"31 Mulheres" no MAC/CCB. Muito mais que mulheres objeto
É o nome da mostra que pode ver-se no museu, até 29 de junho. Uma seleção e reinterpretação de "The 31 Women Collection", que reúne trabalhos de artistas que integraram a histórica exposição. Uma espécie de reconhecimento à iniciativa de Peggy Guggenheim, cujo feito foi juntar um friso só de mulheres numa galeria nova-iorquina, em 1943, numa era ainda mais patriarcal.
Março, abril de 2020. O que faz uma produtora da Broadway na sala de estar de sua casa em Nova Iorque durante a pandemia, com três filhos para alfabetizar? Para não enlouquecer, inventa uma exposição. Na conferência de Imprensa, Jenna Segal confessa que "31 Mulheres começou por ser um projeto covid-19, mas excedeu todas as suas expetativas". Na verdade, a história desta exposição remonta à década de 90, quando Jenna Segal estudou em Espanha e, mais tarde, já em modo backpacker, visitou a Coleção Peggy Guggenheim, em Veneza, onde a biógrafa e colecionadora norte-americana viveu até 1979, ano em que morreu.


A paixão de Jenna Segal por Peggy Guggenheim começou há cerca de 30 anos, mas quando regressou ao livro Out of This Century: Confections of Art Addict, autobiografia de Guggenheim, fez uma paragem no capítulo "31 mulheres", que faz uma incursão na primeira mostra dedicada em exclusivo a seres do sexo feminino nos EUA. Seguindo pistas deixadas pela colecionadora, Jenna Segal começa a comprar no Ebay obras das artistas que participaram nesta exposição, tendo como propósito valorizar o trabalho artístico da mulher.
Em 1943 Peggy organizou na sua galeria Art of the Century uma exposição chamada Exhibition by 31 Women. Um dos propósitos da mostra era dar destaque ao trabalho de mulheres artistas que a mentalidade patriarcal rotulava como musas, imitadoras, ou meras companheiras de artistas famosos.


A mulher deixava assim de ser uma simples observadora da história da arte para também tomar parte nela. Conta Nuria Enguita, atual diretora artística do MAC, que esta exposição é uma homenagem a Peggy Guggenheim, à galeria Art of the Century, e à mostra que aí esteve em 1943. Uma ideia de Marcel Duchamp que Peggy terá posto em prática com a ajuda de Alfred Barr, na altura diretor do MoMa. A relação entre as artistas participantes da mostra e respetivas ligações com Guggenheim pode ser vista na primeira sala da exposição.
Estas relações entre colecionadores, curadores e artistas, emergentes ou não, está presente na primeira sala desta exposição temporária. A exposição foi dividida em quatro capítulos pela comissária Patricia Mayayo.


Tanto "Eu como Arte" e o "Bestiários" desafiam os limites do género. As artistas usam disfarces, colocam-se como heroínas, vão muito além do que a sociedade dos anos 40 – em plena segunda guerra mundial – esperava das mulheres.
Como o nome indica, nos "Bestiários", as mulheres artistas, próximas do surrealismo, relacionam-se com outras espécies, neste caso animais. "Os cavalos, no caso de Leonora Carrington, ou os corvos e os gatos, no caso de Leonor Fini".
Segue-se o capítulo "Estranhamente Familiar". Lembra Nuria Enguita que "a interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud, foi muito importante para o Surrealismo". O conceito "unheimlich", do psicanalista, refere-se ao "horror que se sente quando as coisas familiares adquirem características desconhecidas". Esta ideia atravessa várias obras desta secção, como as flores carnívoras, de Anne Harvey, as frutas em formato de maminhas, de Gypsy Lee Rose, ou ainda o Souvenir, de Meret Oppenheim - uma reinterpretação de 1972 de Déjeuner en Fourrure, uma das suas peças mais conhecidas e que terá sido selecionada por Peggy Guggenheim em 1943. Estranheza causam também os corpos sem rosto de Kay Sage, num espaço doméstico que de repente se converte num território impuro e insólito. Portas que se abrem e que levam o público para lugares obscuros que o olhar não alcança, mas que a imaginação pressente, como a paisagem de Dorothea Tanning que nos projeta para o mundo onírico.


O último capítulo, "Linguagens da Abstração", aborda a forma como as artistas que participaram em 31 Women criaram novos vocabulários da abstração. Nuria Enguita dá o exemplo das composições de Sophie Taeuber-Arp. Muitas destas mulheres estavam próximas das artes decorativas e contribuíram para fundir várias práticas artísticas entre si, tendência que marca o trabalho das mulheres artistas desde o início do século XX. Um vidro com geometria azul, de Irene Rice Pereira, pode ter tido inspiração nos vitrais das catedrais, e os labirintos urbanos da obra de Helena Vieira da Silva poderão ter como "musa" a azulejaria tradicional portuguesa. Como conclui Patricia Mayayo no catálogo da exposição, esta antecipa "a possibilidade de contar uma história diferente, enfatizando as redes de colaboração e solidariedade femininas". Lembrando a posição estratégica da capital portuguesa durante a segunda Guerra Mundial para muitos refugiados e expatriados, cujo destino final seria os EUA, Jenna Segal quis sublinhar que maior parte destes artistas "só reencontraram de novo a sua comunidade e o seu lugar seguro depois de passarem por Lisboa".


Juntamente com Max Ernst, Peggy Guggenheim passou por Portugal no verão de 1941. A colecionadora, que começara a comprar obras de arte antes de deixar França por causa da ocupação nazi, e também grande parte das artistas que figuram nesta mostra, são refugiados que fizeram a mesma travessia atlântica. "Quero lembrar como Peggy Guggenheim ajudou a salvar a humanidade através da arte: como americana sei o que se está a passar no mundo, e espero que, ao mostrar a nossa história comum, nos possamos lembrar quão importantes somos uns para os outros", disse ainda a produtora da Broadway. 31 Mulheres é uma mostra temporária que se insere numa leitura renovada da Coleção do Museu de Arte Contemporânea. Chama-se Uma Deriva Atlântica. As Artes do Século XX a partir da Coleção Berardo. Em permanente transformação, esta exposição permanente – como o próprio nome indica – "faz e desfaz caminhos pelas artes do século XX".
Centro Cultural de Belém / Museu de Arte Contemporânea
Até 29 de junho. Terça a domingo. Das 10h às 19h. €10-€20

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