Clarice Lispector editada em Portugal. “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”
Esta é uma frase do romance “Perto do Coração Selvagem”, o primeiro que a autora escreveu, quando tinha apenas 23 anos, e que foi aclamado como obra-prima. Para quem ainda não conhece a escrita moderna, disruptiva e audaz de Lispector, a Companhia da Letras publica agora a sua obra completa.

Todos os anos saem para o mercado livros que são "grandes acontecimentos literários". Ou, pelo menos, é nisso que as editoras acreditam e é nisso que esperam que os leitores acreditem também. De tempos a tempos, porém, acontece uma coisa que não pode ser descrita de outra forma: é, de facto, um acontecimento literário – como é o caso da publicação da obra completa da escritora Clarice Lispector, uma iniciativa da Companhia das Letras, uma chancela da editora Penguin Random House. A autora, que nasceu na Ucrânia e emigrou com a família, ainda bebé de colo, para o Brasil, decidiu fugir da Revolução Bolchevique rumo a uma vida mais segura – até nisso a sua história de vida é estranhamente moderna. Lispector foi jornalista e autora de romances, contos e ensaios. E, embora não se identificasse ativamente com a causa feminista, é inegável que a sua escrita tem levado as mulheres, ao longo das décadas, a questionar a sua identidade, a sua sexualidade, a maternidade e as imposições e expectativas sociais de que são alvo. Acima de tudo, a sua escrita dá voz às angústias, desejos e complexidades da experiência feminina, de uma forma disruptiva e ousada.


Figura maior da literatura do século XX, em Portugal, Clarice Lispector é bem conhecida dos académicos e intelectuais – afinal, era possível ler as edições brasileiras –, mas não tanto do grande público. Surge agora a oportunidade de corrigir essa falha. No final do mês passado, foram publicados quatro romances centrais na sua obra: Perto do Coração Selvagem, A Paixão Segundo G.H., Água Viva e Um Sopro de Vida. Ainda este ano, no outono, será publicado um livro inédito em Portugal, que reúne crónicas e outros textos: Para Não Esquecer. Seguir-se-ão, nos próximos anos, os restantes romances, assim como vários volumes de contos, crónicas, cartas e uma antologia de textos para a infância.
Na apresentação do lançamento desta coleção, as editoras Clara Capitão e Madalena Alfaia referiram que "Clarice ousou escrever sobre as aresta mais recônditas do nosso pensamento, sobre os sentimentos e desejos mais inconfessáveis. Clarice procurou e encontrou formas incrivelmente inovadoras de escrever sobre identidade e liberdade, apontando sempre ao coração da vida".


Para atrair novos leitores, que não conheçam a autora, a editora pediu a escritores, académicos e estudiosos da obra de Clarice – Susana Moreira Marques, Carlos Mendes de Sousa, Joana Matos Frias e Pedro Mexia – que escrevessem prefácios a acompanhar cada livro, uma espécie de guia de viagem. Mas ao invés de estarem escondidos no início dos livros – até porque há leitores que evitam os prefácios, como medo de spoilers –, estes prefácios estão escritos na badanas – um dos primeiros sítios onde se dirige o olhar do leitor, quando está a decidir se deve ler (ou comprar) determinado livro. Quando pegar, por exemplo, em Perto do Coração Selvagem, na badana, o leitor encontrará a escritora Susana Moreira Marques que lhe dirá o seguinte: "Mais do que biográfico – com traços da infância e adolescência da autora – mais do que um romance de formação, como são tantas obra de estreia, este é um livro que biografa o futuro de uma mulher que rapidamente iria casar, ser esposa de diplomata, desejar filhos, ficar constrita entre vários quadrados e retângulos, incluindo os dos seus livros. Embora na época parecesse alheio às convulsões políticas do mundo, este é também, afinal, um romance político – capaz de, décadas depois, fazer-nos olhar de novo para as mulheres tristemente felizes. Às vezes – damos conta, entre as muitas promessas da vida contemporânea –, essas mulheres somos nós."


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