"Sou uma cientista do meu próprio corpo e faço da minha rotina um laboratório”
Vânia Castanheira acaba de lançar o livro “Emoções que Inflamam, Hábitos que Curam”, uma obra que revela, à luz da ciência, a ligação entre emoções negativas e o aparecimento de doenças graves, como o cancro da mama. Mas há esperança. Com hábitos saudáveis é possível arrepiar caminho rumo à Rota de Cura Integral.

Em 2013, Vânia Castanheira, então com 31 anos, foi confrontada com um diagnóstico de cancro da mama triplo negativo, o tipo mais agressivo, porque cresce e espalha-se com maior rapidez e tem mais hipóteses de recidiva. Não só sobreviveu como, desde então, dedicou a sua vida a ajudar mulheres com doenças graves – cancros, mas também doenças autoimunes e outras doenças crónicas. Hoje é coach de saúde e de medicina do estilo de vida, especialista em neurociência do comportamento e mentora de saúde integral. E é formada e certificada por instituições como a Harvard Medical School, a American College of Lifestyle Medicine, o Medical Coaching Institute, entre outras.
Depois de acompanhar centenas de mulheres em processos de cura, Vânia percebeu que há uma relação direta entre emoções desreguladas, hábitos inconscientes, stress crónico e doenças graves. Ou seja, o cancro e as doenças autoimunes não estão só relacionadas com genética, hábitos de consumo pouco saudáveis e sedentarismo. Para a equação contribuem também o stress, as emoções negativas e os traumas mal resolvidos. Foi esta a semente que fez germinar o seu mais recente livro, “Emoções que Inflamam, Hábitos que Curam”, onde, com base nas mais recentes descobertas da neurociência, da medicina do estilo de vida, e da integração entre mente, hormonas, sistema imunitário e comportamento, a autora constrói uma ponte entre sofrimento emocional crónico e padrões inflamatórios silenciosos, que afetam corpo e mente.

No seu novo livro, Vânia Castanheira apresenta a Rota de Cura Integral, um método que une ciência, espiritualidade e mudança de hábitos, para quem quer viver uma vida com equilíbrio, presença e saúde. Neste Outubro Rosa, o mês de sensibilização para o cancro da mama, a Máxima falou com a autora sobre as emoções que nos põem doentes e os hábitos que nos salvam. Um alerta para que olhemos para a nossa saúde (ou falta dela) como um todo integrado, e não como um conjunto de sintomas sem relação.
A Vânia recebeu um diagnóstico de cancro da mama que virou a sua vida do avesso (para o mal, mas também para o bem). Como é que diria que o seu estilo de vida de então contribuiu para o aparecimento da doença?
Na época do diagnóstico, eu vivia numa desconexão silenciosa. Atendia às exigências do mundo lá fora, mas ignorava muitas das minhas necessidades internas. Trabalhava num ritmo intenso, negligenciava o sono, os horários das refeições, os sinais subtis do corpo. Como se cuidar de mim fosse sinal de fraqueza, como se não existissem limites. Levava uma vida funcional. Mas não foi por acaso que o tumor surgiu na mama esquerda, num ponto bem sobre o coração. Não fumava, bebia socialmente, praticava exercício (embora com mais faltas do que presenças). Por dentro, porém, havia uma exaustão emocional profunda e uma sobrecarga mental que fui normalizando. Quando soube que precisaria de cirurgia e teria de repousar, senti alívio. Pensei: “Ufa, vou poder descansar.” Como se precisasse de uma autorização formal para parar. Hoje entendo, pela ciência e pela experiência, que o corpo não inflama apenas pelo que comemos. Inflama pelo que sentimos, pelo que calamos, pelo que suportamos em silêncio. Adoeci assim: num corpo cronicamente inflamado, num sistema nervoso desregulado, num estado de sobrevivência que durou tempo demais por parecer “normal”.
