A gripe e o inverno andam de mão dada. Este ano, uma nova estirpe da gripe A – a H3N2, do subtipo K – está a preocupar as autoridades de saúde. Primeiro porque chegou à Europa três a quatro semanas mais cedo do que seria de esperar, e segundo, porque se está a espalhar com grande rapidez. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças já alertou para que as autoridades se preparem para "uma temporada de gripe mais severa" na Europa, especialmente se houver baixa adesão à vacinação. Os sintomas desta estirpe podem ser particularmente severos para as mulheres, pelo que deve ter cuidados adicionais.
No geral, a H3N2 não difere muito da gripe clássica em termos de sintomas: febre alta (geralmente acima de 38,5 ºC), dores musculares intensas, calafrios, dor de cabeça, cansaço extremo (que pode durar semanas), tosse seca, irritação ou dor de garganta, nariz entupido ou a pingar, desconforto ocular, e náuseas ligeiras. Ainda assim, a H3N2 é conhecida por causar maior quebra física do que outras estirpes de gripe, razão pela qual os sintomas de fadiga e dores corporais costumam ser mais fortes.
Se, por um lado, não existem sintomas específicos só para as mulheres, o que é uma boa notícia, por outro, há diferenças significativas na forma como os sintomas se manifestam. As mulheres tendem a relatar, por exemplo, febres mais altas, dores musculares mais intensas, maior sensação de cansaço e uma recuperação mais lenta. Este cenário está relacionado com diferenças hormonais e imunológicas entre os corpos femininos e masculinos. Posto de uma forma simples, o estrogénio (mais presente nas mulheres do que nos homens) amplifica a resposta imunitária, causando inflamação mais marcada, contribuindo para o aumento de dores, febre e cansaço. Além disso, se o estado gripal coincidir com a fase pré-menstrual ou menstrual, há maior sensibilidade à dor e ao cansaço, piorando consideravelmente a sensação de mal-estar. Por último, como as mulheres são, regra geral, mais pequenas que os homens, a febre alta e a desidratação instalam-se mais rapidamente num corpo menor.
De referir ainda que, como as mulheres têm vias aéreas anatomicamente mais pequenas, a tosse pode ser mais irritativa, a sensação de aperto no peito mais frequente, e existe maior risco de bronquite pós-viral. As mulheres têm um risco ligeiramente maior de síndrome de fadiga pós-viral, crises de enxaqueca desencadeadas pela gripe, agravamento de doenças autoimunes já existentes e maior probabilidade de evoluir para sinusite ou otite. Por último, é importante sublinhar que as mulheres grávidas têm maior risco de desenvolverem complicações graves, nomeadamente: pneumonia, desidratação, parto prematuro e hospitalização.
Se for diagnosticada com gripe H3N2, deve procurar atenção médica caso tenha febre persistente, que dure há mais de 48 horas e que não desce com antipiréticos; dificuldade em respirar ou dor no peito; cansaço incapacitante que impeça atividades normais; sinais de desidratação, como pouca urina ou tonturas; agravamento de enxaquecas; dor muito forte num dos ouvidos; ou febre que reaparece depois de ter desaparecido, algo que pode ser sinal de infeção secundária. Deve fazer uma vigilância adicional se estiver grávida, tiver anemia, asma, alergias respiratórias ou doenças autoimunes.
A prevenção, como em quase tudo na vida, é sempre o melhor remédio, portanto, se elegível para se vacinar, não adie. E lembre-se que a máscara continua a ser uma importante linha de defesa, tanto para si, para que não seja contagiada, como para evitar o contágio de outras pessoas, caso tenha sintomas.