Ana Marta Ferreira: "Quando somos mães, parece que o sexo deixa de ser discutido"
Mãe de Vasco, 5 anos, a atriz confessa que adorou estar grávida mas nem sempre ficou satisfeita quando todos queriam pegar no seu bebé recém-nascido. As birras e dramas do filho tiram-na do sério, mas admite que ser mãe é maravilhoso.

Qual foi a sua reação quando soube que estava grávida do Vasco? Quem foi a primeira pessoa a quem contou, e quais foram as reacções mais inesperadas?
A minha reação foi de pânico, porque eu já queria ser mãe, mas mesmo assim não deixei de ficar super assustada. Na altura, a primeira pessoa que soube foi o pai do Vasquinho. As reações da família… A minha mãe ficou um pouco assustada, mas passado uma semana ou duas de saber já queria preparar tudo para o nascimento do bebé.

Como foi a experiência da gravidez? Prós e contras, vale tudo…
Tive uma gravidez fantástica, adorei. A única coisa que foi má foi a azia, sobretudo quando a barriga começou a crescer um pouco mais e o bebé já ocupava algum espaço na minha barriga. Foi horrível, tive quase toda a gravidez a Kompensan, era a única coisa que me ajudava. Não é aconselhável mas eu engordei 24 quilos. A comida nunca me soube tão bem na vida, não gostava de chocolate e passei a gostar. A Coca-Cola e a comida chinesa eram o que mais me apetecia (risos).


Quando o Vasco nasceu quais foram os seus primeiros pensamentos? Foram sensações avassaladoras?
O Vasquinho nasceu de parto normal. A primeira coisa que eu pensei quando olhei para ele foi "Oh meu deus, que bebé tão lindo!". Estava super inchado, gordinho, com quase 4 quilos e 53 centímetros. Não conseguia parar de chorar. De repente o ser que estava dentro da minha barriga estava cá fora.
Lembra-se de quais foram (são) as recomendações mais "enervantes" dos amigos e da família?

Já não me lembro ao certo, mas eu também só retenho aquilo que quero. O que me interessa ouvir, guardo no meu pensamento. Outras coisas entravam por um ouvido e saiam por outro. Mas claro que tudo o que é relacionado com o cuidar do bebé, as fragilidades do bebé, o como fazer as coisas, nada melhor que os nossos pais e avós [para ajudaren]. A única coisa que me enervava imenso aconteceu logo quando o Vasquinho nasceu, e porque a minha família é numerosa, toda a gente queria pegar-lhe. Tinha acabado de sair de mim, e já estava a ser do mundo e das outras pessoas também, e de repente toda a gente lhe queria mexer. Isso tirava-me do sério.
De que maneira experienciou e vivenciou o parto?

O meu parto foi normal, com epidural, num hospital público, e fui muito bem tratada. Os médicos anestesistas estavam sempre a perguntar se eu sentia dores. Tive um parto rápido, às 10h30 estava pronta na sala de partos, e o Vasco nasceu às 10h50. Eu acho que hoje em dia gostava de ter um parto mais natural, ganhar coragem, fazer uma coisa diferente como um parto dentro de água.
Quando é que o seu filho a tira do sério?
Tantas vezes (risos). O Vasquinho vai fazer cinco anos, ele é muito querido e educado e tem muito amor. Mas às vezes é dramático demais, chora logo que digo "não". Às vezes diz uma coisa, eu já ouvi, mas ele repete mais cinquenta vezes até eu responder! As birras e o chorar por tudo e por nada, fazer dramas é das coisas que me tiram do sério. Nunca fui uma pessoa de crianças, só se fossem miúdos mais crescidos.

Quais são os maiores desafios da maternidade, numa sociedade que exige tanto das mulheres?
Ser mãe já é um desafio. Uma mãe é uma mãe, e já tem muito mais responsabilidades [do que um pai], acaba por ser a pessoa que faz mais pelos filhos. Claro que numa sociedade em que as mulheres infelizmente continuam a ser rebaixadas e não lhes é dado o devido valor, não devíamos ter os homens a achar que devemos ser nós a fazer tudo. Estar em casa a tratar da casa, tratar dos filhos, levá-los à escola, por a roupa a lavar, fazer o jantar. Os desafios já são tantos a partir do momento em que somos mães, não é justo que nos continue a ser exigido tanto. Felizmente tenho uma pessoa que me acompanha e divide tudo, mas é demasiada exigência, e sei que há mulheres que se sentem culpadas se não cumprirem com as coisas.
É importante ter momentos só para si? De que forma é que consegue fazê-lo?
Claro que sim. Eu tenho guarda partilhada com o pai do Vasquinho, por isso semana sim, semana não, tenho tempo só para mim. Tenho uma semana inteira para estar totalmente focada em mim. Mas dou muito valor às mães que fazem um trabalho diário, sete dias por semana com os filhos. Às vezes é complicado porque nem sempre há possibilidade de deixar os filhos com a família ou amigos. Isto de ter filhos é maravilhoso, é das melhores coisas do mundo, mas exige muito dos pais. Estamos a criar um ser humano, e só sentindo-nos bem é que podemos passar o melhor exemplo aos nossos filhos.
O que é que continua a ser tabu na maternidade, no ser-se mãe?
Eu não tenho grandes tabus, sobretudo com as pessoas que me rodeiam. Mas talvez seja a sexualidade das mães. Parece que quando somos mães e mulheres, o tema do sexo deixa de ser discutido. Como se não fosse uma coisa presente. Eu fui mãe aos 22 anos, separei-me, e continuo a ser uma jovem adulta. Já tive amigas que também são mães e já lhes aconteceu alguém não estar com elas por já serem mães. Eu acho que há um tabu nesse sentido. Parece que a partir do momento em que somos mães, passamos a ser inválidas. Poderia haver mais abertura neste tema, entre as mulheres que são mães. A sexualidade é importante, porque nos faz bem, à cabeça, ao corpo, sentimo-nos mais alegres.