No seu livro, diz que o corpo dá sinais de desconforto antes de começar aos gritos (com o desenvolvimento de uma doença grave). Que sinais são esses a que devemos estar atentas?
O corpo começa por sussurrar a cada pessoa de forma diferente: insónia, cansaço que não passa, tensão muscular, alterações intestinais, gastrite, refluxo, palpitações, ansiedade difusa, perda de brilho no olhar. Depois vêm os esquecimentos, dores recorrentes, alergias, ciclos menstruais desregulados, irritabilidade, queda de cabelo, manifestações na pele. São sinais de que o corpo está em estado de alerta constante – um sistema nervoso hiperativado a tentar manter tudo sob controlo. E cada corpo reage ao stress crónico de maneira diferente. O problema é que normalizamos esses sinais ou tratamo-los como problemas isolados – um comprimido para dormir, outro para o estômago, um suplemento para o cabelo, um aparelho dentário para dormir – sem ir à raiz. Até que o corpo grita com um diagnóstico. E nesse grito, somos chamadas a olhar para nós como um todo, e não como um conjunto de sintomas fragmentados.
Creio que qualquer pessoa que tenha passado por uma doença oncológica (ou que tenha acompanhado um familiar ou amigo próximo), chegou à conclusão que as emoções negativas contribuíram para o desenvolvimento da doença. No seu caso em particular, e com base em toda a investigação que tem feito, que emoções são essas que inflamam? E como podemos evitá-las?
Culpa crónica, raiva engolida, medo constante, ressentimento, vergonha e sensação de inadequação inflamam o corpo por dentro. São estados emocionais que, quando ignorados ou mal regulados, mantêm o sistema nervoso em alerta e alimentam um ciclo de stress e inflamação crónica. Mas não se trata de evitar emoções – isso seria impossível, e até nocivo – porque elas transmitem informações valiosas: revelam o que importa, sinalizam necessidades e conectam-nos com o mundo. O que adoece não é sentir – é não saber o que fazer com o que se sente. A cura começa quando aprendemos a reconhecer, nomear, acolher e regular essas emoções com consciência. Emoção não expressa transforma-se em tensão. E tensão, quando crónica, gera inflamação. Por isso, o caminho não é o controlo rígido, mas a escuta sensível. A inteligência emocional é um ato de saúde. E a saúde, nesse contexto, começa quando damos espaço para sentir e cultivamos ferramentas para transformar o que sentimos.
Posto de uma forma simples, de que é que estamos a falar quando falamos de inflamação e como é que o estado inflamatório pode contribuir para o cancro, em particular, o cancro da mama?
Inflamação é um mecanismo natural de defesa do corpo essencial para reparar danos, combater infeções e restaurar o equilíbrio. Mas quando se torna crónica e persistente, deixa de ser protetora e passa a ser promotora de disfunções. É como um alarme que nunca desliga, mantendo o corpo em alerta constante, ainda que não exista uma ameaça real. Esse estado inflamatório prolongado afeta múltiplos sistemas: desregula o metabolismo, altera a função imunitária, interfere na regeneração celular e até modifica a expressão dos nossos genes, como mostra a epigenética. E é nesse terreno inflamado, desregulado e vulnerável que doenças crónicas podem encontrar espaço para se desenvolver. No caso específico do cancro da mama, estudos apontam que a inflamação crónica pode anteceder o aparecimento do tumor. Marcadores inflamatórios já podem estar alterados antes mesmo do diagnóstico e são potencializados por fatores de estilo de vida como o stress crónico, o sono irregular, a alimentação inflamatória, a falta de movimento e as emoções reprimidas. Mais do que um processo físico, a inflamação é também uma resposta da alma. Tudo o que vivemos, sentimos e acumulamos sem metabolizar – medos, culpas, sobrecargas, relações tóxicas, padrões de autoexigência – vai deixando marcas no corpo. Por isso, prevenir o cancro vai muito além de evitar toxinas externas ou cumprir exames de rastreio. É preciso olhar para dentro, identificar o que inflama e cultivar os hábitos que curam.
