Que livros comprar na Feira do Livro? A Máxima tem a resposta
Escolhemos seis livros (mais um de bónus) que têm mulheres como protagonistas. Nesta selecção há um livro de não-ficção, um semiautobiográfico, e quatro de ficção. Histórias em que algumas mulheres são vítimas das circunstâncias, outras, das suas escolhas. Mas, acima de tudo, histórias de sobrevivência e superação.

Esta lista de sugestões literárias, cara leitora (ou leitor, mas provavelmente leitora), não é uma lista fofinha, com livros que nos fazem sentir aconchegadinhos por dentro e sorrir enquanto uma lágrima de emoção escorre pelo canto do olho. Sucede que esses livros não atraem esta jornalista e ela desistiu de se sentir mal com isso, depois de ter ouvido um professor catedrático de Literatura dizer que, como sabe que não gosta dos livros de José Saramago (eu sei, choque e horror), nem sequer tenta ler e lê, isso sim, mais livros dos autores de que gosta. Pois bem, se é bom para um professor catedrático, é bom para uma jornalista. Ou, como diria João César Monteiro, “o que é bom para a freguesia das Mercês, é bom para os Champs-Élysées”.
Portanto, aqui, encontrará livros que, na sua generalidade, por uma razão ou por outra, exercem o efeito de chapada na cara. De tal forma que, às vezes, é preciso fechá-los, respirar fundo, ir dar uma volta, e voltar mais tarde. Mas, porque a vida não se faz só de chapadas, até porque a cara não aguenta, esta jornalista, chegada a este ponto, decidiu incluir uma sugestão de bónus, com um livro que também abana o interior, mas com gargalhadas e que nem por isso deixa de abanar os neurónios, se uma pessoa quiser aproveitar a oportunidade para pensar na sua vida. A sugestão é o mais recente livro da autora, humorista e guionista brasileira, Tati Bernardi: A Boba da Corte, publicado pela Tinta da China. O único problema é que ainda não o li, portanto, falta substância nesta sugestão. Mas li Depois a Doida Sou Eu e Homem-Objeto e, se me virem na Feira do Livro de Lisboa – que dura até ao próximo dia 22, no Parque Eduardo VII – é mais que certo que terei no saco o novo livro da autora (bem como Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, também da Tati, e que foi publicado no ano passado).
E não há melhor sugestão que esta jornalista possa fazer do que dizer que livros é que vai comprar na Feira, apesar de todas as semanas receber livros em casa e de, sinceramente, não ter onde enfiar mais.

As Fúrias de Hitler, Wendy Lower, Casa das Letras, 320 páginas, €18,90
Este não é um livro muito recente, foi lançado em março do ano passado, mas é um livro que merece ser mais falado e, sobretudo, mais lido. Trata-se de uma investigação sem precedentes sobre o papel das cidadãs alemãs nos campos de extermínio nazis, que deita por terra a ideia de uma certa passividade feminina na Alemanha de Hitler. Esta obra contém imagens que nunca ninguém poderá esquecer, como a de Johanna Altvater, uma secretária do partido nazi colocada na Ucrânia, que pegou numa criança de dois anos pelos pés e a matou arremessando-a, repetidas vezes, contra a parede, atirando-a para os pés do pai depois de morta. Não foi um caso isolado. Altvater retirava especial prazer de matar crianças. Com esta e outras histórias, a autora, uma historiadora norte-americana, demonstra que as mulheres do Reich não ficaram atrás da conhecida frieza e crueldade dos homens do regime.

A Praça do Diamante, Mercè Rodoreda, D. Quixote, 224 páginas, €15,93
O que atrai, de imediato, neste livro é o prefácio de Gabriel García Márquez. Para os fãs do escritor, que já leram todos os seus livros, é sempre uma grande alegria reencontrá-lo, inesperadamente. Publicado pela primeira vez em 1962, este é considerado o romance catalão mais importante de todos os tempos. Conta a história de uma jovem mulher cuja vida é quase destruída, primeiro, por uma escolha pouco feliz de marido, e depois, pela Guerra Civil Espanhola. É um retrato doloroso dos efeitos que um conflito armado fratricida pode ter na vida de todos os dias. Mostra-nos, por exemplo, uma mulher viúva, sem trabalho e sem dinheiro, que, tendo comido absolutamente tudo o que tinha em casa e que podia ser comido, vê os filhos morrerem à fome, de forma lenta e dolorosa, e questiona-se se não será mais decente matá-los e suicidar-se em seguida.

