Numa entrevista exclusiva — e sentida — ao site The Business of Fashion, Yohji Yamamoto lamentou o rumo que foi tomado pela indústria da moda nas últimas temporadas. Aos 82 anos, o criador japonês acredita que o negócio da moda "está a desaparecer" e mostra-se zangado com os modelos de negócio e filosofias estratégicas seguidos pelas grandes casas de luxo.
"A moda tornou-se uma piada. É tudo sobre o dinheiro", desabafa numa entrevista conduzida por Imran Amed, fundador do meio de comunicação digital dedicado à indústria. "As grandes empresas de moda são como miúdos a jogar futebol, estão apenas a correr atrás da bola. Não estão a pensar nos seus clientes", continua. "Acho que eles têm demasiado dinheiro, por isso não precisam de trabalhar no duro. O dinheiro está sempre a flutuar nas suas direções."
A entrevista acontece num momento em que muitas casas de luxo registam perdas de receitas estação após estação, fenómeno que alguns especialistas relacionam com o fenómeno greedflation ("inflação de ganância", em tradução livre) — os preços continuam a subir enquanto a qualidade e a inovação criativa dos produtos estão a descer.
Em 2009, a marca de Yohji Yamamoto abriu falência, levando o criador japonês a restruturar a empresa, focando-se em mantê-la à tona numa escala pequena, "mas forte". Hoje, regista receitas superiores a 170 milhões de euros por ano.
"Sou um criador de moda, por isso se estiver a pensar numa nova coleção, preciso de imaginar as modelos. Mas quando lhe vejo a cara [de Donald Trump], perco toda a minha imaginação." A energia criativa de Yamamoto sempre foi buscar inspiração às revoltas e frustrações que sente com o estado do mundo. Quando tinha dois anos, o seu pai morreu durante a II Guerra Mundial.
Através das suas criações, Yamamoto é uma voz contra o sistema desde os finais de 1970, quando apresentou pela primeira vez uma coleção de moda. A sua linguagem própria, subversiva e revoltada, valeu-lhe o cognome "poeta do punk".
"Ano após ano, as minhas criações estão a tornar-se mais dispendiosas porque a manufatura está a tornar-se mais dispendiosa. Mas as pessoas não querem gastar [dinheiro] em roupas bem desenhadas e bem produzidas. A indústria está a fazer as coisas mais rápido e, por isso, quando visitas uma loja, tudo parece igual", comenta, ainda com o The Business of Fashion.
O criador japonês apresentou a sua mais recente coleção na passada sexta-feira, 3 de outubro, na Semana da Moda de Paris. "Recentemente, uns jovens pararam-me na rua porque queriam tirar fotografias comigo. Nestes casos, fico zangado... comigo. "Hey, tu', digo a mim mesmo. 'Porque é que te tornaste tão famoso? Não tem qualquer significado.'"