
Sabermos que não temos mão na maior parte das coisas que acontecem é fundamental para o afrouxar da ansiedade. Desde criança que sempre quis controlar tudo, fosse em casa ou na escola. Sentia que se me esforçasse e estivesse atenta, as coisas estariam sempre sob o meu domínio. Com o passar do tempo, nomeadamente com a morte do meu avô ainda na minha infância, fui compreendendo que não era bem assim, que a chamada ordem das coisas na vida era o contrário disso: sem ordem nenhuma. Percebi que a vida e aquilo que nos acontece é um caos impossível de organizar.
Quando fui mãe, nos primeiros meses da maternidade, lembro-me que a minha ansiedade esteve ao rubro. Queria controlar tudo, do sono da bebé à alimentação, das inevitáveis primeiras maleitas às cólicas que a faziam sofrer. Por isso padecia diariamente de uma ansiedade excruciante: as coisas aconteciam fora do meu controlo, era simplesmente impossível manter tudo em paz, comigo e com a minha bebé.
Ainda hoje sofro bastante de um sentimento de querer controlar tudo, embora saiba agora o quão inútil e estúpido é este sentimento. Sei que não tenho mão em quase nada. As coisas acontecem e o que é preciso é saber lidar com elas ou não lidar de todo — por vezes fugir também é uma opção. Não quero ser moralista, isto não é um texto para dar conselhos ou soluções de vida. Aliás, se tenho noção de que não sei viver como posso aconselhar alguém? Será que alguém sabe viver? Quantas vezes nos colocamos esta pergunta? Só através de um olhar mirone de quem espreita pela fechadura da casa alheia (digital ou real) é que temos a ideia de que talvez os outros vivam melhor do que nós. Porém, trata-se de uma visão irrealista criada pela distância. Sabemos que ninguém sabe viver bem quando analisamos aqueles que se chegam mais perto de nós. Dá-me a sensação de que vamos avançando umas vezes ao sabor da maré, outras debatendo-nos com as correntes indubitavelmente invencíveis. Mas saber viver, ter noção daquilo que andamos cá a fazer e fazê-lo bem, ninguém sabe. Por isso esta ideia de domínio que gera problemas de ansiedade é, de facto, patética, mas ineludível porque também é humana a vontade de querer que tudo corra bem. Sabemos que o Verão está a terminar e que até mesmo as estações têm sofrido mudanças. Não temos controlo sobre nada mas percebemos que é a imposição do calendário, e não da natureza, que nos acerta o passo de forma colectiva. Passamos a vida a tentar controlar o ingovernável.
*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.

Maternidade, ansiedade, Cláudia Lucas Chéu
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