Alessandra Montagne, quem é a chef à frente de um dos restaurantes do Museu do Louvre, que tem um menu em Lisboa?
Nascida no Rio de Janeiro, Alessandra Montagne tornou-se uma estrela em Paris, onde dirige dois espaços seus e se prepara para abrir o primeiro restaurante do Museu do Louvre. Desde novembro, no Cícero Bistrot, em Lisboa, é possível saborear os menus com a sua assinatura.

No epitáfio do pintor brasileiro Cícero Dias pode ler-se "Eu vi o mundo... ele começava no Recife". A bela declaração, trazida do título de uma das obras mais importantes do artista, assenta-lhe na perfeição, já que, tendo andado pelo mundo (chegou a ser adido cultural do Brasil em Lisboa, depois de ter escapado a uma prisão nazi em plena Segunda Guerra Mundial), Cícero nunca perdeu o norte das suas raízes e o amor às coisas do Brasil. O mesmo se pode dizer da chef Alessandra Montagne, radicada em Paris há 25 anos, e agora convidada pelo Cícero Bistrot de Lisboa (Rua Saraiva de Carvalho, 171) para conceber um menu especial, em que arte e gastronomia formam um dueto poderoso.


A importância de tais afinidades foi sublinhada por Paulo Dalla Nora Macedo, um dos co-fundadores do Cícero: "O nosso projeto não tem apenas uma narrativa, baseia-se na firme crença de que a arte tem o poder de transformar a vida de quem a sente. A vida de Alessandra foi transformada pela arte da gastronomia, assim como Cícero Dias teve a vida transformada pela pintura. Os dois seguiram para Paris para desenvolver duas artes bem distintas, sem, no entanto, perder a alma das suas raízes." Sentindo o estabelecimento deste diálogo como um privilégio, Paulo acrescenta que estamos perante "uma evolução do nosso conceito, com mais exclusividade no espaço, para o cliente ter o conforto que a nova experiência exige. Hoje Lisboa, como Paris, é uma janela para o mundo que permite apresentar conceitos para milhares de pessoas de várias nacionalidades."

Alessandra, natural do Rio de Janeiro, cresceu numa roça muito pobre de Minas Gerais, e, muito jovem ainda, deixou um contexto de violência doméstica para rumar a Paris (onde estavam a mãe e o padrasto), com o sonho de estudar Cozinha. Hoje, não hesita em dizer que foi essa decisão que a resgatou a uma vida muito difícil. Uma história que conta no seu livro, editado pela francesa Flammarion, De Rio à Paris Ma Cuisine du cœur. Hoje, tem dois restaurantes em Paris: Tempero e Nosso, a que se somará, em 2025, o primeiro restaurante do Museu do Louvre.


O jantar, que antecipou a entrada em vigor do menu concebido por Alessandra Montagne contou com a presença de vários convidados, entre os quais o Embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro e mulher, que já havia homenageado a chef no final de setembro, num jantar de boas-vindas a Lisboa, na residência oficial da Embaixada do Brasil, em Lisboa. O menu de degustação para este outono/inverno (€95 por pessoa) inclui cinco momentos, mas os pratos também podem ser pedidos à carta.


No primeiro momento, o que se proporciona é um amuse-bouche de tapioca, a que se seguem uma coxinha de frango, um pão de queijo com caviar e um mini pastel de nata de couve-flor (€12), a comer por esta ordem, segundo recomendação da chef. As entradas são compostas por cenoura com creme de cenoura e bottarga, com pão da casa a acompanhar; mousse de cogumelos e sarraceno, que chega com um pão brioche, uma receita da avó da chef, e ainda um prato de polvo e chouriço. Para prato principal, as sugestões variam entre um carabineiro com risotto de cevada, creme de abóbora e camarão e pickles de abóbora; uma poitrine de porco confitada, com jus de porco, puré de aipo fumado e beterraba; um bacalhau e couve com beurre blanc de champanhe e arroz negro; ou um mignon bovino com pickles de cebola roxa e molho trufado com polenta.

A terminar, as sobremesas incluem uma variação de limão, inspirada nas formas geométricas de Cícero Dias; um creme de chocolate com fava tonka e praliné de avelã (€16); e figo preservado em vinho do Porto com sorbet de figo.

Este menu com assinatura de Alessandra não é a única novidade do Cícero Bistrot. Numa proposta mais intimista, o espaço passa agora a contar com 22 lugares. Por outro lado, haverá novos apontamentos de mobiliário e louças especialmente criadas para o Cícero, desenhadas por Alessandra e produzidas em França.

Nesse país, que adotou como seu e que a adotou também, a chef brasileira é uma presença frequente na imprensa. Em 2020, dizia ao Le Figaro: "Nasci no Rio de Janeiro e fui criada pelos meus avós na quinta deles em Minas Gerais. Todas as manhãs, a minha avó preparava os pães de queijo, que eu comia ao pequeno-almoço, com café açucarado. Em Lisboa, há cada vez mais. É a primeira coisa que compro quando chego ao aeroporto daquela cidade."


Numa outra entrevista, à revista Marie Claire, em 2023, Alessandra contava como fora nessa quinta dos avós, sem água corrente, que aprendera a poupar tudo, incluindo as partes dos legumes que habitualmente não vão à mesa. Uma prática que continua a adotar nos restaurantes parisienses que dirige, em nome da sustentabilidade.

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