Patrícia Fisas: “Em vez de irem ao psiquiatra, que venham a um gabinete de estética”
Em Portugal para celebrar os 25 anos da linha Diamond, Patrícia Fisas falou-nos sobre a origem improvável da Natura Bissé, as inovações que moldam a marca hoje e por que um ritual de massagem pode ser mais promissor do que uma sessão de terapia.
Fundada em Barcelona em 1979, a Natura Bissé nasceu graças ao olhar atento de Ricardo Fisas: o efeito regenerador do colagénio nas mãos dos colaboradores da fábrica de processamento de aminoácidos onde trabalhava despertou-lhe a curiosidade. Daí ao primeiro creme foi um salto ousado.
Quatro décadas depois, a marca é uma referência no setor da cosmética de luxo e está presente em mais de 75 países com uma abordagem que alia ciência, sensorialidade e um forte espírito familiar.
A Diamond Collection, criada em 2000, tornou-se a linha mais conhecida da Natura Bissé. O seu segredo? Uma fórmula que combina nutrição, proteção e ativação da pele com base nas propriedades da Artemia salina, um microrganismo marinho com efeitos energizantes a nível celular.
Desde 2016, a marca mede o nível de bem-estar em cada etapa dos seus protocolos de massagem – usando ondas cerebrais, biomarcadores e realidade virtual – para garantir resultados mensuráveis. “Se melhorarmos um pouco em cada passo, no fim temos um protocolo excelente”, explicou Patrícia Fisas, filha do fundador da Natura Bissé. Os estudos confirmam: um aumento de 67 por cento no bem-estar após cada tratamento. Um luxo que vai além da pele.
A Natura Bissé tem uma longa história e uma forte tradição. Pode falar-nos sobre as origens da marca?
A Natura Bissé nasceu em Barcelona, em 1979, e é uma empresa familiar criada pelos meus pais – este ano celebramos 45 anos de trajetória.
A história começou quando, nos anos 1970, o meu pai era diretor-geral de uma empresa que processava aminoácidos de colagénio e elastina para ração e nutrição animal e reparou num aspeto curioso: as mãos dos operários que manipulavam esses compostos eram muito suaves e delicadas.
Com a crise económica em Espanha, a empresa faliu e, aos 50 anos, o meu pai viu-se com quatro filhos e sem emprego. Foi nesse momento que percebeu que teria de se reinventar. Com todo o conhecimento acumulado sobre o uso de aminoácidos de colagénio e elastina, juntou-se a um amigo químico e outro dermatologista, em Barcelona, e começaram a investigar os benefícios desses aminoácidos na pele.
Fizeram um teste com dois cremes: um com aminoácidos de colagénio e elastina para pele seca e outro com aminoácidos naturais livres de queratina para pele oleosa. Foi feito um estudo duplo-cego no hospital Vall d’Hebron, no qual aplicaram o produto numa metade do rosto e um placebo na outra. Os resultados foram surpreendentes: a hidratação, elasticidade e regeneração da pele melhoraram significativamente nos casos de pele seca e, nas peles oleosas, conseguiu-se um controlo eficaz do sebo.
Inicialmente, o meu pai pensou em comercializar o princípio ativo em vez do produto final, mas os seus colaboradores convenceram-no de que o ideal seria vender o produto acabado. Assim, num contexto em que o colagénio começava a ser tendência, lançaram cinco cremes dirigidos ao setor de spa – porque o meu pai acreditava que a esteticista, que conhece profundamente a pele dos seus clientes, era a pessoa ideal para avaliar o produto – e, desses cinco, três ainda estão no mercado após todos estes anos.
A marca está na segunda geração familiar. Como é que o legado familiar influencia a visão e os valores da Natura Bissé hoje? Quais são os maiores desafios e sucessos desta transição geracional?
A herança familiar é a alma da Natura Bissé. Desde os seus primeiros passos, os meus pais incutiram-nos valores fundamentais, como a paixão pelo que fazemos, a responsabilidade e a integridade. Ensinaram-nos a trabalhar com cuidado e a não ter pressa: na Natura Bissé preferimos crescer de forma sólida e gradual, sem “colocar bandeirinhas” em muitos países, mas penetrando bem em cada mercado.
