Critics Choice Awards. As mulheres lideram os prémios
A 26.ª edição, que teve lugar este domingo, 7, entregou vários dos seus prémios a mulheres. A Netflix destacou-se com 14 distinções e a red carpet voltou a ser virtual.
Liz Carmichael era, nos Estados Unidos dos anos 70, a mulher que ia revolucionar a indústria automóvel. Tudo graças ao Dale, um carro de três rodas, barato, e com um consumo tão baixo que desafiava as grandes empresas do setor. Durante a crise do petróleo um carro futurista conseguir percorrer 40 quilómetros por litro era... um sonho. E era mesmo, porque o Dale nunca existiu.
A série The Lady and The Dale, realizada por Nick Cammilleri e Zackary Drucker e produzida pelos irmãos Duplass (de Wild Wild Country), acaba de chegar à HBO em quatro episódios e podia contar apenas a história deste carro. Só que a mulher carismática que o tenta vender também tem muito que se lhe diga.
É que Liz já foi, em tempos, Jerry Dean Michael, um homem com uma vida pintada de peripécias e criminalidade. Era, no fundo, um vigarista. Tão vigarista ao ponto de ter sido mesmo acusado de querer mudar de género a pretexto de um "disfarce", para não ser reconhecido pelos seus feitos do passado. Mas Liz (nome escolhido em homenagem à atriz Elizabeth Taylor, por ser "o epítome do que uma mulher pode ser") garante que nasceu "no corpo errado".
A forma como esta complicada história está embrenhada, envolvendo direitos LGBT, criminalidade, fraude, polémicas, tribunal, faz-nos questionar a todo o momento como é que não se trata de uma obra de ficção. A sequência de acontecimentos é digna de série televisiva.
Ao longo de quatro episódios de The Lady and The Dale, cada um com quase uma hora, conhecemos ‘The Dale’, o carro, claro, e a polémica em torno daquilo que, no fim de contas, não era mais do que fogo-de-vista, já que um carro com aquelas características era tecnicamente impossível de construir. Conhecemos sobretudo ‘The Lady’, Liz Carmichael. É o passado enquanto Jerry Dean Michael, as muitas trafulhices, o momento em que decidiu fazer a transição, a reação da família a essa mudança, a forma como a sua vida mudou sempre ao seu ritmo, que nos motiva a ver todos os episódios da série de uma assentada (coisa que, por enquanto, ainda não é possível, já que falta chegar o quarto capítulo à plataforma de streaming).
O julgamento de Carmichael viria a ficar na história como um dos mais longos no Tribunal criminal de Los Angeles. Também as questões LGBT e a forma como os média trataram uma mulher trans naquela época, radicalmente distinta dos tempos que correm, merecem especial atenção. Ter, em tribunal, a identidade questionada é legítimo ou é preconceito? Esta é só uma das questões que The Lady and The Dale levanta. Cabe ao expetador encontrar as outras e, quem sabe, as respostas.