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As revelações de Michelle Obama

Publicamos, num exclusivo nacional, um excerto de Becoming, o recém-lançado livro de Michelle Obama, em que a ex-primeira-dama reflete, entre outras coisas, sobre a importância da moda na construção da sua imagem.

28 de novembro de 2018 às 07:00 Rita Lúcio Martins

Publicado a nível internacional no início de novembro e logo muito aplaudido pela crítica, o livro de memórias da antiga primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obamaé uma reflexão intimista sobre o seu percurso, mas também um incentivo.

"Espero que os meus leitores também reflitam sobre a sua própria história, que os ajudará, por certo, a tornarem-se a pessoa que aspiram ser. A vossa história é o que têm, o que terão sempre. É um valor que detêm", avançou a autora. Com uma capa fotografada por Milley Mobley, o livro retrata o percurso de Michelle desde a infância, em Chicago, até à vida na Casa Branca, sem esquecer a dimensão mais pessoal nem dispensar o tom mais confessional.

 

Excerto de Becoming, A Minha História, de Michelle Obama (Objectiva)

"A certa altura, durante a campanha do Barack, começaram a reparar na minha roupa ou, pelo menos, a comunicação social reparou na minha roupa, o que pareceu levar os bloguistas de moda a prestar atenção e a provocar todo o género de comentários na Internet. Não sei precisar o motivo por que isso aconteceu possivelmente porque sou alta e não tenho medo de usar padrões ousados , mas parece que assim foi. Quando usava saltos rasos em vez de altos, isso era noticiado. Os meus colares de pérolas, os meus cintos, os meus casacos de malha, os meus vestidos do pronto-a-vestir da J. Crew, a minha escolha, aparentemente corajosa, do branco para o vestido de cerimónia da tomada de posse: tudo parecia desencadear uma chuva de opiniões e uma reação imediata. Usei um vestido sem mangas, cor de beringela, no discurso do Barack durante a sessão conjunta do Congresso e um vestido-tubo, preto sem mangas, para a minha fotografia oficial da Casa Branca e, de repente, os meus braços eram título de notícia. No final do verão de 2009 fizemos uma viagem de família ao Grand Canyon, e fui fortemente criticada por aparente falta de dignidade ao ser fotografada a sair do Air Force One (com 41 graus Celsius de temperatura, devo dizer) vestindo calções. Parecia que para as pessoas a minha roupa era mais importante do que o que quer que eu tivesse a dizer. Em Londres, saí do palco depois de me ter emocionado até às lágrimas, enquanto falava às raparigas na Escola Secundária Elizabeth Garrett Anderson, para acabar por saber que a primeira pergunta dirigida a um dos membros da minha equipa por um repórter que fazia a cobertura do evento havia sido: ‘Quem lhe fez o vestido?’ Aquilo deitou-me abaixo, mas tentei reenquadrar a questão como uma oportunidade de aprender a usar toda a força que pudesse arranjar numa situação que eu nunca escolhera. Se as pessoas folheavam uma revista essencialmente para ver a roupa que eu usava, esperava que vissem também o cônjuge de um militar que estava ao meu lado ou que lessem o que eu tinha dito sobre saúde infantil. Quando, pouco depois de o Barack ter sido eleito, a Vogue me propôs ser capa da revista, a minha equipa discutiu se isso me faria parecer frívola ou elitista num período preocupante para a economia, mas acabámos por decidir avançar. Sempre que uma mulher de cor aparecia na capa de uma revista era importante. Para a sessão fotográfica, fiz questão também de escolher a minha roupa e usei vestidos do Jason Wu e do Narciso Rodriguez, um estilista latino muito talentoso. Sabia alguma coisa de moda, mas não muito. Como mãe e profissional, estivera demasiado ocupada para prestar muita atenção ao que vestia. Durante a campanha, tinha comprado a maior parte da roupa numa boutique em Chicago, onde tive a sorte de conhecer uma jovem assistente de vendas chamada Meredith Koop. A Meredith fora criada em St. Louis, era arguta, conhecia bem diversos estilistas e tinha uma sensibilidade jovial para a cor e a textura. Depois da eleição do Barack, consegui convencê-la a mudar-se para Washington e trabalhar como minha assessora pessoal e consultora de imagem. Depressa se tornou uma amiga fiel. Umas vezes