A encantada Horta da Moura: hospitalidade à moda alentejana

Vizinha do grande Lago do Alqueva, a Horta da Moura é o paraíso na terra para famílias ou para casais. Nela, o “prato do dia” é a hospitalidade à moda alentejana, com cheiro a poejo, a coentros e a esteva. Mas há mais cheiros, sons e memórias a descobrir, basta parar e existir.

Horta da Moura, paraíso alentejano perto do Lago do Alqueva, com hospitalidade à moda alentejana Foto: DR
15 de julho de 2025 às 17:04 Maria João Veloso

Oliveiras milenares, raposas destemidas e uma piscina panorâmica onde os passarinhos vão matar a sede, e parece que se está às portas do paraíso. A hospitalidade alentejana está impressa em cada detalhe e ainda bem, porque por momentos podíamos achar que estávamos noutro lugar e num tempo que cristalizou. A primeira experiência acontece ao entardecer. Experimentar de olhos fechados os cocktails de assinatura. Escolher entre um Moura Basil Smash ou um Moura Poejo Sour, preparados com Sharish, gin 100% alentejano, não é tarefa fácil. Ambos são frescos e deliciosos, faça sol ou tempestade. Reaberta ao público recentemente, a Horta da Moura terá sido o primeiro hotel rural do Alentejo, quando abriu em 1991. A decoração muito datada leva-nos a imaginar quem por aqui terá passado. Essa é uma boa viagem para empreender, à noite, no vale dos lençóis. Há quem defenda que aqui houve um clube de caça, mas Isidro Pinto, filho de um talhante, lembra-se perfeitamente do monte nas décadas 60, 70, “ser uma ruína que servia de malhada para os porcos.”

Quarto na Horta da Moura oferece hospitalidade alentejana perto do Lago do Alqueva Foto: DR
PUB

As histórias serão mais que muitas, mas a lápide à entrada não engana. Está lá inscrito: “O projeto e a decoração desta casa foram da autoria do amigo Carlos Manuel Moraes Palmeiro”. O amigo fê-lo com graça, respeitando a traça e as cores do Alentejo. Cal e as molduras das janelas pintadas de azul.

Passar uns dias na Horta da Moura é ir ao encontro do Alentejo raiz. Ter conversas boas com a Dona Isabel, “comandante” do fogão dos Sabores de Monsaraz, enquanto ela alimenta uma raposinha que aparece invariavelmente à hora do jantar. Escolher a Horta da Moura é descobrir também os negócios locais. Conhecer de perto a história de António Cuco, que quando se viu desempregado começou a fazer gin na panela de pressão da mulher e hoje tem um pequeno império de gin nado e criado em Monsaraz: o Sharish, nome alusivo à vila de Monsaraz que quer dizer Xara - a esteva alentejana -, perfume que se faz sentir mal se sai do quarto. Curiosamente, o quarto que nos foi concedido chama-se Cuco e isso por si só tem graça. Chamam-lhe coincidências literárias e no Alentejo é fácil a magia acontecer.

Horta da Moura: um paraíso alentejano perto do Lago do Alqueva, perfeito para famílias e casais Foto: DR

Mais tarde, à beira da piscina, vem à memória o mítico testemunho do pintor baiano José Calazans Neto sobre Vinícius de Moraes. Lembrava ele das vezes que conversavam os dois sobre as coisas boas da vida morna. O calor ajuda. “Era do nascer do sol ao morrer do sol, às vezes sem fazer absolutamente nada”. Dizia ainda “que chega um tempo em que se descobre que o bom é não fazer nada”. Ficar na Horta da Moura também pode ser assumir que às vezes é preciso parar, contemplar e existir apenas. Acrescente-se os verbos comer e beber: uma tábua mista de enchidos e queijos tradicionais, uma burrata com pesto rosso. Tudo bem regado com uma sangria de rosé da Horta. Isto com o pé de molho, de livro na mão, mergulho, leitura, gelado artesanal de morango e repete-se. O tempo na Horta da Moura passa devagar, o tempo na Horta da Moura passa depressa, e depois de termos visitado o quarto Pintarroxo, com os seus tetos abobadados e os pratos de faiança alentejana, já são horas de jantar. O restaurante Sem Fim é uma boa aposta para as segundas-feiras (quando tudo nas redondezas está fechado). Quem quiser come umas boas entradas, quem quiser come migas ou borrego. Restaurante, museu e galeria de arte, este lagar de azeite, tipicamente alentejano, é propriedade de Tiago Kalisvaart, um holandês com costela alentejana. Pão e vinho sobre a mesa e a festa faz-se com queijo, cenouras marinadas e croquetes do Gil, com vista para o casario. De volta ao silêncio da Horta da Moura é hora de observar o céu estrelado. A olho nu. Ao ninho do cuco regressa-se para o sono dos justos. Depois de um pequeno almoço com produtos frescos, sumo de laranja verdadeiro, fruta da época e ovos feitos a pedido vamos à procura das afamadas oliveiras milenares. São autênticos museus da natureza e, apesar de não falarem, as suas raízes dizem que já assistiram a milhares de histórias. É um gosto vê-las preservadas e de olhos postos no futuro.

