Atriz, estudante de gestão e modelo, Joana Aguiar dá cartas na televisão e no cinema portugueses. Por aqui, mostra um lado mais camaleónico que tanto aprecia na profissão, e uma atitude edgy que não se disfarça: ou se tem, ou não se tem.
Sequence 04.mp4
28 de setembro de 2020 às 08:20 Rita Silva Avelar
De expressão ligeiramente ingénua e sedutora, Joana Várzea Aguiar é difícil de decifrar: será mais doce e feminina, ou é dotada de um espírito mais rebelde e enigmático? Talvez os dois lados coexistam na sua personalidade. A atriz lisboeta, de 22 anos, começou o seu percurso na Moda e revela que foi precisamente isso que moldou a sua visão sobre o mundo das Artes e da representação em particular. "Ter esse primeiro contacto com a área fez com que eu percebesse que a Moda é muito mais do que aquilo que podemos ver, o facto de ter um lado interpretativo, ficcional e criativo fez com que eu quisesse descobrir ainda mais sobre esta vertente" conta, acrescentando que o sonho de ser atriz "nasceu de um processo, creio que a fazer castings para publicidade. Comecei a perceber mais sobre representação, a ter interesse na área, a fazer workshops e acabei por ter realmente a certeza de que queria continuar por cá, quando participei na novela Mar Salgado.
Entre outros projetos, Joana, que tem uma irmã gémea na mesma área e com um percurso semelhante, Inês Aguiar, menciona a série televisiva Onde Está Elisa?, que estreou há dois anos, como um dos seus trabalhos preferidos até ao momento. "Tenho tido a sorte de criar ótimas relações profissionais e pessoais com os atores e equipas e acho que aí também tiramos muito do lado cool que se procura nesta área. No fim de tudo, volto sempre a dizer o mesmo cliché, mas que é totalmente verdadeiro, para mim: todos os projetos são muito especiais e por isso é muito difícil eleger os melhores" revela, sobre o seu percurso na televisão que começa com a telenovela Mar Salgado, em 2015, mas também inclui A Única Mulher, e agora Nazaré. No cinema, surpreendeu em O Fim da Inocência (2017) de Joaquim Leitão, ao lado de Oksana Tkach, e em Leviano (2018) de Justin Amorim. Fará ainda parte do elenco de A Crónica dos Bons Malandros, ainda em filmagens, uma série da RTP com nomes como Maria João Bastos ou Lúcia Moniz.
Tal como qualquer ator, Joana também adora a "vertente camaleónica da interpretação" revela. "O facto de poder vestir a pele de pessoas diferentes, de encontrar traços de personalidade que diferem dos meus e de agarrar uma personagem ao ponto de me sentir confortável para lhe dar vida, durante a concretização de um projeto inteiro, é um desafio que me dá muito gozo. Aspersonagens deixam muita saudade, os trabalhos deixam saudade, por toda a dinâmica, pelas pessoas que se cruzam no processo e por todo o esforço e trabalho de equipa que existe na criação da personagem" explica.
De pés bem assentes na terra, não é fácil deslumbrar-se, ainda que seja um dos jovens talentos femininos do momento. "Acho que tudo depende da forma como lidamos com a profissão. Depende se prestamos ou não atenção aos fatores realmente importantes. Acho que sempre tive os pés bem assentes na terra, sempre lidei com a minha profissão como outra qualquer. Além disso, procuro ter objetivos bastantes bem definidos na minha vida e tenho a sorte de ter uma estrutura familiar fantástica que é, sem dúvida, uma parte fundamental em todo o processo."
Além da moda e da representação, a atriz estuda Gestão. "É uma área de interesse minha, mas é, sem dúvida, um plano B. Só pela segurança de o ter e pelo conhecimento que adquiri, mas tenciono dedicar-me a 100% à representação, quero, aliás, fazer mais formações em Portugal e fora, ainda este ano, se possível" conta, e acrescenta que, tal como uma rapariga da sua idade, gosta de "ir à praia, de apreciar um bom por do sol, ir ao cinema, de estar com os meus amigos, mas, acima de tudo, de passar tempo com a minha família e pessoas mais próximas. Ler, viajar e ver séries. As minhas grandes paixões são, sem dúvida, a representação, o Cinema e a minha família."
Numa altura em que as "suas" indústrias, a da moda e a do cinema, estremecem devido à pandemia e à incerteza dos apoios à Cultura, também ela tem uma palavra a dizer. "Existem muitas iniciativas nos dois setores, mas, a meu ver, todas elas são fruto do trabalho de milhares de pessoas que amam e vivem a Cultura e as Artes, não atribuo ao Estado nenhuma das valências anteriores. Aliás, todos nós temos acompanhado a precariedade do setor das Artes e da Cultura no nosso país, não acontece só na representação. Em tempos de pandemia, tudo o que de mau já existia veio agravar-se" lamenta, acrescentando ainda que "a falta de apoios e estímulos por parte do Estado preocupam qualquer pessoa que esteja atenta à área e que perceba a importância deste setor (….) É preciso que ele seja apresentado como algo importante e com a dimensão que tem na construção da identidade de um país. Um país sem Cultura não vive, é pobre e em nada contribui para esta bolinha onde todos vivemos, que é o mundo."