Design. De achados vintage, a Artek cria tesouros para toda a vida
É essa a filosofia de Timo Penttilä, um dos responsáveis pela iniciativa 2nd Cycle, da Artek, uma empresa finlandesa de mobiliário. À Máxima fala sobre a importância da sustentabilidade e de como comprar com consciência é a única forma de salvar o planeta.
Foto: Artek 2nd Cycle18 de junho de 2021 às 07:00 Joana Moreira
Reduzir, reutilizar e reciclar. A política dos 3 Rs não é nova. Surgiu na Conferência da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, e voltou a ser tema no 5º Programa Europeu para o Ambiente e Desenvolvimento, um ano depois. Mas nunca como agora a sustentabilidade esteve tão em cima da mesa, tanto nos fóruns de debate como nas conversas mais rotineiras no espaço público. As marcas dos mais diversos setores despertam cada vez mais – algumas pressionadas pelos consumidores – para este tema. Contudo, será possível comprar de forma totalmente sustentável? Dificilmente. Porém, há formas de reduzir o impacto no ambiente. "Comprar peças de boa qualidade para manter, usar e dar aos filhos ou a alguém – acho que é a única forma de operarmos se queremos salvar o planeta", sugere-nos, via Zoom, Timo Penttilä, um dos membros do projeto Artek 2nd Cycle. A iniciativa da empresa de mobiliário finlandesa Artek que deu lugar a uma loja-galeria em Helsínquia, um oásis para os fãs de peças raras de design.
The Stool 60, o famoso banco de Alvaar Aalto (1898-1976), criado em 1933, e até hoje um ícone repetidamente copiado, é uma das peças mais populares e procuradas. É apenas uma das muitas que a equipa de experts em design vintage encontra, restaura quando necessário, e vende. O objetivo é incentivar o consumo consciente com slogans como "buy now keep forever", evitando assim a nova produção e a criação de excedente. Na loja, uma cave cuja extensão não se descobre por quem passa rapidamente na rua, estão peças maioritariamente finlandesas. "99.9% [dos itens] são de design finlandês. Claro que se alguém nos oferecer um bom candeeiro italiano, nós compramos, claro. Mas não estamos ativamente à procura", diz Timo.
Foto: Artek 2nd Cycle
Está envolvido nesta iniciativa desde o início. Como é que surgiu esta ideia de encontrar e recuperar peças antigas?
O conceito começou em 2005 ou 2006, quando a Artek, com o anterior CEO, começou a encontrar estes bancos e cadeiras muito baratos, mas lindos. Acho que não era uma visão muito nítida na altura, mas queríamos comprá-los e investigá-los. Há 15, 16 anos, eram muito, muito baratos. Lentamente começou a formar-se a ideia de despertar consciências para a nossa herança e para os produtos de Alvar Aalto. E também de os valorizar.
Foto: Artek 2nd Cycle
Como pensaram a loja, que faz as vezes de galeria, chegou?
Pensámos que precisávamos de fazer algo com o stock que tínhamos. Em 2011, ficámos com este espaço que temos agora e decidimos pôr peças de coleção de museu aqui e fazer disto uma galeria.
Como é o processo de descobrir peças raras?
Mudou muito. Quando começámos era mais fácil, havia mais produtos e eram mais baratos. De certa forma é mais complicado e caro agora. Ainda há pouco tempo dizia que uma das missões estava concluída, porque hoje quando se vai a um mercado em segunda mão e se quer comprar algo Aalto ou Artek já é tudo caro. Quer dizer, não é caro, é valorizado. As pessoas sabem o que estão a vender. Isso foi uma das missões iniciais. Nesse sentido, tivemos sucesso. Hoje compramos a particulares, sobretudo na Finlândia. Às vezes também compramos em leilões, ou através de vendedores internacionais, mas é muito caro enviar uma peça dos Estados Unidos, por isso é preciso que seja mesmo uma peça ao nível de estar no museu, ou um item muito valioso mesmo.
O mercado da compra e venda de peças também mudou?
Sim, hoje há muitas pessoas que têm o seu trabalho normal, diário, e que depois andam atrás destas peças para tentar fazer algum dinheiro extra. É um mundo um bocadinho selvagem. Quando alguém encontra algo por 500 euros que sabe que consegue vender por cinco mil... É fácil imaginar que há muitos caçadores por aí. Nós acabamos por contar com as relações e conhecimentos que já temos. Quando começamos, há 10 anos, era mais fácil. O primeiro grande lote de peças que comprámos foi de uma universidade, que estava completamente mobilada com peças Aalto. Compramos mil cadeiras e umas trezentas mesas. Peças que eles já não precisavam. Isso foi um grande começo para nós. Mas continuamos a comprar tudo o que conseguimos.
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Qual a peça que já sabe que desperta sempre interesse?
Acho que é sempre o banco Alvar Aalto, de três pernas.
Foto: Artek 2nd Cycle
O buy now keep forever é hoje um slogan popular, mas tem especificações no que toca a mobiliário?
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Nós gostamos que as pessoas invistam nas peças e que fiquem com elas o resto da vida, que as passem às gerações futuras. Acho que isso é o mais sustentável ecologicamente e também é inteligente, porque não faz muito sentido comprar uma peça, um sofá, uma cadeira, a cada meia dúzia de anos e depois deitá-las fora. Temos várias peças aqui de 1930, 1940 (...). Se for para comprar algo que seja de boa qualidade e para manter, usar e dar a aos filhos ou a alguém. Acho que é a única forma de operarmos se queremos salvar o planeta.
Foto: Artek 2nd Cycle
Com o crescimento de marcas que tornaram o mobiliário mais acessível criou-se também uma ideia de substituição fácil quando algo se estraga? Acha que estamos lentamente a voltar à ideia de reparar o que já temos?
Gostava muito que fosse nessa direção. Mas é um longo caminho para que as pessoas compreendam isso (...) Faz parte também do nosso marketing explicar às pessoas que os nossos produtos podem ser mais caros do que outras marcas de mobiliário, mas estes são bem feitos e podemos prometer que se usados corretamente podem durar 80, 50 anos, uma vida.