Quando uma pessoa tenta fazer alterações no seu estilo de vida, nomeadamente, na alimentação, no sono e nos horários – ou seja, mudanças que têm impacto na vida de familiares e amigos –, por vezes encontra resistência. Como é que se combate isso?
Toda a mudança mexe com o equilíbrio do sistema e, muitas vezes, o que incomoda o outro não é a nossa escolha, mas o espelho que ela representa. Alterar hábitos, horários ou prioridades pode, sem querer, entrar em conflito com zonas de conforto ou evidenciar o que o outro ainda não está pronto para rever em si. Por isso, o segredo não é impor, mas comunicar. Explicar os porquês, partilhar o que motivou a decisão e mostrar os efeitos positivos. Por exemplo, em vez de dizer: “Vou jantar às 18h e acabou”, experimente algo como: “Notei que, quando janto mais cedo, durmo melhor, acordo com mais disposição e o meu intestino funciona melhor. Queria experimentar isso durante algumas semanas e adorava que encontrassemos outras formas de passar tempo juntos, mesmo que os horários mudem um pouco.” Pequenos ajustes, feitos com afeto e consistência, mostram que não se trata de controlo, mas de cuidado. Quando a mudança parte do amor-próprio, e não da rigidez, ela começa por inspirar respeito e, muitas vezes, até transformação. Porque ao escolher cuidar de si, você também dá ao outro permissão para cuidar dele próprio – no tempo e à maneira dele.
Por outro lado, algumas das alterações que a Vânia fez na sua própria vida – jantar entre as 18h e as 19h, ir para a cama por volta das 21h – não são viáveis para muitas mulheres. Ou porque a atividade profissional não permite, ou porque têm parceiros ou filhos que chegam a casa mais tarde e não querem renunciar à sua companhia, ou porque precisam de dar apoio a pais idosos. É possível ter um estilo de vida mais saudável mesmo com constrangimentos?
Sim, mas antes, vale perguntar que limitações são essas. São reais ou são narrativas que repetimos para justificar padrões que já não nos servem? Nem sempre é o tempo que falta – às vezes, é clareza, prioridade, estratégia. Muita gente diz que não consegue mudar porque tem filhos, trabalha por turnos, cuida dos pais, ou vive com alguém que tem hábitos diferentes. Mas cuidar da saúde não exige um cenário perfeito. Exige intenção e pequenos acordos com o possível. O que ensino às minhas clientes – e o que vivo na minha própria rotina – é que saúde integral se constrói com escolhas realistas e conscientes. Não precisa mudar tudo. Precisa começar. Vou dar alguns exemplos. Não consegue jantar às 18h? Jante às 19h30, dê prioridade à leveza e diga não ao açúcar. Tem pouco tempo para si? Pode usar o banho para respirar, acordar 10 minutos mais cedo para tomar água com calma e fazer uma técnica de respiração, em silêncio, ou almoçar com o telemóvel longe da mesa e com o ecrã voltado para baixo. Trabalha por turnos? Organize janelas de sono e refeições em torno da sua realidade, e não da dos outros. E mais importante: reveja a mentalidade por detrás da mudança. Quando escolho não comer nada depois das 19h30 – e muito menos um doce à noite –, isso não é uma restrição, não é controlo, não é punição. É liberdade. Eu não me foco no que estou a perder, foco-me no que estou a ganhar: durmo melhor, tenho mais energia de manhã, os meus intestinos funcionam bem, sinto-me mais leve, mais centrada e mais feliz para estar com as minhas pessoas, fazer o meu trabalho, viver a minha missão. Essa escolha, quando vem da consciência e não da rigidez, deixa de ser um sacrifício. E passa a ser um autocuidado que dá gosto manter. É por isso que falo tanto no princípio do 80/20: se 80% das suas escolhas apoiam o seu corpo e a sua mente, os outros 20% não vão desestruturar a sua saúde – vão humanizá-la.

