A relação com a mãe era difícil. Com a irmã, quase impossível. Morreram as duas este fim-de-semana, no mesmo dia, de acordo com um comunicado enviado por Mariah Carrey à revista People, e no qual não divulgou as causas de morte ou sequer se as duas estão relacionadas, ou se foram obra de um acaso tortuoso. E, no entanto, lendo as suas palavras, é possível intuir que talvez a mãe da cantora estivesse doente. "Sinto-me abençoada por ter podido passar com a minha mãe a sua última semana de vida", confidencia a cantora.
"Tenho o coração partido porque perdi a minha mãe no fim-de-semana passado. Infelizmente, num trágico desenrolar dos acontecimentos, a minha irmã perdeu a vida nesse mesmo dia", informou Carey, deixando no ar mais perguntas que respostas.
Não obstante a gratidão que sente por ter podido passar com a mãe os seus últimos dias de vida, era sabido que a relação entre as duas era tensa e complexa. Patricia, a mãe de Mariah, era uma cantora lírica e professora de canto, formada pela prestigiada universidade Julliard. Foi dela que Mariah herdou as capacidades vocais, provável motivo da fricção entre as duas.
"Como muitos aspectos da minha vida, a minha relação com a minha mãe foi cheia de contradições e realidades concorrentes. Nunca foi apenas a preto e branco, mas um arco-íris de emoções", escreveu a cantora nas suas memórias, The Meaning of Mariah Carey, publicadas em 2020. "A nossa relação é motivo de orgulho, dor, vergonha, gratidão, ciúme, admiração e desilusão", continuou Mariah no livro. "Um amor complicado prende o meu coração ao da minha mãe."
Triste, certamente, mas nada de inaudito. Quantas outras mulheres não poderão dizer o mesmo sobre as relações com as suas mães. Embora um talento estratosférico, como o de Mariah, seja, de facto, uma variável complexa na vida pessoal e familiar. Uma benção e uma maldição.
A relação com a irmã, Alison, parece ter sido ainda mais dramática, abusiva e traumática, ao ponto de a cantora confessar, no seu livro, que era "emocional e fisicamente mais seguro não ter qualquer contacto", tanto como com o irmão, Morgan. Na sua autobiografia, Mariah diz o seguinte sobre a irmã: "Ofereceu-me uma unha do dedo mindinho cheia de cocaína, infligiu-me queimaduras de terceiro grau e tentou vender-me a um chulo". Também disse que quando começou a ficar famosa os irmãos a viam como "uma caixa multibanco" – deplorável, mas menos perturbador.
Na sequência da publicação destas memórias, os dois irmãos processaram Mariah Carey por difamação e por lhes infligir sofrimento emocional de forma intencional. Na documentação que fez chegar ao tribunal, Alison – a irmã do meio, seis anos mais velha que Mariah, e dois anos mais nova que Morgan, o mais velho dos irmãos – disse que tinha ficado "permanente e profundamente" traumatizada, fruto de uma infância de abusos em que a mãe "a forçava" a assistir a cultos satânicos, incluindo a "rituais de sacrifício". Acrescentou que as memórias que a cantora publicou são todas "falsas" e exigiu uma compensação de 1,25 milhões de dólares porque, diz, os filhos a "abandonaram" depois de terem lido o livro, o que fez com que ela tivesse uma recaída no consumo de álcool, depois de anos de alegada sobriedade, e que, para além disso, o livro lhe tinha causado stress pós-traumático, depressão e ansiedade.
De acordo com a agência Reuters, "uma juíza de Nova Iorque rejeitou a maior parte de um processo por difamação movido pelo irmão mais velho de Mariah Carey [...] embora Mariah ainda tenha de enfrentar duas acusações. [...] Morgan Carey pode processar a sua irmã por trechos que sugerem que ele distribuía cocaína a 'as pessoas bonitas' e que dão a entender que ele poderia ter estado 'no sistema' – na prisão – por um crime grave."
Já o caso de Alison contra a irmã continuava a decorrer à data da sua morte.