Escolher um nome é um dos primeiros e mais marcantes atos na vida de qualquer pessoa. E, em Portugal, há nomes que se destacam por serem inconfundivelmente nossos. No excerto que se segue de O Grande Livro dos Nomes Próprios, de Vanessa Fidalgo, mergulhamos na essência dos nomes mais portugueses de sempre, explorando as suas origens, histórias e o que os torna tão verdadeiros. Afinal, um nome é muito mais do que uma simples palavra – é uma herança cultural, um reflexo de tradição e, muitas vezes, um destino. De destacar que, no final do livro, a autora nomeia os nomes mais registados entre 2013 e 2024, como é o caso de Maria e João, que mantiveram a primeira posição por três anos ou até o caso de Santiago e Francisco que assumiram as rédeas pelos outros anos.
"Os nomes mais portugueses
Existe a ideia de que Nuno, Gonçalo, Vasco, Rodrigo, Henrique, Martim ou Fernando estão entre os nomes mais portugueses. Não é bem assim, mas há uma boa razão para que esta teoria tenha surgido e se mantenha bem viva: todos eles deram origem a patronímicos, ou seja, a sobrenomes, e esses, sim, formados na nossa língua.
«Embora as palavras das quais derivam tenham sido importadas de longe (geralmente de origem bárbara), pode dizer-se que foram criados na língua portuguesa por via de um fenómeno de morfologia linguística, um morfema, que produziu vários nomes próprios a partir dos apelidos. Todavia, este fenómeno linguístico já não acontece, portanto, não gera novos nomes. É como os adjetivos em "tudo", que outrora eram também típicos da nossa língua, mas que deixaram de ser usados. Ora, estes nomes, pode dizer-se, são portugueses. Uma espécie de O Grande Livro dos Nomes Próprios artesanato local, do qual mais ninguém tinha um barro igual para fazer!», afirma João Paulo Silvestre.
Vejamos alguns exemplos: Pedro, cuja forma arcaica era Pero, por exemplo, deu origem ao apelido Pires e a Peres, que significa precisamente «o filho de Pedro». Tal como Nunes, que era filho de Nuno; Lopes, filho de Lopo; Gonçalves, filho de Gonçalo; Álvares, filho de Álvaro; Sanches, filho de Sancho; Marques, filho de Marco; Bernardes seria filho de um Bernardo; e até Mendo, entretanto desaparecido como nome próprio, deu origem a Mendes. Em todos eles, o sufixo «-es» significaria precisamente «filho de». Porém, também existiam variações, como a terminação «-z», mais próxima do castelhano «-ez», que deu origem a Muniz ou Moniz (filho de Munio) e Vaz, variante de Vasques (filho de Vasco), além do sufixo «-ins» presente em Martins, filho de Martinho ou Martim.
No entanto, não será por esta via que a língua portuguesa ganhará novos nomes, conforme faz questão de esclarecer João
Paulo Silvestre: «Em termos linguísticos, os patronímicos são um fenómeno que já morreu, e, portanto, este é um grupo fechado.» Ainda assim, estes são os nomes preferidos pelos adeptos da tradição, sendo os que, tal qual como no passado, com mais frequência se multiplicam ao passar como uma espécie de testemunho pelas várias gerações da mesma família.
Sejam tradicionais ou modernos, banais ou peculiares, todos os nomes próprios têm uma origem, uma história, algumas particularidades e até mesmo traços de personalidade a eles associados. É disso que falaremos nas páginas seguintes, tendo como objeto os nomes portugueses mais comuns, alguns dos quais, fatalmente, teremos omitido…"