Vender leite materno online. A nova trend que pode render mais de €860 por mês

É dos Estados Unidos que chega esta nova tendência. Dezenas de milhares de mulheres estão a vender o seu leite materno em grupos do Facebook. Podiam doá-lo a hospitais pediátricos, mas preferem ganhar dinheiro. Afinal, apesar das dúvidas que suscita, é um negócio rentável.

Mulheres vendem leite materno online nos EUA, em vez de doar Foto: Unsplash
29 de julho de 2025 às 09:44 Madalena Haderer

A amamentação, diz a Organização Mundial de Saúde, a UNICEF e todos os pediatras debaixo do sol, é a melhor forma de alimentar um bebé e deve ser posta em prática, pelo menos, até aos seis meses de idade. Isto porque tem não só benefícios para o recém-nascido, como para a mãe. Por um lado, é um alimento completo, seguro e adaptável às ; contém anticorpos que reforçam o sistema imunitário e protegem contra doenças comuns como diarreia, infeções respiratórias e otites; e reduz o risco de condições crónicas, como obesidade, diabetes tipo 1, asma, alergias, entre outras. Por outro, promove uma recuperação pós-parto mais rápida, ajuda a criar laços entre a mãe e o bebé e, de acordo com o norte-americano Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), pode reduzir a probabilidade de a mulher vir a desenvolver cancro do ovário, cancro da mama, diabetes tipo 2 e hipertensão. Além disso, a amamentação é uma prática mais sustentável: não requer produção industrial, embalagem ou água, reduzindo o impacto ambiental e os custos para o orçamento familiar e de saúde pública. Tudo muito lindo, mas e as mulheres que não conseguem, não querem ou não podem amamentar? Pois, como em tudo na vida, onde há procura há oferta – e dinheiro para ganhar. E não, não estamos a falar de leite em pó.

Nos Estados Unidos, a taxa de amamentação é uma das mais baixas entre os países industrializados. Para isso muito contribui o facto de o país não ter paga obrigatória, razão pela qual a maioria das mulheres tem de regressar ao trabalho tão cedo quanto possível – normalmente, entre quatro a seis semanas após o parto –, inviabilizando ou, no mínimo, dificultando muitíssimo, a amamentação. No entanto, isso tem vindo a mudar nos últimos anos, com a ascensão do movimento Trad Wives, que promove um estilo de vida conservador, com as mulheres a ficarem em casa a tomar conta dos filhos e das obrigações domésticas, enquanto os maridos trabalham para o sustento de todos.

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Outro movimento em expansão é o Make America Healthy Again – ou MAHA, uma variação do MAGA, em que “healthy” é substituído por “great” –, com Robert F. Kennedy, o secretário da Saúde, a ordenar, no mês passado, uma investigação sobre os benefícios nutricionais do leite em pó para bebé, dando azo a discussões sobre se essa será, de facto, a melhor forma de alimentar os recém-nascidos. A mudança, porém, já vem de trás e, de acordo com o jornal britânico The Sunday Times, tem havido “um aumento significativo na percentagem de bebés amamentados: de 60% em 1994 para 77% em 2005 e, em 2024, cerca de 83%, segundo dados do CDC”.

O que faz, então, uma mãe de recém-nascido que não possa ou não consiga amamentar, mas que, ainda assim, deseje que o seu filho seja alimentado com leite materno? De acordo com o jornal britânico, uma das opções é recorrer a um de diversos grupos de Facebook onde inúmeras mães vendem o seu próprio leite – uma nova e engenhosa maneira de ganhar dinheiro. O The Sunday Times dá o exemplo do grupo Breastmilk Community for All, que conta com cerca de 33 mil membros, indiciando que há dezenas de milhares de mães que utilizam bombas para extrair o seu próprio leite que prontamente congelam e põem à venda, e outras tantas interessadas em comprá-lo para alimentar os seus bebés. Um negócio informal que, em consonância com os padrões laissez faire, laissez passer da economia norte-americana é legal, mas desaconselhado pela Food and Drug Administration – a agência governamental que gere os medicamentos e os produtos alimentares. Isto porque não há forma de confirmar ou atestar a qualidade deste leite, as condições de higiene em que foi extraído e armazenado, as condições do transporte, se a mulher tem alguma doença que possa ser transmitida através do leite – como o HIV – ou sequer se se trata mesmo de leite materno. 

Não obstante as dúvidas que possa suscitar, o negócio parece ser rentável, com algumas das mulheres que vendem o seu leite online a relatarem ao jornal britânico conseguirem faturar mais de mil dólares (cerca de 860 euros) por mês. Do outro lado da transação, o The Sunday Times refere o caso de Briana Westland, mãe de uma bebé de quatro meses que da medicação que toma e que, como tal, gasta cerca de 1200 dólares (mil euros) por mês em leite materno para alimentar a sua filha – um valor, no mínimo, quatro vezes superior ao custo mensal de alimentar um bebé com leite em pó.

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