaram aos pés de Meghan (também ela dona de dois cães, Guy e Bogart) quando a levou a tomar chá com a rainha, pela primeira vez. Se na História fica escrito o nome de Wallis Simpson e também o episódio em que a princesa Margarida não se pôde casar com o seu primeiro grande amor por este ser um homem divorciado, ficará também o nome de Letizia de Espanha que, tal como Meghan, se apresentou aos seus futuros súbditos com um currículo que contava com uma carreira profissional em ascensão e um divórcio.

Enquanto a rainha de Espanha, depois da contestação de alguns, acabou por ser considerada a salvação da monarquia no seu país, perante os mais recentes escândalos, Ms. Markle conquistou rapidamente a opinião pública. No passado parecem estar enterrados os motivos que levaram o príncipe Harry a pedir em comunicado que a imprensa deixasse a sua namorada em paz. Entre estes está uma das questões que levantou mais controvérsia sobre Meghan: o facto de ela ser filha de uma mãe negra e de um pai branco (já separados), Doria Raglan, assistente social e instrutora de yoga, e Thomas Markle, diretor de iluminação para televisão. O príncipe já fez questão de dizer que adora a sua futura sogra e, com os preparativos do casamento, o tema parece já não ser relevante. Também no ano 2000, quando o príncipe herdeiro da Noruega, Haakon, ficou noivo de Mette-Marit, a escolha causou alguma controvérsia e entre os motivos estava o facto de esta ser mãe solteira do pequeno Marius, de três anos, mas o príncipe manteve-se fiel ao seu coração. Afinal, até onde é que o passado de uma princesa a impede de ser bem-sucedida no seu papel?

Ao contrário da Cinderela que perdeu o sapatinho de cristal perante um rígido horário de magia e a pressão de um baile real, Meghan Markle chegou à apresentação pública do seu noivado com os sapatos Aquazzura bem apertados e com a segurança de uma mulher de 36 anos (mais três que o seu noivo) que lutou pelas suas conquistas. Aos 18 anos deixou a sua Califórnia natal e partiu para o Illinois onde se licenciou na Northwestern University, completando a educação com mais duas graduações, uma em teatro (permitiu-lhe seguir a paixão da representação) e outra em relações internacionais (que a levou até à Argentina para trabalhar na Embaixada nas Nações Unidas).

Mantém-se ligada a causas sociais e é embaixadora da World Vision, uma organização que ajuda crianças. Os noivos garantem que a filantropia é um dos laços mais fortes que os une desde o início da relação. Assim conta a noiva na edição de outubro de 2017 da Vanity Fair americana, da qual foi capa com um longo artigo. A People já fez capa com os novos noivos reais, pelo menos duas vezes desde o anúncio do noivado, e a edição britânica da Hello! considerou Meghan a mulher de 2017.

À aprovação da imprensa "cor-de-rosa" junta-se também a da moda porque, seguindo as pisadas de Kate Middleton, a futura duquesa já é um sucesso de vendas e pode muito bem ter acabado de nascer um novo ícone de estilo. A carteira Strathberry que usou no primeiro ato oficial com o príncipe (e primeiro banho de multidão, em Nottingham) esgotou em 11 minutos, o vestido Ralph & Russo com top transparente e saia de folhos que usou nas fotografias oficiais do noivado conquistou só pela ousadia e o chapéu Phillip Tracy que usou na missa de Natal foi a cereja no topo de um privilégio só seu, já que o Natal da família real está, normalmente, reservado apenas a membros da mesma (nem Kate Middleton teve semelhante convite na quadra que antecedeu o seu casamento) e Meghan não foi educada na religião anglicana.

Também o próprio noivado já se revela um negócio de números redondos. Segundo a Agência Reuters, estima-se que o casamento real possa dar um "empurrão" de cerca de 500 milhões de libras na economia do Reino Unido, sendo 200 desses milhões esperados do turismo. O casamento dos duques de Cambridge, em 2011, provocou um aumento de 350 mil turistas no Reino Unido e em Windsor (onde se vai realizar a próxima boda) o maior número de visitantes é proveniente dos Estados Unidos, por isso sendo a noiva real americana é expectável que esta tendência se acentue ainda mais.

Há que juntar as festas temáticas que o momento inspira e respetivas celebrações e ainda os tradicionais "recuerdos". A data está marcada para 19 de maio e o local já está escolhido. A St. George’s Chapel, no Castelo de Windsor, será o palco do casamento real e já foi o local de importantes episódios recentes da vida da realeza britânica, como, por exemplo, o batizado do príncipe Harry, em 1984, ou o casamento do príncipe Carlos com Camilla Parker Bowles, em 2005. Este é o local onde a família real se despediu de membros reais, como os pais da rainha Isabel II e a princesa Margarida, e onde darão as boas-vindas ao seu mais recente membro. Uma igreja que celebra 490 anos para um casamento do século XXI que quebra tantos tabus. Ou não fosse esta uma história encantada de contrastes na era das redes sociais.

Príncipe Harry e Meghan Markle
Foto: Getty Images
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O anúncio oficial do noivado nos jardins do Palácio de Kensington, a 27 de novembro de 2017
Foto: Getty Images
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Os duques de Cambridge e os noivos na missa de Natal da família real
Foto: Getty Images
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Os noivos no primeiro ato oficial conjunto, em Nottingham, a 1 de dezembro
Foto: Getty Images
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Meghan e o príncipe Harry nos Invictus Games Toronto 2017
Foto: Getty Images
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O casal com a mãe de Meghan, Doria, nos mesmos Invictus Games
Foto: Getty Images
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A tradicional fotografia real na varanda do Palácio de Buckingham, à qual Meghan se juntará, em breve
Foto: Getty Images
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Meghan com a atriz Kerry Washington, em Nova Iorque, em 2013
Foto: Getty Images
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Meghan com os colegas do elenco da série Suits, num desfile em Nova Iorque, em 2012
Foto: Getty Images
9 de 10 / Meghan com os colegas do elenco da série Suits, num desfile em Nova Iorque, em 2012
Meghan com o CEO do estúdio Electus num jantar de entrega de prémios da Anti-Defamation League Entertainment Industry, em 2011
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10 de 10 / Meghan com o CEO do estúdio Electus num jantar de entrega de prémios da Anti-Defamation League Entertainment Industry, em 2011
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