Uma residência artística que cruza gerações, artes e sinergias criativas
Quatro ilustradores estiveram no Alentejo para trocar técnicas, saberes e culturas com os oleiros da região. O resultado são peças irrepetíveis, de tão bonitas que são.
Foto: O Apartamento26 de julho de 2021 às 09:07 Rita Silva Avelar
Durante uma semana, os ilustradores Mariana Malhão, Mariana, "A Miserável", José Torres e Bruno Reis Santos reuniram-se em Viana do Alentejo para unir esforços criativos com oleiros da região. Mas este foi só o início do projeto que Fátima Durkee, da Passa ao Futuro, e Paulo Sellmayer, responsável pela marca VICARA - Tasco Tableware, se propuseram a fazer nascer, de modo a dar continuidade àquilo que fazem nas respetivas associações, a envolver diferentes gerações e a cruzar talentos in loco.
A iniciativa, que aconteceu no início de julho, envolveu a comunidade, sensibilizando para o valor cultural da olaria tradicional e local (os habitantes da região foram convidados a trazer peças de casa e a partilhar memórias sobre os usos da olaria no quotidiano) no espaço da associação Mercearia Spira, no Alvito.
Foto: O Apartamento
Agora é hora de por mãos à obra e dar continuidade à programação e criação de várias atividades ao abrigo desta ideia, sempre centradas no cruzamento de visões e técnicas entre duas culturas e gerações distintas. "A Tasco tableware cruza, desde o início, o saber de mestres oleiros com o desenho e criatividade de designers portugueses, trazendo para a mesa peças originais que privilegiam a criação de novas relações materiais", começa por contar Paulo Sellmayer, mentor desta associação sem fins lucrativos focada na investigação e na documentação para a preservação e promoção do património cultural imaterial dos artesãos portugueses. "A ideia partiu da ligação da olaria à ilustração anteriormente explorada numa iniciativa da Tasco tableware. Houve a vontade de colaborar num projeto que unisse a marca Tasco a mestres oleiros de Viana do Alentejo promovendo a criação de uma coleção que explora a relação entre as diferentes culturas."
Ao longo dos dias que a residência artística durou, Fátima Durkee assistiu a "um respeito enorme pelos mestres, tanto pelo saber fazer como pelas histórias de vida que perpassam épocas distantes. Testemunhar a narrativa dessas vivências é emocionante e questiona-nos sobre a transmissão desse conhecimento tão importante para a continuidade das gerações. Para este projeto juntaram-se quatro gerações de portugueses, foi uma bonita experiência de assistir e fazer parte: o mestre oleiro, o seu filho e a mulher deste, os organizadores e os artistas", conta. "Havia uma grande alegria e um profundo respeito pela cultura local que esteve sempre presente — e que foi além da residência em si."
Esta residência insere-se num programa alargado de divulgação da olaria de Viana do Alentejo, que vai continuar de outras formas. "Nas próximas semanas iremos lançar testemunhos em vídeo da comunidade de Viana do Alentejo sobre as suas memórias com a olaria. Logo a seguir, iremos disponibilizar para compra no site tasco.pt algumas das peças desenvolvidas. Finalmente, iremos realizar uma exposição dia 6 de dezembro na galeria Srª Presidenta, no Porto." Para já, veja algumas das peças.
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