Marta Andrino: "Fala-se pouco no pós-parto. Achava que podia correr com ele ao colo, mas nem sentar-me conseguia"
Mãe de dois rapazes, o Manuel e o António, Marta Andrino fala sobre como viveu as duas gravidezes, como sentiu os primeiros minutos com os seus filhos nos braços, e como o pós-parto ainda é um tema com muitas nuances por discutir.
Foto: @martaandrino19 de maio de 2021 às 17:29 Rita Silva Avelar
Como foram as suas reações quando soube que estava grávida? Quem foi a primeira pessoa a quem contou, e quais foram as reações mais inesperadas, recorda-se?
Olhar para um teste de gravidez com dois tracinhos e que nos diz "estás grávida" é uma sensação incrível, assustadora e de dúvida: será que fizemos bem o teste? Isto é verdade? Das duas vezes, e foram os únicos dois testes que fiz na vida, foi o Frederico [o marido] que os foi comprar. Vivemos estes dois momentos juntos e são inesquecíveis. As primeiras pessoas a quem contámos foram os nossos pais. Claro que me lembro das reações, ficaram numa felicidade gigantesca e lembro-me bem de como estava nervosa por contar. O mais épico foi o facto de o meu irmão, das duas vezes, ter anunciado que iria ser pai muito pouco tempo antes. Os nossos filhos nasceram praticamente "ao mesmo tempo". Por isso, das duas vezes que contei, a minha notícia parecia uma anedota.
Como foi a experiência da primeira gravidez? Prós e contras, vale tudo...
Eu amei estar grávida. Amei a minha primeira gravidez. Adorei ver a barriga a crescer, o corpo a mudar, de sentir o bebé, de ter as pessoas a olharem para mim e falarem sobre a minha luz de grávida...
O maior contra foi a ciática que me atacou mais no final da gravidez... Mais detalhes: tive sempre muita fome, no primeiro trimestre muito sono, no segundo trimestre muita energia e no terceiro trimestre, que calhou no verão, só me lembro do quanto gostava de mergulhar no mar e andar de chinelos. Amei estar grávida no verão.
Na segunda gravidez vivi muito o inverno mas o maior desafio foi ter um bebé de dois anos, super dependente, e conseguir aproveitar a barriga a crescer. Não se dá a mesma atenção à gravidez em si.
Quando o Manuel nasceu quais foram os seus primeiros pensamentos? Foi daquelas sensações avassaladoras?
A primeira coisa pela qual me apaixonei mal o Manuel nasceu foi o seu cheiro. É inesquecível. Marcou-me muito, não queria que acabasse, não queria dar o primeiro banho e eliminar aquele primeiro cheiro dele. E as primeiras sensações foram de facto as mais marcantes. Por exemplo amamentar em exclusivo e ter receio de que me acontecesse alguma coisa e ele perdesse a sua fonte de alimento. Eu tinha (e queria muito) estar sempre preparada para alimentá-lo. Sei, e porque aprendi com ele, a importância de eu estar bem para que ele estivesse bem. O meu stress refletiasse nele de uma forma tão óbvia que aprendi a relativizar tudo na vida em benefício dele e claro, só fiquei a ganhar com isso.
Lembra-se de quais foram (são) as recomendações mais "enervantes" dos amigos e da família, de ambas as vezes que esteve grávida?
O nosso instinto, o nosso instinto maternal é muito forte. Mas quando somos mães de primeira viagem e não queremos que nada aconteça aos nossos filhos pela nossa inexperiência, torna-se desafiante ouvir opiniões de pessoas, à partida mais sábias, mas que vão contra o nosso instinto. Lembro-me que o que mais me enervava era ele estar a chorar e as pessoas dizerem que ele estava com fome. Como dava só maminha receava que a razão do choro pudesse mesmo ser fome. Mas não era. Já não sei mas ou eram cólicas, ou frio, calor, sono, algum outro desconforto.
De que maneira experienciou e vivenciou os partos?