E esses valores estendem-se ao modo como tratamos a nossa equipa. Na empresa, promovemos a proximidade e o reconhecimento pessoal; por exemplo, lembramo-nos dos nomes, festejamos os aniversários e organizamos atividades de team building para fortalecer laços. Este aspeto não só humaniza a relação com os colaboradores, como também se reflete nas relações com os nossos parceiros, distribuidores e clientes, gerando vínculos de longo prazo.
A transição para a segunda geração – agora somos cinco – foi um grande desafio, mas também um sucesso. Desde que o meu pai se afastou, mantivemos o estilo, a elegância e a sensibilidade pelas pessoas que caracterizam a marca desde sempre. Aprendemos a vender aquilo de que o cliente precisa, sem pressionar, permitindo que a qualidade do produto fale por si.
Em suma, o legado familiar continua a marcar a nossa visão e estratégia, tornando a Natura Bissé uma empresa com uma identidade coerente e uma ligação genuína com todos os seus colaboradores e clientes.
Porquê o nome Natura Bissé?
O nome tem uma origem muito especial e nostálgica. Tudo começou nos anos 70 e resultou de um brainstorming entre os meus pais e os acionistas da empresa. Cada um tinha uma lista de potenciais nomes que deveriam refletir naturalidade, algo ligado à essência da pele. Na altura, Bali era considerado um destino idílico que toda a gente queria visitar. Alguém sugeriu Natura de Bali, mas não funcionou. A páginas tantas, o meu pai mencionou a atriz Jacqueline Bisset, um ícone de estilo e elegância, mas também foi rejeitado. Foi a minha mãe que propôs Natura Bisset. Todos gostaram, mas sem o T no final.
Mais tarde, quando entrámos nos Estados Unidos, adicionámos “Barcelona” ao nome, para reforçar as nossas raízes europeias e lembrar a imagem de Barcelona após as Olimpíadas de 92. O nome completa o seu significado: Natura (essência, naturalidade, liberdade, frescura) e Bissé (estilo, glamour e excelência).
Como foi a chegada da marca aos Estados Unidos e à Neiman Marcus?
Inicialmente, vendíamos no setor profissional em Espanha, mas nos anos 90 decidimos dar o salto para os Estados Unidos.
Naquela altura, nos EUA, o cuidado com a pele era muito limitado; o foco estava no cabelo, nas unhas e na maquilhagem, e os spas dedicavam-se basicamente a esses serviços. Percebemos que, a nível profissional, o mercado norte-americano ainda não valorizava o cuidado da pele da mesma maneira que em Espanha, por isso, decidimos dirirgirmo-nos diretamente ao consumidor. A estratégia consistiu em posicionar a Natura Bissé como uma marca de qualidade excecional.
A grande oportunidade surgiu com a cadeia Neiman Marcus, uma das mais luxuosas nos Estados Unidos. Começámos a trabalhar na loja Houston Galleria, e a manager da secção de cosmética ficou fascinada com os nossos produtos, o que facilitou a entrada no mercado. Para acompanhar o lançamento, fizemos uma mudança no packaging, passando de um design branco e dourado para um mais moderno, em branco e prateado, e selecionámos cuidadosamente cerca de 40 produtos do nosso vasto portfólio.
Além disso, dado que nos Estados Unidos não existia a figura da esteticista especializada em tratamentos faciais, como em Espanha, insistimos na necessidade de ter uma cabine de estética exclusiva na secção de cosmética da Neiman Marcus. Isso permitiu-nos demonstrar ao vivo a eficácia dos produtos, especialmente o nosso ácido glicólico, que foi o primeiro produto de venda a retalho com esse ingrediente em concentrações seguras e eficazes. Graças a esta abordagem, conseguimos captar a atenção das clientes, que começaram a notar melhorias significativas na pele e a perguntar pelos nossos tratamentos.
A Diamond Collection é a linha mais conhecida da marca e celebra este ano o seu 25º aniversário. O que a torna tão especial?
É praticamente o símbolo da Natura Bissé. Embora já tivéssemos um portfólio muito amplo, no ano 2000 sentimos que faltava um produto capaz de oferecer um tratamento global rejuvenescedor e anti-idade num só passo. Queríamos algo que não só fornecesse nutrientes, mas que também desse energia à pele. Viemos do universo dos spas e sempre valorizámos a energia que as mãos da esteticista transmitem, essa capacidade de ativar a pele, favorecer a microcirculação e potenciar a penetração dos ingredientes.
