Mona Lisa, o pesadelo do Louvre
Aquela que é uma das pinturas mais famosas do mundo, se não a mais famosa, está a tornar-se um problema não só para os turistas que saem desapontados, mas também para o funcionamento da sua casa, o Museu do Louvre, em Paris.

Inaugurou no passado dia 24 de outubro a exposição Leonardo da Vinci no Museu do Louvre, em Paris, França, um trabalho de décadas que, como o nome indica, se foca no mestre do Renascimento. No piso térreo do museu pode-se encontrar, até 24 de fevereiro de 2020, quatro das cinco pinturas da coleção, além de 22 esboços. A quinta, embora seja a mais famosa, continua a constituir um problema para o museu. O Louvre detém uma das maiores coleções de arte da Europa, dentro de um palácio que é uma obra prima por si mesmo. É, de longe, o museu mais popular do mundo. Em 2018 registou-se um recorde de 10 milhões de visitantes, mais 25 por cento do que no ano anterior e o triplo do número registado no Centro Pompidou ou no Museu de Orsay, também em Paris. O problema é que Louvre parece ter sido feito refém pela Kim Kardashian da pintura italiana do século XVI: Lisa Gherardini, mais conhecida como Mona Lisa ou La Gioconda, cuja origem da sua fama ainda está por descobrir.
De acordo com dados do museu, cerca de 80% dos visitantes vão especificamente para ver Mona Lisa, e a maioria vai embora insatisfeita. Na época digital e do turismo em massa, mais que famosa, a pintura tornou-se num fenómeno que, além de transcender o universo da arte, virou o museu do avesso.

Durante o último verão, o Louvre fez uma renovação da galeria onde estava a pintura: a Salle des États, na ala Denon do museu, onde já chegou a estar o parlamento francês. Relocada para a ala Richelieu, a Mona Lisa invadiu a coleção Flamenga numa superlotação tal que o museu teve de fechar postas durante vários dias. "O Louvre é sufocante", acrescentou o comunicado do sindicato dos seguranças do museu que na altura decidiu fazer greve.
De volta ao seu lugar original, protegida por vidro não reflector, as coisas não parecem melhorar. Nunca se colocou a possibilidade de incluir o quadro na exibição atual, dado que esta apenas pode receber 5 000 pessoas por dia; a Salle Des États recebe 30 000. De dimensões relativamente reduzidas, as queixas continuam quanto à dificuldade em ver o famoso quadro – até de acordo com o museu, este não é de longe o trabalho mais interessante de da Vinci e retirou protagonismo a obras como Mulher no Espelho de Ticiano ou O Casamento em Caná, de Veronese, que nem Beyoncé e Jay-z ignoraram no videoclip do single APESHIT. Para tentar contrariar a tendência, o museu começou a deixar sinais na sala como "A Mona Lisa está rodeada de outras obras: olhe à volta".
Apesar das medidas que se possam tomar para controlar o número de visitantes do museu, a verdade é que este não está superlotado se contarmos com as outras alas: até a Vénus de Milo, provavelmente uma das obras de arte mais famosas do mundo, reúne um número confortável de visitantes de cada vez. Tecnicamente torna-se impossível constatar que o museu tenha um problema sério de visitantes a mais, mas sim um problema com a Mona Lisa, já que nenhuma outra obra de arte monopoliza a sua instituição da forma como esta o faz.

Se o número de visitantes continuar a crescer ao ritmo com que o tem feito até agora, esta atração poderá tornar-se um problema de segurança. Apesar de estar longe de tomar medidas mais radicais como fez o Metropolitan Museum de Nova Iorque (que oferece um bilhete gratuito aos residentes e cobra 25 dólares aos turistas), o bilhete de entrada no Louvre subiu de 7 euros em 2000 para 15 (17 se reservar, com garantia de que entra), e as previsões são que inflacione ainda mais. Tal como aconteceu com Guernica, de Picasso, em Madrid, ou com o retrato da Nossa Senhora da Guadalupe na Cidade do México, a solução poderá ser construir um pavilhão próprio apenas dedicado à pintura de da Vinci, relocação esta que já foi pensada pelos curadores do Louvre na década de 90 aquando da expansão da ala Richelieu, mais tarde descartada porque o número de visitantes era menos de metade do atual. Apesar de esta solução ser publicamente apoiada e discutida há quem acredite que tal nunca vai acontecer pelo facto de a Mona Lisa ser a jóia da coroa do Louvre.

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