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Beleza

Celebrar a vida num perfume

A nova Twilly d’Hermès é um shot de energia positiva e de luz, uma frescura floral e amadeirada feita à medida da tão ansiada, e adiada, joie de vivre.

Foto: Sylvie Becquet
08 de outubro de 2021 às 07:00 Patrícia Barnabé

Já sabemos que a casa Hermès não desenha apenas colecções impecáveis e belas que adoramos uma vida inteira, nos últimos anos a marca tem-nos presenteado com um talento evidente na perfumaria. Nesta fase de desconfinamento chega-nos a terceira geração da Twilly, a Eau Ginger, que se apresenta como "uma peónia generosa e vibrante, um gengibre luminoso e cristalizado, um cedro suave e vivo", uma água perfumada, que aponta para as mais jovens mulheres, mas é no fundo para todas. Desenvolvida por Christine Nagel, em género de celebração da alegria, vem num estojo estampado com motivos astrológicos a apontar o futuro. Em entrevista, a nez conta-nos todos os segredos.

Máxima - Esta nova Twilly d’Hermès é energia positiva em busca da felicidade, de que estamos agora a precisar em doses generosas. Foi uma intenção desde o início da sua conceção? 

Christine Nagel - Não, esse não foi o principal objetivo visto que esta criação antecede a pandemia Covid, mas estamos todos a precisar de gargalhadas espontâneas estes dias. Como um tributo à geração que adora fazer e desfazer, serem elas próprias e reinventarem-se, queria oferecer um novo twist, uma expressão diferente da Twilly, que revelasse o lado cintilante do seu carácter. Esta nova adição é o membro mais jovem da família e tem um riso que desarma e permite-se a tudo. Twilly Eau Ginger é transgressivo, uma espécie de convite libertador para não levar nada a sério, nem a si próprio, nem o seu perfume. Vai além dos seus predecessores, afirmando a sua singularidade com uma inabalável joie de vivre.

Foto: Oliver Hadlee Pearch

Existem fragrâncias para raparigas e fragrâncias para mulheres, num mundo onde caem todas as barreiras de género, raça, tamanho, idade? Se sim, como as descreveria e quais as suas diferenças? E será mais desafiador criar para umas do que para as outras?

Categorizar fragrâncias não é de todo a minha forma de trabalhar, mas é muito humano querer fazê-lo, querer racionalizar a arte, a criação e mais ainda as fragrâncias, que são invisíveis, evanescentes e irracionais. A sociedade criou códigos aos quais nos é difícil escapar porque proporcionam linhas de referência que nos tranquilizam e que nos ajudam a viver num mundo que é cada vez mais complexo. Esses códigos promovem a compra de fragrâncias desenhadas para mulheres, ou para homens, ou ambos, para mulheres jovens ou para raparigas, etc. Mas a fragrância existe por si mesma, independentemente de para quem se destina. Uma fragrância é-nos apelativa pela forma como ressoa com as nossas emoções, desejos e medos. É uma misteriosa e maravilhosa química, e tens apenas de te desafiar, de ser audaz, de confiar em ti e experimentar coisas.

Ao criar uma terceira fragrância dentro da mesma família Twilly, sentiu-se mais desafiada ou mais confortável?  

Criar uma fragrância de raiz não é o mesmo exercício que criar uma que pertence a um universo de fragrâncias, e ambos são emocionantes. É, talvez, um pouco mais difícil criar uma fragrância dentro de uma família existente porque envolve respeitar o seu espírito, estrutura e mundo imaginário enquanto acrescentas a tua própria assinatura. E para ser clara, cada uma é uma criação no seu próprio direito. Quanto a Twilly Eau Ginger, a história continua, e há uma expressão da Twilly para todos, porque não só pinto um retrato de uma geração e uma família, pinto ainda a sua diversidade e as suas diferenças. Entre três irmãs, estas são imensas: cada uma tem o seu caminho, o seu temperamento e a sua própria história. Twilly Eau Ginger é a faceta cintilante do espírito Twilly, uma faceta que também é típica da Hermès. Twilly Eau Ginger é a expressão olfativa de uma personalidade luminosa, brilhante e alegre. Os seus amigos acham as suas gargalhadas roucas contagiosas, a sua alegria ilumina os seus dias.

