"Nada começa perfeito". Bárbara Bandeira sobre a estreia da 2B na ModaLisboa
No passado sábado, a artista portuguesa apresentou uma coleção que rejeita rótulos de género, tempo ou tendência. Em conversa com a Máxima, Bárbara Bandeira afirmou receber as críticas de braços abertos, encarando-as como motor de crescimento e peça fundamental para consolidar este novo capítulo da sua carreira.

Na noite passada, a ModaLisboa tornou-se palco de um dos momentos mais aguardados da temporada: a apresentação oficial da 2B, a marca de moda fundada por Bárbara Bandeira. Longe de ser um mero exercício de estilo, a 2B nasce como extensão da visão artística da cantora e afirma-se desde logo como um manifesto de autenticidade: "um território de liberdade, sem género, tempo ou tendências, 100% produzido em Portugal".

A coleção apresentada reflete esta filosofia e revela-se quase como uma narrativa em capítulos. A abertura, Génese, evoca o vazio fértil, a tela em branco onde tudo começa, marcada por camisas brancas de linhas depuradas — um ponto de partida que antecipa a metamorfose que se segue. Em Fluxo, a fluidez domina silhuetas que parecem moldadas pelo movimento, sugerindo uma moda sem fronteiras. Ímpeto introduz estrutura e tensão: peças que lembram armaduras, fortes mas permeáveis, deixando transparecer a vulnerabilidade que as habita.

A viagem continua com Vibração, onde a matéria encontra o som e as texturas parecem pulsar à flor da pele, e Dualidade, o ponto em que opostos se confrontam e seduzem: o feminino e o masculino, o clássico e o experimental, o real e o sonho. Na reta final, Insurreição rompe com a norma e celebra a imperfeição como detalhe precioso; Labirinto desafia o quotidiano, entre camadas imprevisíveis que oscilam entre espetáculo e intimidade; até culminar em Manifesto, um clímax incandescente onde o brilho é símbolo e não ornamento — uma declaração de que vestir é, acima de tudo, um ato de criação.

Esta coleção não se limita a roupas: é uma narrativa de liberdade criativa. E, tal como a própria Bárbara confidenciou à Máxima após o desfile, é também fruto de um caminho de aprendizagem. “Desde muito nova senti vontade de explorar a moda. A 2B surge porque chegou o momento certo”, contou, sublinhando que a marca só ganhou forma graças à colaboração com João Morais, seu parceiro criativo, que trouxe à mesa a experiência técnica e a cumplicidade necessária para transformar ideias em peças.
O duo não escondeu as referências: Margiela e Saint Laurent foram apenas alguns dos nomes que serviram de inspiração, embora a 2B tenha rapidamente encontrado uma linguagem própria, marcada por cortes desconstruídos, contrastes entre sobriedade e rebeldia, e uma paleta dominada por preto, branco e toques metálicos — reminiscente de grafite sobre tela.

Para Bárbara, a 2B não é apenas moda de palco ou de passerelle: é a extensão de uma identidade criativa que também vive na música, mas que aqui se autonomiza. “Esta marca não é para mim, mas acaba por ser uma extensão da minha visão artística. As peças que apresentámos são todas peças que eu usaria, seja num videoclipe, num concerto ou no dia-a-dia. Ainda assim, quero separar a Bárbara cantora da 2B — a marca tem vida própria”, frisou.

Produzida inteiramente em Portugal, a 2B é também um exemplo de como a jovem artista pretende devolver à indústria local o protagonismo que lhe é devido, envolvendo mais de 300 profissionais entre fábricas e equipas de produção num projeto que conseguiu manter-se em segredo durante mais de um ano.

Apresentar a estreia na ModaLisboa foi, para Bárbara, uma escolha natural e quase simbólica: “Venho à ModaLisboa há muitos anos e sempre vesti criadores portugueses. Havia uma relação de confiança e foi uma honra apresentar a coleção neste palco.”
Quando perguntada sobre as críticas recebidas quando foi apresentada no cartaz, a artista contou: “Não sou nova às críticas, estou mais do que habituada e acredito que são fundamentais para a construção de qualquer percurso”, afirmou, sublinhando que foi precisamente a crítica que a ajudou a crescer enquanto artista na música. “Se não tivesse sido criticada quando comecei, provavelmente não seria quem sou hoje. Quero que tenham o mesmo peso na construção da 2B, porque nada começa perfeito — nem é esse o nosso objetivo. Preferimos chegar com uma identidade e um conceito, e construir passo a passo, de mãos dadas com as pessoas. Por isso, todas as críticas são bem-vindas.”

Com a sua estreia, a 2B não pretende ser um ponto de chegada, mas um início. Mais do que vestidos perfeitos ou peças de tendência, Bárbara e João quiseram mostrar uma identidade em construção e um conceito em expansão. O desfile deixou claro que a 2B é um convite a vestir sem amarras, a encontrar beleza na imperfeição e a celebrar a moda como território de expressão pura — algo que aplaude o que a ModaLisboa sempre defendeu: a autenticidade do que é feito cá, com alma e futuro.