Dois bebés, duas gravidezes e dois partos completamente diferentes. Fui para o parto do Manuel a achar que não queria levar epidural e queria conseguir fazer tudo de forma natural. Apesar de ter sido tudo bastante tranquilo, a dada altura optei por levar epidural e, desde os primeiros sintomas de início de parto até o Manuel estar cá fora, foram seis horas. No parto do António foi tudo muito mais intenso porque cheguei ao hospital e ele nasceu quinze minutos depois, não levei epidural e foi uma experiência completamente diferente e muito mais avassaladora do que com o Manuel.
Os meus filhos tiram-me do sério normalmente quando eu estou mais cansada e a paciência também não tem a mesma dose. E normalmente em situações em que já lhes pedi para pararem e eles continuam como se ignorassem o meu pedido.
O que faz quando os seus filhos não estão a ver, mas que lhes diz para não fazer?
Comer chocolates. Adoro. E digo-lhes que só podem comer uma vez por semana, se tanto, e eu, se puder, como um quadradinho todos os dias.
Quais são os maiores desafios da maternidade, numa sociedade que exige tanto das mulheres?
Confesso que tenho um marido excecional. Não sinto nada que caia tudo sobre a mulher. A única coisa que o Frederico não fez foi amamentar, de resto faz tudo o que se espera de uma mãe. Felizmente, e pelos menos na minha casa e na forma como fui educada, os homens fazem tudo, cozinhar, limpar, tratar da roupa, dar banhos, etc... Talvez a maior exigência da sociedade seja o regresso ao trabalho. É sempre cedo, porque passa tudo muito rápido e estar perto deles é o mais importante.
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É importante ter momentos só para si? De que forma é que consegue fazê-lo?
Muito importante. Para mim das coisas mais importantes. Quando eles nascem, devido à nossa recuperação e a tudo o que vivemos naquela bolha de amor, focamo-nos muito neles. Mas assim que as coisas começam a ganhar uma normalidade na nossa rotina é, para mim, fundamental encontrar momentos só nossos, em que a mulher volta a cuidar de si e desta forma a tornar-se mais forte e motivada quando está junto dos filhos. Para mim é fulcral estar bem comigo para estar ainda melhor juntos dos meus.
O que é que continua a ser tabu na maternidade, no ser-se mãe?
Na minha perspetiva acho que se fala pouco no pós-parto. Não estava preparada para a minha recuperação do Manuel. Achava que ele nascia e que eu podia correr com ele ao colo, mas nem sentar-me, simplesmente para dar de mamar, eu conseguia. O parto tinha sido incrível e a recuperação não tão rápida como desejava. Porém, da mesma forma que eu tive gravidezes espectaculares nem todas as mulheres têm a mesma experiência na gravidez, no parto e no pós-parto. Não posso falar, por exemplo, de uma cesariana. Não lhe chamaria tabu mas acho que se fala muito pouco. É uma grande transformação em nove meses, física e psicológica, que se torna mais lenta no pós-parto. Eu acredito que já há bastante informação, blogues de mães, partilha de experiências onde cada uma vai expondo as suas dúvidas. Nunca senti que houvesse algum assunto tabu que não pudesse perguntar a alguém ou a algum médico. E confesso que gosto de partilhar a minha experiência quando me perguntam.
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Fez uma cirurgia estética para tratar algumas das marcas da gravidez. Era um procedimento muito desejado? É preciso desmistificar este tipo de intervenção no pós-parto?
Fiz uma cirurgia estética, sim, não estava confortável com o meu corpo, sobretudo após a segunda gravidez. Não ia melhorar com o tempo, só mesmo com a ida a um cirurgião. A tal importância de estarmos bem connosco pode passar pelo corpo, pela mente, é variável de mulher para mulher. Acho que é preciso procurar o procedimento mais adequado para nos ajudar, procurar alguém de confiança onde nos sentimos seguras para avançar. Encontrei essa confiança e segurança na clinica FMR e estou muito feliz com o resultado. Não foi só o físico que melhorou, a minha autoestima também e isso depois reflectiu-se em muitas outras vertentes da minha vida, pessoal e profissional.