A chave da linha Diamond é fornecer essa energia, e conseguimo-lo incorporando Artemia salina, um microrganismo proveniente do plâncton marinho que ativa a função celular da pele, permitindo-lhe produzir colagénio e renovar-se de forma ótima. É uma linha muito completa e revolucionária, uma vez que, trabalha de forma integral na proteção do ADN e na manutenção da barreira cutânea.
A Natura Bissé sempre foi conhecida pela qualidade dos seus produtos. Qual o produto ou linha que recomendaria a um cliente que procura cuidados cut premium?
A Diamond Collection, sem dúvida. É o primeiro produto que recomendamos para que o cliente se apaixone pela marca. O meu pai costumava dizer: “Na Natura Bissé, não temos um grande orçamento publicitário, por isso o poder do produto nas mãos do cliente é a nossa melhor carta de apresentação”.
A marca investiu bastante em estudos de neurociência. Pode explicar como influenciam a experiência do cliente? Que resultados significativos foram obtidos até agora?
Iniciámos o nosso investimento em neurociência em 2016 porque, desde 2012, percebemos que alcançar a verdadeira excelência nos protocolos de cabine exigia dados objetivos e não apenas opiniões subjectivas. Foi assim que, em parceria com a Starlab – um centro de referência em Barcelona e Boston –, começámos a medir as ondas cerebrais dos clientes em cada fase do tratamento, desde a acomodação e alinhamento corporal até à limpeza, tónico e esfoliação. Esse trabalho revelou, por exemplo, que a esfoliação com ácido glicólico gera picos de desconforto; ao complementar essa fase com uma massagem suave nos braços ou uma toalha quente nos pés, tornámos o processo muito mais tolerável, comprovando a melhoria pelas variações registadas nas ondas cerebrais.
Alguns anos mais tarde, em 2018-2019, fomos ainda mais longe com o desenvolvimento do The Mindful Touch, um filme mindfull de oito minutos, apresentado em realidade virtual e concebido para que o cliente consiga desligar-se das preocupações externas logo que entra na cabine. Desta forma, asseguramos que, ao iniciar o tratamento principal, a pessoa está verdadeiramente presente e relaxada.
Quando chegou a pandemia, decidimos testar de forma rigorosa o impacto real dos nossos protocolos numa amostra de 33 voluntários, mantendo o protocolo standard da Natura?Bissé. Contámos novamente com a Starlab para medir 20 frequências cerebrais, ritmo cardíaco e pressão arterial, e estabelecemos uma nova colaboração com a Universidade de Múrcia, que faz parte da EUniWell – European University for WellBeing. Recolhemos amostras de saliva para avaliar os biomarcadores cortisol, alfamilase e oxitocina, medições estas completadas por um questionário de bemestar e autoestima desenvolvido pela psiquiatra Marian Rojas? Estapé.
Os resultados foram apresentados no congresso da IFSCC (International Federation of Societies of Cosmetic Chemists) em Barcelona, em 2023, e revelaram uma melhoria média de 67?por cento no bemestar global dos participantes, com reduções significativas de indicadores de stress e aumento de oxitocina, autoestima e sensação de empowerment. Numa apresentação feita em Madrid às nossas esteticistas, a Dra. Marian Rojas Estapé disse-lhes: "Vocês não têm noção da importância do vosso trabalho, pois são capazes de recarregar as baterias das vossas clientes”. Ela até brincou, dizendo: "Em vez de irem à psiquiatra, que venham à cabine de estética!" E nós respondemos: "Sim, é isso mesmo, venham à cabine de estética!"
Quais as principais inovações que a marca está a desenvolver ou planeia lançar num futuro próximo?
Na Natura Bissé, continuamos a apostar na inovação e temos vários projetos em andamento. Desde 2012, com o lançamento da Diamond Life Infusion, que estamos a trabalhar questão da longevidade através da estimulação de células estaminais epidérmicas, a proteção dos telómeros e a regeneração celular contra o stress oxidativo. Hoje, continuamos a melhorar este conceito com novos ativos que se adaptam aos ritmos circadianos da pele, ajudando a protegê-la de dia e a repará-la durante a noite, além de favorecer processos como a autofagia para eliminar células danificadas.
