Mercearia café Comvida: mais portuguesa, impossível
Chama-se Comvida e é o novo destino gastronómico de Oeiras. Sazonal e biológica, esta cafetaria mercearia é um projeto de dois jovens empreendedores cheios de sonhos e ambições que arriscaram mudar de área profissional.

Se não fosse o sotaque português que ecoa na fila de espera do atendimento da Mercearia Comvida, até poderíamos dizer que estávamos no interior de um qualquer café cosmopolita de Berlim ou Praga, onde o ambiente cool e as conversas cruzadas convidam a ficar e a desfrutar da comida com tempo. Mas estamos em Oeiras e o espírito é o mesmo, com o plus de existir também a simpatia redobrada de quem tem bem presente o espírito português. Neste caso, de Sofia Oliveira e Fábio Gomes, os mentores desta mercearia que inaugurou recentemente no número 10A da rua Ernesto Veiga de Oliveira, na cidade vizinha da capital.
Idealizado pelo Estúdio Jaca, os interiores primam por uma decoração minimalista em tons rosados e verdes, e são uma lufada de ar fresco à azáfama do dia a dia. Tal com o espírito do local, a cozinha não poderia ser mais portuguesa. Maioritariamente sazonal, biológica e local - à excepção dos cereais e do café - a cozinha da cafetaria e mercearia Comvida é também um reflexo da gastronomia portuguesa com um twist contemporâneo, às mãos de Sofia e da chef consultora Virginia Kulaif (vinda da cozinha do My Mother's Daughters).

Licenciados em Gestão, Sofia e Fábio conheceram-se nos mestrados - ela, em Marketing, ele em Finanças - e há uns anos estavam longe de sonhar com o que o presente lhes trouxe. Mas a insatisfação crescente que Sofia sentia no emprego de então aliou-se à sua curiosidade nata pela cozinha vegetariana e levou-a a imaginar um projeto de restauração.

Já encontrar um café de filtro português foi um desafio para estes dois jovens, mas não baixaram os braços: acabaram chegar a um meio caminho entre o português e o carioca. "O café de especialidade é importado pela Stg. Martinho do Brasil fresco e a torra é feita em Lisboa. Este café que servimos hoje foi torrado há 15 dias" explica Fábio. Além do café, há todos os dias um sumo do dia (€3), uma infusão especial da casa, a "Festa das Flores" da Chá Camélia, com manjericão-canela, hortelã-pimenta, perpétua-morango, perpétua-roxa, calêndula e girassol (€2,50), café latte com bebida de amêndoa e café de especialidade (€3) e ainda o latte especial (basta perguntar qual é o da semana). Para acompanhar o almoço ou o lanche, há as cervejas Letra B (bohemian pilsner, €3) e a Letra C (oatmeal stout, €3).


Sofia e Fábio foram abraçando mais desafios ao longo do caminho: com a aveia, por exemplo, que chega a Portugal já sem casca, mas que Sofia e Fábio querem trabalhar deste início. "Não há ninguém em Portugal que descasque a aveia, que desta forma não serve para consumo humano. A aveia é exportada e importada - já em flocos. E a alfarroba a mesma coisa". Neste momento, esses entraves servem-lhes como inspiração para tentar, aos poucos, fazer com que as coisas mudem e que os processos sejam 100% portugueses. "A farinha de alfarroba que consumimos em Portugal é importada de Espanha. E também há imensas marcas que se dizem portuguesas mas que não produzem, só fazem transformação" acrescenta, sobre o quão difícil pode ser a tarefa de ter um projeto 100% português. "Se forem como nós e tiverem gosto por descobrir coisas, este tipo de "investigação" nunca acaba" ri-se, ao contar as peripécias que viveram em plena pandemia, à procura de ideias e marcas nacionais.
A carta é pequena mas promissora. Para pequeno-almoço ou brunch, a Comvida sugere porridge com manteiga de amêndoa, puré de fruta da época e granola (€5,50) as suas panquecas com molho de alfarroba, fruta da época e manteiga de amêndoa (€6,50) e as tostas doce (€6,50) e salgada (€7) feitas com pão de trigo de fermentação lenta, a primeira com manteiga de amêndoa, fruta desidratada e da época com granola, e a segunda com pesto e espinafres, palitos de cenoura assados e granola salgada.

Há pratos mais completos como o hambúrguer de beringela com chutney picante de abóbora, cebola caramelizada e alface (€10,50) ou assado de legumes, quinoa e frutos secos com molho de cogumelos, puré de batata doce e feijão verde salteado (€8,50). Há ainda sopa do dia (€2,50), pão de trigo com azeite e azeitonas (€3,50), tábua de queijo de amêndoa (€9,50) e a sobremesa (€4), que varia e pode ser vista na vitrine desta mercearia. Há opção de take-away e as entregas em casa, mediante encomenda, fazem-se pela Scuver.


A loiça é um mix entre os pratos da Costa Nova, da loiça a peso (fábricas que vendem loiça com defeito), e de peças únicas feitas à mão por um jovem casal em Viana do Castelo, da marca BePolar. No centro do café há uma mercearia ambulante com frescos do dia, manteigas feitas no local, chás, leguminosas, frutos secos, vinhos, azeite, mel - e a lista continua. É espreitar para dentro dos recipientes e ver o que a natureza trouxe nesse dia. Mas não esquecer: leve o seu próprio saco. Seja para levar o pão da Massa Mãe, as frutas ou os legumes, é política da casa não vender sacos, nem de papel nem de plástico. "É um caminho que vai ter que ser feito, é um esforço que queremos fazer. São múltiplas as variáveis que tentamos incorporar para tentar melhorar."

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