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Uma expedição à selva do Atelier Poeira

Criativa por natureza, Mónica Penaguião transformou a pequena loja que fundou nos anos 80 num paraíso do design, que cruza influências vindas de Lisboa, Maputo e São Paulo.

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17 de fevereiro de 2021 Rita Silva Avelar
Tinha apenas 15 anos, em 1981, quando pediu um sobrado emprestado a um tio, para abrir a sua primeira "Poeira", na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. Na altura, Mónica Penaguião ainda não sabia bem o que queria fazer daquela pequena loja, por isso começou por vender sofás, botões e mesas, muito em jeito de brincadeira.
Hoje, 40 anos depois, o atelier Poeira Design estende-se de Lisboa para vários cantos do mundo, de São Paulo a Maputo.

Mónica diz que foi a curiosidade que a levou a embarcar nesta aventura tão jovem, vivia-se a década do excesso e da criatividade. "Voltar aos anos 80", recorda com um ligeiro sotaque brasileiro, "é lembrar-me de Prince, Boy George, princesa Diana, Michael Jackson. Lembro-me de uma época de brilho, de alegria, de sucesso e independência. Uma época de yuppies, de roupas de grife, de decotes... Já na decoração não tinha tanta graça, acho que foi uma época menos interessante. Francamente, já não lembro bem o que me levou ao atelier, mas (...) sempre fui destemida, faço e depois pergunto, não sou nada daquele tipo de planear ao pormenor tudo, muito menos na minha vida pessoal. Atirei-me, como se diz, de cabeça ou antes de pés juntos! Não sei se tem diferença, mas acho graça… Ai que horror, já passaram 40 anos…." conta com graciosidade, evocando boas memórias desses tempos. 
Atelier Poeira
Atelier Poeira

Mónica desenha projetos de design de interiores para o mundo e vende peças de autor, encontradas em várias partes do globo. Entretanto subiu das Janelas Verdes para a rua da Imprensa à Estrela, instalando-se num luger que é o espelho da criatividade que fervilha incessante nesta mente criativa. "A Poeira sou eu, é a minha inquietação, viajo para todo o lugar, desde as grandes cidades até à choupana no meio do mato… tanto gosto de um bom design de marca, como do design sem marca de uma pau retorcido e estendido em paz que encontro mesmo antes de o pisar! Adoro plantas, agora estamos na época das tulipas, como são lindas à medida que se vão abrindo parecendo-se espreguiçar" explica. 
Atelier Poeira
Atelier Poeira


Na loja, as peças refletem essa diversidade, com inspirações muito diferentes. Aqui não imperam décadas, nem estilos, não há regras ou objetos proibidos. "Eu acho tudo distinto! Os espelhos de formas pouco convencionais, que talvez à primeira vista nem gostasse, mas depois vejo como são elegantes. Ao entrar aqui, as pessoas deparam-se, eu acho, com harmonia, com uma sensação de bem estar. Quero que a pessoa pense e diga (não precisa de ser em voz alta): 'quero isto tudo para mim', mesmo como se fosse uma criança. Muito muito gulosa, como o meu filho António, o bolha!"
Atelier Poeira
Atelier Poeira
No entanto, Mónica não se considera uma caçadora de tesouros, mas sim de talentos. "Não tenho essa obsessão. Dá me gozo descobrir um bom artesão, lá nos confins do mundo! Adoro artesanato. A decoração não está só no design das peças, se bem que uma boa peça por vezes faz a diferença, outras vezes é a cor, são tantas as variantes que é por isso que você precisa de um design de interiores. Há pessoas com tendências naturais e gosto para a decoração, mas o olho de um profissional faz a diferença!" conta, confessando-se inspirada por tudo o que a rodeia. "Se bem que existam tendências, vícios momentâneos, ou seja, modismos, estilos, não me considero amarrada a nada disso - sempre me aborreceram rótulos. Eu parto do espaço, da arquitetura, das janelas, da vista…. e também dos desejos dos clientes." 
Atelier Poeira
Atelier Poeira
Entre os desafios que lhe foram propostos ao longo dos anos, não consegue decidir um preferido."Difícil falar, já fiz casas do zero até ao papel higiénico, agora por exemplo estou a decorar um barco em Paraty/Brasil e estou a adorar.  Estou também a fazer uma cabana no meio do mato, estilo Robison Cruso, e também estou a adorar. Fazer caminhos que não podem interferir na flora local, tudo são desafios já que lidamos com os desejos dos outros. Quando você encontra um bom espaço (de preferência com jardim, que eu amo) e os donos partilham das mesmas ideias que as suas é sempre uma delícia."
Avessa a tendências, não deixa de notar que os seus clientes procuram "um desejo grande de conforto" e que têm "uma preocupação maior com os exteriores, a Natureza a entrar para dentro de casa. Hoje as tecnologias cada vez ganham mais importância, assim como as preocupações com o meio ambiente, o que eu acho fundamental, não dá mais para não pensar assim, portanto as casas hoje são pensadas muito mais ao pormenor, precisam de mais especialistas e isso também se reflete no design. Adoro verdadeiramente descobrir, não um tesouro mas uma novidade. Estou louca para ter um robot [de limpeza], ando até a pensar como lhe chamar, que nome lhe dar!" ri-se.
Atelier Poeira
Atelier Poeira
Sobre a pandemia, e as estratégias podemos encontrar para viver melhor a casa e desfrutar do nosso canto em confinamento, a designer não tem dúvidas sobre a melhor fórmula: "parto do princípio que as pessoas ficam mais em casa e consigo próprias. De caras, um bom livro é o mais importante. Depois um bom copo de vinho. Não ter medo de usar as coisas melhores que sempre reservamos para as visitas. Seja você mesmo especial, faça mesas bonitas, ponha flores, acenda velas, faça uma horta em vasos, dê mimos a si mesma!"

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