Estamos também a renovar a linha Essential Shock, uma das primeiras da Natura Bissé, para oferecer um tratamento específico que apoie a pele nas etapas prévias, durante e após a menopausa, incorporando ingredientes que otimizam a nutrição e regeneração cutâneas.
Além disso, estamos a desenvolver inovações focadas em fortalecer a barreira cutânea e o sistema imunitário da pele, fundamentais para contrariar as agressões ambientais. Estas atualizações refletem o nosso compromisso em mantermo-nos na vanguarda, combinando ciência, tecnologia e tradição para continuar a oferecer produtos que transformem realmente a experiência do cuidado facial.
A sustentabilidade tem sido uma questão crescente na indústria cosmética. Como é que a Natura Bissé a aborda nas suas operações, desde a produção à utilização de ingredientes?
Para nós, a sustentabilidade é um processo em evolução. Há anos, não era uma prioridade, mas hoje contamos com um departamento especializado que revê cada área: desde a produção até à contabilidade. Adotámos medidas como o uso de reatores de tecnologia avançada para otimizar o consumo energético, a reutilização do cartão de fornecedores para as embalagens e a utilização da água da chuva nas nossas instalações. No âmbito da formulação, trabalhamos para reduzir e unificar ingredientes, optando por componentes multifuncionais e de origem local sempre que possível. Isto traduz-se em produtos inovadores e operações que estão alinhadas com os objetivos de sustentabilidade estabelecidos para 2030.
Quais são os maiores desafios que a indústria cosmética de luxo enfrenta hoje e como é que a Natura Bissé se está a posicionar para continuar a ser uma marca líder?
O panorama atual está saturado de marcas, muitas delas surgidas de pequenos empreendimentos, o que torna a competição um desafio enorme. A chave, para nós, está na diferenciação através da inovação e da investigação, sem seguir cegamente modas passageiras. Apostamos na longevidade e no cuidado integral da pele, apoiados por avanços em nutricosmética e tecnologia. Além disso, estamos a utilizar inteligência artificial para mapear tendências e otimizar as nossas fórmulas, mantendo sempre a essência e a qualidade que nos caracteriza.
Porquê Portugal neste momento? Porquê 2025?
Portugal é um mercado em crescimento e muito importante para nós. A consolidação da marca tem sido favorecida pelo elevado valor que os consumidores portugueses atribuem à qualidade e ao cuidado da pele. Além disso, trabalhamos de forma estreita com perfumarias e hotéis no país. Apostar em Portugal responde a uma estratégia de crescimento gradual e à convicção de que este mercado valoriza a excelência em produtos da Natura Bissé, o que nos permite expandir com solidez.
As marcas de cosmética de luxo cativam o público mais jovem?
O conceito de luxo evoluiu e, embora os produtos de luxo possam parecer direcionados a um público mais maduro, acreditamos firmemente na educação desde cedo. Não é apropriado que uma jovem de 18 anos use produtos como os da linha Diamond; no entanto, contamos com linhas específicas, como a de vitamina C ou a gama Oxigen, que oferecem opções a preços mais acessíveis. Essas linhas são ideais para que as jovens comecem a estabelecer rotinas de cuidado facial, entendendo a importância de cuidar da pele e adaptando os produtos às necessidades de cada etapa da vida.
Fale-nos um pouco da Fundação Ricardo Fisas.
Desde o começo que a Natura Bissé tem um forte compromisso social. Os meus pais sempre quiseram retribuir à sociedade e, com o tempo, formalizámos essa ação através da Fundação Ricardo Fisas Natura Bissé, criada em 2010. Desenvolvemos programas de ação social direcionados a pessoas em situações de vulnerabilidade e, especialmente, a mulheres que lidam com o cancro. Através do Programa de Estética Oncológica, já capacitámos mais de 1500 esteticistas e realizámos mais de 15000 tratamentos gratuitos em hospitais, em colaboração com a Associação Espanhola Contra o Cancro, ajudando as pacientes a sentirem-se melhor durante momentos difíceis.
Além disso, temos um programa de apoio educativo para crianças com TDA, dislexia e outros distúrbios – o Projeto Diferença – que trabalha diretamente com professores e escolas para detetar e fornecer as ferramentas necessárias atempadamente. Este trabalho social é parte integrante do nosso ADN e reflete o nosso compromisso com o bem-estar geral da comunidade.
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