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Prazeres

Alessandra Montagne, quem é a chef à frente de um dos restaurantes do Museu do Louvre, que tem um menu em Lisboa?

Nascida no Rio de Janeiro, Alessandra Montagne tornou-se uma estrela em Paris, onde dirige dois espaços seus e se prepara para abrir o primeiro restaurante do Museu do Louvre. Desde novembro, no Cícero Bistrot, em Lisboa, é possível saborear os menus com a sua assinatura.

Foto: Fábio Pelinson
12 de dezembro de 2024 às 07:00 Maria João Martins

No epitáfio do pintor brasileiro Cícero Dias pode ler-se "Eu vi o mundo... ele começava no Recife". A bela declaração, trazida do título de uma das obras mais importantes do artista, assenta-lhe na perfeição, já que, tendo andado pelo mundo (chegou a ser adido cultural do Brasil em Lisboa, depois de ter escapado a uma prisão nazi em plena Segunda Guerra Mundial), Cícero nunca perdeu o norte das suas raízes e o amor às coisas do Brasil. O mesmo se pode dizer da chef Alessandra Montagne, radicada em Paris há 25 anos, e agora convidada pelo Cícero Bistrot de Lisboa (Rua Saraiva de Carvalho, 171) para conceber um menu especial, em que arte e gastronomia formam um dueto poderoso.

Foto: Fábio Pelinson

A importância de tais afinidades foi sublinhada por Paulo Dalla Nora Macedo, um dos co-fundadores do Cícero: "O nosso projeto não tem apenas uma narrativa, baseia-se na firme crença de que a arte tem o poder de transformar a vida de quem a sente. A vida de Alessandra foi transformada pela arte da gastronomia, assim como Cícero Dias teve a vida transformada pela pintura. Os dois seguiram para Paris para desenvolver duas artes bem distintas, sem, no entanto, perder a alma das suas raízes." Sentindo o estabelecimento deste diálogo como um privilégio, Paulo acrescenta que estamos perante "uma evolução do nosso conceito, com mais exclusividade no espaço, para o cliente ter o conforto que a nova experiência exige. Hoje Lisboa, como Paris, é uma janela para o mundo que permite apresentar conceitos para milhares de pessoas de várias nacionalidades."

Foto: DR

Alessandra, natural do Rio de Janeiro, cresceu numa roça muito pobre de Minas Gerais, e, muito jovem ainda, deixou um contexto de violência doméstica para rumar a Paris (onde estavam a mãe e o padrasto), com o sonho de estudar Cozinha. Hoje, não hesita em dizer que foi essa decisão que a resgatou a uma vida muito difícil. Uma história que conta no seu livro, editado pela francesa Flammarion, De Rio à Paris Ma Cuisine du cœur. Hoje, tem dois restaurantes em Paris: Tempero e Nosso, a que se somará, em 2025, o primeiro restaurante do Museu do Louvre.

Foto: DR

O jantar, que antecipou a entrada em vigor do menu concebido por Alessandra Montagne contou com a presença de vários convidados, entre os quais o Embaixador do Brasil em Portugal, Raimundo Carreiro e mulher, que já havia homenageado a chef no final de setembro, num jantar de boas-vindas a Lisboa, na residência oficial da Embaixada do Brasil, em Lisboa. O menu de degustação para este outono/inverno (€95 por pessoa) inclui cinco momentos, mas os pratos também podem ser pedidos à carta.

Foto: DR

No primeiro momento, o que se proporciona é um amuse-bouche de tapioca, a que se seguem uma coxinha de frango, um pão de queijo com caviar e um mini pastel de nata de couve-flor (€12), a comer por esta ordem, segundo recomendação da chef. As entradas são compostas por cenoura com creme de cenoura e bottarga, com pão da casa a acompanhar; mousse de cogumelos e sarraceno, que chega com um pão brioche, uma receita da avó da chef, e ainda um prato de polvo e chouriço. Para prato principal, as sugestões variam entre um carabineiro com risotto de cevada, creme de abóbora e camarão e pickles de abóbora; uma poitrine de porco confitada, com jus de porco, puré de aipo fumado e beterraba; um bacalhau e couve com beurre blanc de champanhe e arroz negro; ou um mignon bovino com pickles de cebola roxa e molho trufado com polenta.

Foto: DR

A terminar, as sobremesas incluem uma variação de limão, inspirada nas formas geométricas de Cícero Dias; um creme de chocolate com fava tonka e praliné de avelã (€16); e figo preservado em vinho do Porto com sorbet de figo. 

Este menu com assinatura de Alessandra não é a única novidade do Cícero Bistrot. Numa proposta mais intimista, o espaço passa agora a contar com 22 lugares. Por outro lado, haverá novos apontamentos de mobiliário e louças especialmente criadas para o Cícero, desenhadas por Alessandra e produzidas em França.

Foto: DR

Nesse país, que adotou como seu e que a adotou também, a chef brasileira é uma presença frequente na imprensa. Em 2020, dizia ao Le Figaro: "Nasci no Rio de Janeiro e fui criada pelos meus avós na quinta deles em Minas Gerais. Todas as manhãs, a minha avó preparava os pães de queijo, que eu comia ao pequeno-almoço, com café açucarado. Em Lisboa, há cada vez mais. É a primeira coisa que compro quando chego ao aeroporto daquela cidade."

Foto: DR

Numa outra entrevista, à revista Marie Claire, em 2023, Alessandra contava como fora nessa quinta dos avós, sem água corrente, que aprendera a poupar tudo, incluindo as partes dos legumes que habitualmente não vão à mesa. Uma prática que continua a adotar nos restaurantes parisienses que dirige, em nome da sustentabilidade.

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