E foi buscar algum detalhe à "estória" das outras duas Twilly?

Como as suas duas predecessoras, Twilly Eau Ginger foi inspirada pelas jovens mulheres de hoje, aquelas raparigas criativas e maliciosas que incorporam uma feminilidade em formação e que amam reinterpretar as regras. Twilly Eau Ginger, como as suas irmãs mais velhas, foi desenhada com base no princípio de três materiais tecidos em conjunto num espírito de irreverência e fantasia.

Foto: Thomas de Monaco

Qual foi a sua nota de arranque na criação deste aroma: a delicada peónia, o gengibre fresco ou o cedro mais quente? E porque escolheu essa para começar e as outras numa ordem seguinte, fale-nos do seu processo criativo.

A Twilly Eau Ginger foi desenhada com um novo "twist". Destaca a peónia, reconstruída, generosa e vibrante, o gengibre luminoso e suculento e o cedro, responsivo e flexível. Trabalhei nos materiais para torná-los ainda mais macios e mais tenros e assim proporcionar-lhes um toque mais jovem. É surpreendente como certas notas permanecem sempre connosco, e o gengibre é uma delas. Ainda não tinha acabado com gengibre e queria remodelá-lo num estilo diferente. Este exercício pode ser comparado ao trabalho no carré Brides de Gala, o lenço Hermès de design emblemático que tem sido artisticamente reinterpretado desde 1957. É realmente típico das minhas criações, quando trabalho sobre um material, gostar de desafiar os seus limites, transformá-lo e fazer com que a sua mensagem seja o oposto daquilo que é normalmente aceite.

Porque optou pelos motivos da Astrologia para a embalagem, gosta de Astrologia?

Confesso que adoro a tonalidade quente e luminosa desta terceira obra. Pessoalmente, não tenho nenhum entusiasmo particular pela Astrologia, nem aversão, leio por vezes o meu horóscopo numa revista, é divertido, mas não sou fanática do assunto. 

Considera que estes dias de pandemia - em que todos tivémos de permanecer em casa, rodeados pelas nossas coisas, pelas nossas memórias e pelos nossos sonhos - nos tornaram mais atentos e sensíveis ao mais pequenos, mas muitas vezes enormes, detalhes como os aromas?

Esta pandemia tornou-me ainda mais consciente do poder evocativo do perfume e dos aromas. Vi como o perfume pode fazer com que as pessoas se sintam vivas, como desperta emoção, imaginação e sonhos. Um dos sintomas do Covid é a anosmia, a perda do olfato. Marcou-me como as pessoas que perdem o seu olfato e paladar se sentem tão desoladas, já ouvi dizer que alguns até perdem parte do seu interesse na vida. Como é um sentido frequentemente descurado, que consideramos ser um pouco arcaico e que não educamos ou aprimoramos, não nos apercebemos do impacto de perdê-lo. Enquanto perfumistas temos o dever de continuar a contar histórias, de proporcionar viagens num mundo imóvel e de libertar a imaginação quando as pessoas estão confinadas em suas casas.

Foto: Thomas de Monaco

Existe algum aroma, fragrância ou cheiro que tenha cativado, ou intrigado, o seu experiente nariz nos últimos tempos?

Numa viagem recente às ilhas do Pacífico, consegui cheirar os seus inúmeros aromas de forma plena e intensa... São tão ricos, sensuais e quentes. Existe, claro, a Flor do Tiaré, emblema nacional da Polinésia, que está em todo o lado, mas também temos os mercados locais com frutas exóticas solarengas, cheias de sabores e aromas. Descobri ainda, uma baunilha única e poderosa que é significativamente mais carnuda do que aquela que conhecia e espero poder trabalhar com ela. É importante para mim que cada fragrância, cada cheiro, conte uma história e abra um mundo imaginário particular. Cada cheiro é fascinante quando te interessas por ele e trabalhas sobre ele e não gostaria nunca de me privar de algum por rotina, hábito ou preferência.

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