A verdade é que ninguém gosta de menstruar. São as cólicas nos piores momentos, as alterações de humor, a preocupação de, a cada 30 minutos, ir ver se nada passou para a roupa e o facto de estarmos (literalmente) a sangrar da nossa parte íntima. A maioria das mulheres mal pode esperar pelo fim da sua menstruação para retomar a rotina normal. Mas e quando, inesperadamente, começamos a sangrar também fora do período menstrual?
Estas perdas de sangue são conhecidas, em termos médicos, como sangramento de escape ou spotting. Para além de ser um sintoma muito mais comum do que aquilo que pensamos, é também um tema que merece maior conhecimento entre o público feminino. Corresponde a uma hemorragia de cor vermelho escuro acastanhado e pode surgir entre os períodos menstruais, tanto no início, como no fim do período, normalmente em pequena quantidade. "A menstruação tem uma certa regularidade, e o spotting, não – é esporádico. Consiste num sangramento vaginal leve, que ocorre fora desse período menstrual", explica Ana Lúcia Nogueira, ginecologista obstetra na Clínica Sabeanas.
O que é necessário ter em atenção é que o sangramento de escape não deve ser considerado normal, mas também não tem propriamente de ser motivo de alarme, podendo tanto ser inofensivo e não requerer intervenção médica, como motivar a realização de exames e possível tratamento. Das variadas causas que podem levar a estas perdas de sangue, Ana Nogueira especificou o uso de anticoncepcionais, especialmente no início ou quando há esquecimento de pílulas, e ligado a mudanças no revestimento uterino. O stress ou mudanças hormonais, a ovulação, início de gravidez com a implantação do embrião, miomas ou pólipos uterinos (tumores benignos, não cancerosos), infeções ou outras condições ginecológicas.
Deve consultar um ginecologista quando perceber que estas manchas de sangue começam a ser regulares e a aparecer durante mais de três ou quatro dias. O importante é que acompanhe o seu ciclo menstrual atentamente, relativamente a dores abdominais, febre ou a outro qualquer sangramento vaginal excessivo, por exemplo, após as relações sexuais ou durante a menopausa.
À medida que fazemos a transição para a menopausa – durante a fase da perimenopausa – pode haver meses em que não há ovulação e os períodos se tornam mais irregulares, o que pode levar ao surgimento destas manchas leves. Ana Lúcia Nogueira aconselha apenas que haja um controlo maior, caso a cor e a frequência desse sangramento apresente alterações. "Se acontecer depois da menopausa, a perda de sangue escassa tipo 'água de lavar carne' é sempre perigosa e obriga a consultar um ginecologista. Pode ser apenas hiperplasia do endométrio ou carcinoma e é necessária uma intervenção cirúrgica", explica.
E se tiver sangramento de escape após o ato sexual? Uma hemorragia de sangue vermelho vivo pode acontecer após o sexo e tem o nome de coitorragias, sendo já um sinal de alarme. "Pode significar existência de alterações das células do colo, inflamatórias ou displásicas, ou mesmo cancro do colo do útero. Também obrigam a uma ida ao ginecologista", conclui a especialista.
De um modo geral, algumas manchas isoladas no ciclo menstrual podem não ser motivo de preocupação. Esteja apenas ciente do que é normal e o que pode ser uma situação a ser vista pelo médico.