Uma num milhão. Nancy Pelosi, a mulher que está a agitar águas internacionais
É, há mais de 30 anos, um rosto fundamental na política americana. No dia 2 de agosto, deslocou-se a Taiwan numa tentativa de ajudar a ilha a manter a democracia, e voltou a fazer manchetes nos jornais internacionais. Eis o assombroso percurso de Nancy Pelosi, atual Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América.
Estavamos em dezembro de 2018 quando uma imagem de Nancy Pelosi se tornou viral na Internet, chegando a gerar incontáveis memes. Tratava-se de uma fotografia da democrata a sair da Casa Branca com um sorriso vitorioso, uns óculos de sol postos, e um casaco vermelho da Max Mara vestido que acabou, inclusive, por esgotar. Um look que a internet apelidou de "dragon-slayer", ou matador, numa tradução indireta. A razão? Pelosi tinha acabado de fazer uma espécie de knock out a Donald Trump, depois de ter reunido com este na Sala Oval e na sequência das vitórias dos democratas no Congresso em novembro de 2018. A intenção era apressar o fim do governo de Trump. Foi um momento triunfal para Pelosi, que começou a ser vista como um ícone, heroína da sua própria história, sobretudo pelos americanos.
Em 2007, Nancy Pelosi fez história quando foi eleita a primeira mulher para o cargo de presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América, ocupando o 52º lugar dessa lista. Foi-o até 2011, e voltou a fazer história em janeiro de 2019, quando recuperou o cargo de segunda na linha de sucessão à presidência – a primeira pessoa a fazê-lo em mais de seis décadas.
Pelosi, que atualmente mantém o mesmo cargo, também mantém a postura destemida. Aos 82 anos, foi esta a mulher que há poucos dias "agitou as águas" em Taiwan, depois de se reunir com a presidente da ilha, Tsai Ing-wen, e com deputados taiwaneses, prometendo ajudar a "preservar a democracia" deste território insular. Em jeito de ameaça, Pelosi foi recebida com o anúncio de exercícios militares no espaço aéreo e marítimo em redor da ilha, e com a suspensão de importações agrícolas a partir do território autónomo – mas se intimidou. "Hoje o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia. A determinação americana em preservar a democracia aqui em Taiwan, e em todo o mundo, permanece inabalável", disse Pelosi. A intervenção não foi bem vista por todos: embora se lhe apontem qualidades como competência e assertividade, e por ter evitado escândalos durante toda a sua carreira, há quem a veja como uma figura privilegiada, branca, nascida numa família com influência.
Nancy Pelosi nasceu, de facto, no seio de uma família italo-americana, em Baltimore, sendo a única rapariga e a mais nova de sete filhos. Filha de país ligados à Política – o pai, Thomas D’Alesandro Jr, foi um congressista democrata de Maryland e presidente em Baltimore, e a mãe, Annunciata Lombardi D’Alesandro, italiana, apoiava e liderava grupos de mulheres democratas - Nancy sempre esteve familiarizada com os direitos sociais e das mulheres. A história pessoal da democrata é contada na biografia Pelosi, de Molly Ball, com muito rigor e admiração. "Pelosi nasceu de uma proeminente família democrata em Baltimore, mas a rede de influência de São Francisco que a levou ao Congresso foi uma rede que ela própria construiu", escreve Ball, num artigo para o The New York Times. "Quando entrou na Câmara dos Representantes em 1987, as mulheres eram uma raridade na câmara e estavam completamente ausentes da liderança. O assédio sexual e o menosprezo eram constantes." Pelosi chegou para mudar as regras.
Quando foi eleita a primeira vez, em 2007.
Foto: Getty Images
Durante 35 anos, representou São Francisco, 12º Distrito da Califórnia, no Congresso. Foi sempre uma defensora acérrima dos cuidados de saúde e familiares, tendo sido uma das impulsionadoras do Affordable Care Act - ou mais conhecido como Obamacare – um sistema de saúde americano democrático, implementado em 2010. Foi, também, um dos rostos fortes da oposição parlamentar aos presidentes republicanos George W. Bush e Donald Trump, iniciando o processo de impeachment deste último. Em 2007, aquando da sua candidatura à presidência da Câmara dos Representantes, fez das alterações climáticas o apelo central da sua campanha. Dois anos mais tarde liderou a aprovação do American Clean Energy and Security Act: um projeto de lei abrangente para criar empregos de energia verde, combater a crise climática e fazer a transição dos EUA para uma economia de energia limpa.
Em 2022, com a chegada da guerra à Ucrânia, arrecadou milhões para apoio à segurança, economia e assistência humanitária através dos seus discursos, sendo um dos nomes chave na orquestração das imposições comerciais sancionárias impostas pelos EUA à Rússia.
Outro dos seus domínios é o apoio à igualdade de género: Pelosy liderou a revogação histórica da política discriminatória "Don't Ask, Don't Tell", que bloqueava o acesso de gays e bissexuais às forças militares do país, e é uma das porta-vozes dos direitos da comunidade LGBTQ. Aprovou ainda a Lei de Prevenção de Crimes de Ódio de Matthew Shepard e James Byrd Jr., uma lei que promove a justiça para milhões de norte-americanos em risco de violência.
Com uma postura assertiva e um estilo elegante - veste quase sempre fatos, em tons garridos como azul, verde, amarelo ou laranja, e é raro vê-la sem maquilhagem ou joias - Nancy Pelosi distingue-se num país com um rosto ainda mais masculino que igualitário, e pelo empenho em questões fundamentais por resolver, do racismo à violência. Nancy abriu, e continua a abrir o caminho, para o diálogo internacional e para os direitos fundamentais dos americanos. Tem cinco filhos, todos com o empresário americano Paul Pelosi, com quem casou em 1963.
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