TaskHer. Uma empresa de serviços de bricolage só com mulheres

Num mercado onde a desigualdade de género ainda impera, afastando muitas mulheres da possibilidade de carreiras bem remuneradas, uma inglesa decidiu criar uma plataforma com carpinteiras, pedreiras, pintoras, canalizadoras e electricistas.

TaskHer capacita mulheres em profissões tradicionalmente masculinas no Reino Unido Foto: Pexels
03 de setembro de 2025 às 15:46 Madalena Haderer

Uma confissão: faz este mês quatro anos que esta jornalista mudou para a casa onde vive e ainda há quadros e espelhos encostados às paredes à espera de serem pendurados. Esta semana, um dos espelhos teve um encontro imediato com um gato, alucinado e aterrou no chão, numa espectacular explosão de estilhaços. E, há uns meses, aconteceu o mesmo a um quadro. Uns armários do Ikea têm vivido sem portas e, em casa da mãe da jornalista, dava jeito alguém que pendurasse uns candeeiros. Esta vossa humilde serva até nem é completamente inapta no que toca a bricolage, mas pendurar objetos nas paredes (ou no tecto), a menos que seja trabalho para um solitário prego, é coisa que não a assiste. Por outro lado… Contratar alguém para fazer o trabalho é assumir derrota. E, sinceramente, quem é que quer pagar a um homem para fazer aquilo que ele já acredita que nasceu para fazer? É que, como se sabe, os bebés do género masculino passam o canal vaginal já munidos de um martelo. Sabem o que é que ajudava bastante, leitoras? Ajudava bastante que uma pessoa pudesse contratar uma mulher.

Conclusão a que chegou Anna Moynihan. Esta inglesa de 43 anos contou ao jornal espanhol El País que, quando se mudou com a sua família para uma casa no sul de Londres a precisar de obras, assumiu as rédeas do projeto. Anna procurou e contratou trabalhadores especializados, com quem falou por email e telefone, acordando todos os detalhes. Quando chegavam lá a casa, porém, todos eles se dirigiam ao seu marido, Paul, e falavam diretamente com ele quando tinham dúvidas. Uma experiência que qualquer mulher que alguma vez tenha levado o seu carro a uma oficina acompanhada de um homem reconhecerá.

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“Pareceu-me uma loucura, eu era a pessoa com quem eles tinham estado a tratar, a fechar datas e orçamentos. Foi nesse momento que me dei conta de que não tinha visto uma única mulher em todas as páginas que tinha consultado. Investiguei e percebi o desequilíbrio de género que havia no setor, e o quanto era obsoleto”, explica. Foi assim que nasceu a ideia de criar a TaskHer, uma plataforma que põe em contacto particulares com canalizadoras, pedreiras ou eletricistas mulheres. Um projeto que marido e mulher abraçaram e que foi lançado em meados de 2022.

À Maddyness, uma revista digital especializada em empreendedorismo, startups e inovação, Anna Moynihan contou ainda que quando começou a investigar o mercado percebeu que não só não havia uma plataforma que divulgasse os serviços de empreiteiras, como, “no Reino Unido, apenas 5% destes trabalhos eram ocupados por mulheres”. Durante esta entrevista, que decorreu em julho do ano passado, Moynihan referiu ainda que “o Reino Unido enfrenta, atualmente, uma escassez de 166.000 profissionais de ofícios, com níveis de vagas em muitas áreas próximos de máximos históricos. Não tem havido (e não há atualmente) um esforço suficiente de recrutamento para encorajar mais pessoas (especialmente mulheres) a seguir uma carreira nesta indústria ou a mostrar os benefícios de trabalhar em profissões qualificadas, o que, sem dúvida, contribuiu para esta escassez”.

“A nossa missão,” conclui, “é tornar a canalização, a eletricidade e outros ofícios opções de carreira mais acolhedoras e atrativas para raparigas e mulheres. Estima-se que menos de 0,5% dos técnicos de gás e 2% dos eletricistas e canalizadores sejam mulheres. Como resultado, muitas perdem a oportunidade de aceder a carreiras bem remuneradas, sendo frequentemente canalizadas para trabalhos de baixo rendimento, como cuidados infantis e cabeleireiros, devido ao preconceito de género”. E acrescenta: “Queremos tornar o setor dos ofícios seguro, fiável e totalmente igual em termos de oportunidades, condições e remuneração.”

Sobre a forma de funcionamento da plataforma TaskHer, Anna diz que não acarreta qualquer custo para as trabalhadoras, tendo apenas que apresentar identificação e fazer prova das suas qualificações para que o seu perfil seja incluído. “Também garantimos a segurança das profissionais da TaskHer exigindo que quem reserva através da plataforma forneça o seu endereço, contacto e dados de pagamento, e incentivamos todas as nossas profissionais a abandonarem o local se se sentirem desconfortáveis”, explica.

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Em Portugal, não existe nada do género. A TaskRabbit, uma plataforma para agendar serviços de montagem de móveis e pequenas reparações, chegou a permitir escolher o técnico, mas já não é possível fazê-lo para a maior parte dos serviços, com os profissionais a serem atribuídos de forma automática – embora, enfim, para se poder escolher uma mulher, elas têm de existir na plataforma. Marketplaces digitais como Zaask ou Yoojo oferecem a flexibilidade de escolher o género do prestador de serviços, mas, ainda assim, nada que se assemelhe à TaskHer. 

Eis, portanto, uma oportunidade de negócio que teria, certamente, sucesso por cá. Fica a ideia, caso alguma mulher empreendedora nos esteja a ler…

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