por mês, Meredith aparecia no quarto de vestir da residência oficial a empurrar vários charriots de roupa enormes, e passávamos uma ou duas horas a provar coisas e a adaptar toilettes à minha agenda das semanas seguintes. Todas as minhas roupas e acessórios eram pagos por mim, com exceção de peças, como alguns vestidos de cerimónia de alta-costura, que usava em ocasiões oficiais e que eram emprestados por estilistas e depois doados aos Arquivos Nacionais, respeitando assim as orientações éticas da Casa Branca. Quanto às minhas escolhas, tentava ser um pouco imprevisível, para evitar que alguém atribuísse qualquer tipo de mensagem ao que eu vestia. Era uma caminhada no fio da navalha. Devia destacar-me sem ofuscar os outros, misturar-me mas sem me diluir. Sendo negra, sabia que seria criticada se me achassem espalhafatosa e luxuosa, e seria também criticada se estivesse demasiado simples. Por isso, fazia combinações. Misturava uma saia de alta-costura da Michael Kors com uma T-shirt da Gap. Num dia, usava uma coisa da Target e no dia seguinte uma da Diane von Furstenberg. Queria chamar a atenção e prestigiar estilistas americanos, sobretudo os menos divulgados, ainda que isso por vezes desiludisse os da velha guarda, incluindo Oscar de la Renta, que terá manifestado desagrado por eu não usar as suas criações. Para mim, as minhas escolhas eram apenas uma maneira de usar a curiosa relação com o olhar do público para incentivar um grupo diferente de talentos em ascensão. No mundo político a imagem comandava quase tudo, e eu levava isso em conta em todas as toilettes. Exigia tempo, reflexão e dinheiro mais dinheiro do que jamais gastara em roupa. Exigia também uma pesquisa cuidadosa da Meredith, sobretudo nas viagens ao estrangeiro. Passava muitas vezes horas a confirmar que os estilistas, as cores e os estilos que escolhíamos expressavam respeito pelo povo e o país que visitávamos. Antes das ocasiões públicas, a Meredith fazia compras também para a Sasha e a Malia, o que aumentava a despesa geral, mas o olhar do público incidia também nelas. Às vezes suspirava ao ver o Barack tirar do armário o mesmo fato escuro e dirigir-se ao trabalho sem precisar sequer de um pente. A sua grande reflexão para uma ocasião pública era se deveria ter o casaco vestido ou não. Gravata ou não? Eu e a Meredith tínhamos cuidado para que estivesse sempre preparada. No meu quarto de vestir, enfiava um vestido novo e acocorava-me, fazia uma genuflexão e rodava os braços, apenas para confirmar se me conseguia mexer. O que me restringisse demasiado voltava para o cabide. Quando viajava, levava roupa a mais, prevendo alterações de clima e de horário, já para não falar de cenários de pesadelo, como vinho entornado ou fechos-éclair avariados. Aprendi também que era importante, fosse como fosse, levar sempre um vestido adequado a um funeral, porque o Barack era por vezes chamado, com pouca antecedência, a estar presente quando militares, senadores e dirigentes mundiais eram levados à última morada. Acabei por depender muito da Meredith, mas também do Johnny Wright, o meu cabeleireiro tagarela e um furacão de riso, e do Carl Ray, o meu meticuloso maquilhador de voz suave. Juntos, os três (designados como ‘o trio’ pela minha equipa alargada) davam-me a confiança necessária para aparecer diariamente em público, sabendo todos nós que um deslize levaria a uma enxurrada de comentários ridículos e maldosos. Nunca esperei ser alguém que contratasse outras pessoas para manter a minha imagem e, a princípio, essa ideia era incómoda. Mas depressa descobri uma verdade de que ninguém fala: hoje, quase todas as mulheres na vida pública políticas, celebridades ou seja o que for têm uma versão da Meredith, do Johnny e do Carl. Trata-se de uma exigência, um preço incluído no nosso estatuto social especial. Como tinham as outras primeiras-damas gerido os seus problemas de penteado, maquilhagem e guarda-roupa? Não fazia ideia. Várias vezes ao longo daquele primeiro ano na Casa Branca, dei comigo a pegar em livros das anteriores primeiras-damas ou sobre elas, mas largava-os sempre. Quase não queria saber o que havia de igual e de diferente entre qualquer uma de nós."

Veja aqui o vídeo que apresenta o livro:

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