Transgressões, Louise Kennedy, Porto Editora, 288 páginas, €16,97
É difícil sair de dentro deste livro, mesmo depois de terminada a leitura. Para quem gostou da (magnífica) série Derry Girls, da Netflix, neste romance encontrará o lado sombrio dos Troubles. A desgraça que foi o conflito da Irlanda do Norte, sem a cortina do fumo do humor. A autora, que cresceu perto de Belfast, centra a narrativa numa paixão condenada ao fracasso, mas este livro é muito mais do uma história de amor. Conhecemos, por exemplo, um rapazinho católico que é alvo de bullying na escola porque a sua roupa cheira a comida – não por falta de higiene, mas porque a mãe não pode estendê-la na rua porque os vizinhos, protestantes e unionistas, atiram fezes. E isso não é nada comparado com o que ainda está por vir. É um relato de tal forma vívido que o leitor sente que está dentro da ação – razão pela qual é tão difícil voltar à vida quotidiana, quando se chega à última página.

A Convidada, Emma Cline, Porto Editora, 264 páginas, €16,97
Este é o tipo de história que agarra o leitor logo nas primeiras páginas e já não o deixa ir a lado nenhum. Há uma sensação de desconforto, de estranhamento, que depressa se torna inquietante, apesar de não se estar a passar nada de mais: a protagonista está a flutuar no mar, numa praia para gente rica, onde ela não pertence. E, enquanto ela flutua, é a sua vida que se afunda. Esta jovem de 22 anos não consegue pagar a renda de casa e, sem nada que a prenda à cidade, decide passar o mês de agosto na luxuosa casa de um homem mais velho com quem anda a dormir. Só que comete um erro numa festa e é descartada, com um bilhete de comboio de volta para a cidade. Sem ter para onde ir, decide ficar, à deriva, usando a habilidade que tem para explorar os desejos dos outros, com efeitos dramáticos, inesperados e que atinge as expetativas do leitor como uma saca de cimento.

A Trilogia de Paris, Colombe Schneck, D.Quixote, 232 páginas, €17,70
Escrito em resposta a Annie Ernaux e em conversa com Elena Ferrante – duas grandes autoras do nosso tempo –, este livro explora questões sobre sexualidade, autonomia corporal, feminilidade, amizade e perda. É composto por três planos semiautobiográficos da vida de uma mulher – Dezassete Anos, Duas Burguesinhas e A Ternura do Crawl. O primeiro plano corresponde à idade da romancista quando descobre que está grávida, e fala do aborto que a atira para a idade adulta. No segundo plano, duas meninas de boas famílias vivem uma vida idêntica, até que a morte bate à porta de uma delas. E, no terceiro, conhecemos uma história de amor dolorosa com a dúvida sempre a pairar sobre a solidez da relação. A autora, uma jornalista, cineasta e escritora francesa, fala de si própria de forma honesta, sem vergonha e com um toque de autodepreciação. Um livro do Zeitgeist.

Linda Menina, Aria Aber, Casa das Letras, 350 páginas, €19,71
Um retrato de uma jovem artista numa cidade que não consegue escapar à sua história: Berlim. É aqui que Nila, de 19 anos, aspirante a fotógrafa, encontra finalmente a sua tribo. Nascida na Alemanha, filha de pais afegãos, criada em habitações sociais grafitadas com suásticas. Atraída por filosofia, fotografia e sexo, Nila passou a adolescência a desiludir a família. A determinada altura, pode ler-se: “Quando passei por um grupo de marroquinos na esquina da Rüdersdorfer Straße, evitei olhar para eles. É claro que assim que perceberam que não era a irmã mais nova de nenhum deles, assobiaram. Assobiaram e chamaram-me nomes ofensivos porque os filósofos estavam enganados e o sentido da vida não tem que ver com o facto de ela acabar, mas resume-se antes a termos por missão tornar todas as outras pessoas tão infelizes como nós somos.”

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