PUB
Horta da Moura, refúgio alentejano perto do Lago do Alqueva, oferece hospitalidade e memórias únicas Foto: DR

Criar memórias num futuro próximo é a grande aposta da renovada Horta da Moura. O sonho de Nuno Constantino, CEO da Wotels, é “oferecer experiências autênticas e memoráveis aos nossos hóspedes, ao mesmo tempo que valorizamos e promovemos a cultura e as tradições locais.” (Re)aberto oficialmente desde meados de junho, este hotel rural está cheio de novidades, sobretudo nos pormenores. Os quartos – com nomes de pássaros ou de plantas – foram coloridos pelas tradicionais mantas alentejanas, com almofadas a condizer. Inspirado nos antigos desenhos que havia na casa, coube ao ilustrador Hugo Makarov dar uma nova roupagem a todas as ilustrações da Horta da Moura. Vemo-las no postal de boas vindas, ao lado dos biscoitos de canela, mas também no mapa do lugar ou na carta de snacks do bar. As novidades são “invisíveis aos olhos”, mas sentem-se. O que fica impregnado na pele é a magia deste lugar, onde a paisagem surpreende. Depois de uma paragem na altura da pandemia, esta casa volta com nova gerência e um coletivo de pessoas que sabe acolher como ninguém. Se a proposta é nova, o passado, lugar onde moram todas as tradições, não será esquecido. Clássica, mas moderna, a Horta da Moura soma ao conforto a música da natureza e a experiência ancestral.

Horta da Moura, refúgio alentejano perto do Lago do Alqueva, oferece hospitalidade e sabores únicos Foto: DR

Sabores de Monsaraz

PUB

Com uma vista inesquecível para o grande lago e Isabel Rolo nos comandos, os sabores lembram os da infância com um toque atual. Comece, por exemplo, com a salada de agrião e queijo fresco temperada com azeite e alho. E remate com umas migas gatas com bacalhau e coentros. São de chorar por mais. Termine com a afamada sericaia com ameixas de Elvas e verá que o repasto será inolvidável.

Horta da Moura: hospitalidade alentejana para famílias e casais perto do Alqueva Foto: DR

Atividades / o que fazer

Andar de balão ou navegar nas águas do grande lago são programas que se podem fazer a dois ou em família. Para uma prova de vinhos séria é rumar à herdade do Esporão, uma das mais respeitadas adegas portuguesas. Se quer ficar a ver estrelas, literalmente é fazê-lo com o observatório Dark Sky Alqueva. Em Monsaraz, para beber um gin ao fim da tarde, será Sharish e à beira da piscina da Horta da Moura. Para mais pormenores sobre qualquer um destes programas é pedir ajuda aos meninos da receção.

PUB
leia também

Lelê. Tatuar com consciência ecológica

Há um estúdio lisboeta que está a mudar a forma como olhamos para a tatuagem. Trata-se do Jardim Ecotattoo, um pequeno e acolhedor espaço em Campo de Ourique, Lisboa, criado em 2023 pela tatuadora Lelê, onde, das tintas aos móveis, cada detalhe foi pensado para respeitar o ambiente.

Gracinha Viterbo abre as portas da sua casa

A designer de interiores dá a volta ao mundo para encontrar inspiração para os seus projetos, que vão de hotéis a residências particulares. Mas como pensa a sua própria casa? Viagem pelos objetos e histórias do seu espaço mais privado, com o marido, Miguel Stucky.

PUB
PUB