Parecem reais, mas são bonecos. O fascinante mundo dos "bebés reborn"
São bonecas, mas não parecem. Chamam-se bebés reborn e foram criadas para imitar com realismo extremo todos os aspetos de um recém-nascido - do peso ao cheiro, da textura da pele ao cabelo cosido fio a fio.

À primeira vista, parecem recém-nascidos, mas uma observação mais atenta revela detalhes tão meticulosos que rapidamente se percebe: trata-se de um boneco criado para se fazer passar por um ser vivo. Estas criações são o resultado de um trabalho artístico e técnico rigoroso, concebidas para se parecerem, sentirem e, até, cheirarem como bebés verdadeiros. O fenómeno dos bebés reborn nasceu nos anos 90, mas tem ganho nova popularidade nos últimos anos, impulsionado por comunidades online, artistas especializados e um interesse crescente pelo valor emocional e terapêutico das peças.
Estas bonecas pesam pouco mais de 1,5 quilos e são feitas a partir de misturas de silicone patenteadas. Os moldes podem ser esculpidos à mão ou até impressos em 3D a partir de bebés reais, o que contribui para o nível quase inquietante de realismo. Os rostos são meticulosamente pintados, a pele tem um toque aveludado, macio e maleável, e o cabelo é implantado fio a fio, muitas vezes apenas um ou dois cabelos por folículo. Como se não bastasse, estão perfumados com uma fragrância que evoca pó de bebé, pele nova e leite materno - uma combinação criada para despertar ternura quase instintiva.



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Mas o fascínio vai além do aspeto visual. Estas bonecas evocam emoções profundas, muitas vezes ligadas a experiências de vida, luto, maternidade, ou simplesmente ao desejo de cuidar. Tal como refere ao Telegraph Ellis, uma jovem londrina de 29 anos que coleciona bebés reborn, "quase todos os meus seguidores são mulheres com menos de 50 anos - em crianças, dão-nos bonecas e encorajam-nos a cuidar delas, mas depois, um dia, é suposto crescermos e esquecê-las ou transferir esses sentimentos para crianças verdadeiras. Mas só temos bebés verdadeiros durante curtos períodos das nossas vidas e, para muitas mulheres, esse instinto de amar e cuidar de algo pequeno continua a ser poderoso".
No Brasil, o fenómeno tem ganho dimensão própria, impulsionado por criadores de conteúdo, lojas especializadas e um público cada vez mais amplo. Influenciadoras como Sweet Carol, cujo vídeo a simular um parto de uma boneca teve mais de 4,1 milhões de visualizações no Instagram, tornaram-se figuras centrais na divulgação do "rebornismo". Lojas temáticas simulam maternidades e chegam a faturar dezenas de milhares de reais por mês. Como referido na Forbes Brasil, há exemplares que ultrapassam os 12 mil reais (cerca de 1.876 euros), e o público vai desde colecionadores e curiosos a pessoas em busca de conforto emocional, como idosos, enlutados ou mulheres que não puderam ter filhos. A procura crescente reflete uma necessidade humana de ligação afetiva e cuidado, mesmo que canalizada para objetos inanimados.
De facto, há quem coleccione bebés reborn como uma forma de arte; outros procuram neles reconforto - mães que perderam filhos, mulheres que não puderam ter filhos, idosos com demência, ou simplesmente quem sente falta da experiência de cuidar de um bebé. Para muitos, a ligação emocional não é menor por se tratar de uma boneca.
Os artistas que criam estas peças são conhecidos como "rebornistas". O trabalho exige não só talento técnico, como também uma sensibilidade especial para captar a delicadeza da infância. Cada boneca pode levar dezenas de horas a ser concluída, e os preços variam consoante o nível de detalhe, podendo atingir centenas ou mesmo milhares de euros.
Há, naturalmente, quem veja este fenómeno com estranheza, ou até algum desconforto. A fronteira entre boneca e bebé pode ser perturbadora para alguns, mas para quem se envolve neste universo, os bebés reborn são muito mais do que simples réplicas: são veículos de expressão, reconforto e, muitas vezes, de cura emocional.
