3 artistas femininas para ver no NOS Alive
Com seis palcos onde está sempre algo a acontecer em simultâneo, não só a escolha é difícil, como facilmente se perdem alguns daqueles momentos únicos que ficam para história de um festival. E esses acontecem quase sempre onde menos se espera, nos palcos mais pequenos, a horas estranhas e por obra e graça de artistas improváveis, sem estatuto de cabeças-de-cartaz, como aqueles em que apostamos para a edição deste ano.

6 JULHO, QUINTA-FEIRA.
Ana Lua Caiano

Há artistas que surgem para abalar certezas e abrir novos caminhos. Com apenas dois EPs editados, o grande segredo de Ana Lua Caiano – ou antes o seu maior talento – é o modo como consegue criar melodias através de um processo de (aparente) total exploração, juntando música tradicional portuguesa com eletrónica e, mesmo assim, tudo isso fazer sentido. Ao mesmo tempo que remete para a tradição, com recurso a coros e harmonias perdidas no tempo, também nos traz para a vida do quotidiano, com sintetizadores, beat-machines e samples de "sons do dia-a-dia", transpondo a herança popular portuguesa para o mundo moderno. Embora a música seja uma paixão antiga, pois ainda muito nova começou a tocar piano e mais tarde até tirou um curso no Hot Clube de Portugal, apenas se deu a conhecer no ano passado, com o single Nem Mal Me Queres. E tudo isto é ainda mais notável quando se percebe que Ana Lua Caiano é uma "one woman show", apresentando-se em palco apenas acompanhada de um sintetizador, um microfone, o sempre presente bombo e vários instrumentos de percussão, criando com eles várias camadas sonoras em tempo real, através da sobreposição de loops. Entretanto já editou mais dois EPs, Cheguei Tarde a Ontem (2022) e Se Dançar é Só Depois (2023) que a consagraram, em definitivo, não só como mais uma esperança, mas como uma das mais consistentes certezas surgidas na música portuguesa nestes últimos anos.

WTF Clubbing, 17h40.
7 JUL, SEX
Lizzo


Cantora, compositora, rapper, atriz e tudo quanto lhe apeteça ser, a artista americana tem-se assumido como uma daquelas game-changers que, de tempos a tempos, surgem para abalar os preconceitos e paradigmas da indústria do entretenimento. E no caso de Lizzo, o seu impacto vai muito além da música, seja pela mensagem de empoderamento e aceitação própria, pela imagem tão fora dos cânones pré-estabelecidos, pela atitude e pelo próprio exemplo, como fez na capa de Cuz I Love You, o álbum lançado em 2019 que lhe valeu um Grammy, na categoria de Melhor Álbum Urbano Contemporâneo, e na qual aparece nua. "Não preciso que ninguém me diga que sou bonita. Nem de um espelho preciso", afirmou então em entrevista. Os quatro Grammy já recebidos, em 12 nomeações, seriam só por si cartão-de-visita suficiente para a estreia desta mega-estrela mundial em palcos portugueses, que promete vir a ser um dos momentos altos da edição deste ano do NOS Alive. No entanto, isso serviria apenas para reduzir a mero bling-bling a música de Lizzo, uma artista nascida na cultura hip-hop (ainda bastante presente na sua obra) mas que evoluiu para um pop perfeita e com muito pouco de vazia, em tudo contrária, lá está, ao preconceito ainda e sempre associado a este estilo musical, dito de massas. Não é isso, afinal, o que todos os artistas almejam, chegar a mais e mais gente? Tal como esta artista de Detroit faz a cada disco e a cada espetáculo.
Palco NOS, 20h50
8 JULHO, SÁBADO
Angel Olsen


Menos de um ano depois do seu último concerto em Lisboa, no capitólio, a artista americana está de regresso para apresentar, agora em contexto de festival o último e aclamado disco de originais, Big Time, incluído em quase todas as listas dos melhores do ano passado. Conhecida pelo estilo intimista, influenciado pela melhor tradição folk norte-americana, Angel Olsen pegou nas suas vivências pessoais para criar um álbum imaculado sobre o poder do amor e a dor da perda. Escrito na mesma altura em que se assumiu, à família e aos fãs, como pessoa queer, perdeu pouco tempo depois os pais, falecidos com poucas semanas de diferença e é esta dicotomia entre luz e escuridão que tornam Big Time um trabalho único, que ao vivo assume verdadeiros contornos de obra-prima. Especialmente, como já assumiu, quando canta em Lisboa, uma cidade que adora, à qual sente "uma ligação" e onde tem amigos.
Palco Heineken, 20h10

Música, Diversão, Nos Alive, Ana Lua Caiano, Lizzo, Angel Olsen
NOS Alive, os melhores looks do primeiro dia
O palco foi do rock (e do fenómeno Stromae), mas o público vestiu-se de brilho e leveza para viver o aguardado regresso do festival, três anos depois.