Há três tipos de pessoas no mundo: as que comem malaguetas como quem come miolo de pão, as que só de ouvirem falar em comida picante começam logo a transpirar, e as que se vão aventurando, sempre condenadas a ficar com a língua a arder. E depois há as mães, que azucrinam a cabeça a uma pessoa com prantos de “não ponhas tanto picante na comida, filha, olha que isso faz mal”. Pois, por uma vez na vida, a Máxima está em posição de afirmar que as mães estão erradas – e, sim, podem citar-nos. Uma investigação recente concluiu que o consumo frequente de comida picante – nomeadamente, malaguetas –, traz inúmeros benefícios para a saúde.
Uma meta-análise publicada no American Journal of Preventive Cardiology, em 2022, que teve por base quatro grandes estudos observacionais, envolvendo 570762 pessoas oriundas dos Estados Unidos, China, Itália e Irão, concluiu que quem consumia malaguetas regularmente tinha uma redução de 25% no risco de mortalidade por qualquer causa, comparado com quem raramente ou nunca as consumia. Esse consumo também foi associado a 26% menos mortes por doenças cardiovasculares e 23% menos por cancro.
Mas há mais. A investigação reportou ainda que uma dieta rica em malaguetas está associada a menos obesidade e menor risco de diabetes. Estudos anteriores demonstraram que o consumo de malagueta tem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes, anticancerígenos e reguladores da glucose no sangue, graças à capsaicina, o composto que confere à malagueta o seu sabor picante, que pode variar de suave a intenso. De resto, o cardiologista Bo Xu, um dos médicos responsáveis pelo estudo, diz haver evidências também nesta investigação de que a capsaicina está na base dos benefícios. Tal conclusão baseia-se na observação de que o pimento doce, com menor teor de capsaicina, não estava associado à redução de mortalidade cardiovascular.
A investigação refere ainda que a capsaicina ajuda à perda de peso, uma vez que desencadeia uma série de processos que promovem a termogénese (o processo pelo qual o corpo produz calor e que está diretamente ligado ao gasto de energia), bem como um aumento do metabolismo da gordura, maior gasto energético, e um melhor controlo da glicemia.
Outras conclusões dignas de nota incluem a redução significativa das doenças respiratórias entre os consumidores frequentes de malaguetas e o facto de as mulheres que consumiam malaguetas com frequência terem menor risco de morte por infeções. Este estudo também comprovou os benefícios na mortalidade geral e cardiovascular entre consumidores de açafrão e curcuma. A investigação reportou efeitos positivos do consumo de malaguetas independentemente da quantidade consumida.
Se ficou convencida e quer tornar a sua dieta mais picante, ficará feliz em saber que é possível ir desenvolvendo resistência, para que não tenha de mergulhar a língua em leite – nunca água! – depois de cada garfada. O melhor que tem a fazer é começar pelas malaguetas mais suaves, como o jalapeño e a caiena, de seguida, tome coragem vá para o piri-piri e o tabasco, e siga caminho rumo ao scotch bonnet, ao habanero e à carolina reaper – a malagueta mais picante do mundo com direito a entrada no Livro do Guinness.