Numa perspetiva de estilo de vida anti-cancro mais convencional, as pessoas preocupam-se, por exemplo, com substâncias cancerígenas – tabaco, carnes vermelhas, alimentos ultraprocessados, etc. Ou seja, é como se o cancro estivesse lá fora e nós tivéssemos de lhe barrar a entrada. Mas na perspetiva que a Vânia partilha no seu livro há também uma grande preocupação com o que carregamos dentro de nós – emoções, pensamentos, traumas. É luta em duas frentes?
Sim, e essa é uma das grandes reflexões que proponho no livro. O cancro é uma doença multifatorial. Não há uma única causa, nem uma explicação simples. Pode surgir de mutações genéticas, sim, mas também de ambientes celulares inflamados, do stress oxidativo, da sobrecarga emocional, de traumas não digeridos, de escolhas que se acumulam ao longo dos anos. Por isso, é preciso agir em duas frentes: cuidar do que entra e do que carregamos. Cuidar do que entra significa observar a alimentação, o sono, os disruptores endócrinos, os produtos que usamos no corpo e na casa, os estímulos que consumimos diariamente através de todos os sentidos. Mas isso é apenas metade do caminho. A outra metade – tantas vezes esquecida por ser invisível – é aquilo que carregamos por dentro: pensamentos crónicos, ressentimentos antigos, padrões emocionais que inflamam. Não basta trocar o pão pelos brócolos, se continuamos a nutrir culpa, medo, autoexigência ou solidão. Já acompanhei mulheres que faziam tudo “certo” no prato, mas viviam em constante estado de alerta emocional – e continuavam doentes. Porque a inflamação também pode nascer daquilo que sentimos e não conseguimos metabolizar. Prevenir, portanto, é mais do que evitar toxinas. A saúde integral começa quando escolhemos transformar, e não apenas evitar.
A vida ideal – em termos de horários, alimentação, proximidade com a natureza – parece estar em consonância com a dos pastores e dos agricultores, pessoas que vivem da terra e dos animais. Cometemos um erro terrível com as vidas modernas que levamos?
A modernidade trouxe conforto, erradicação de uma série de doenças, mas também um afastamento profundo da nossa natureza interna e externa. Perdemos o ritmo dos ciclos naturais, trocamos a luz do sol por ecrãs, o silêncio por excesso de estímulos, a comida viva por produtos ultraprocessados. Dormimos mal, comemos apressadamente, vivemos num estado de urgência crónica. Desaprendemos o que é essencial. E surgiram outras doenças. O corpo humano não evoluiu para viver neste ritmo. Ele pede luz natural, alimento verdadeiro, toque, pausa, ritual, comunidade. Pede noites escuras e dias iluminados. Pede presença. A saúde moderna precisa, paradoxalmente, de resgatar o que há de mais ancestral. A cura não está apenas nas tecnologias mais avançadas – muitas vezes, mora na simplicidade, no descanso, no sol da manhã, na respiração profunda e lenta, numa expiração mais longa, numa refeição preparada com intenção e consumida com calma, numa conversa sem pressa, num corpo que respira sem correr.
Posto de forma resumida, que hábitos são esses que têm o potencial de curar e que todos devemos adotar, em particular, pessoas com historial (pessoal ou familiar) de cancro?
Os que nos reconectam com a nossa natureza. Dormir cedo e respeitar o ritmo circadiano. Comer alimentos reais, sazonais, coloridos. Evitar picos de açúcar, que inflamam o corpo e desregulam as emoções. Caminhar ao ar livre e pôr os pés na relva, na areia da praia ou na terra. Respirar fundo, de verdade. (No livro, ensino técnicas simples para cultivar essa presença.) Reduzir os estímulos à noite, proteger o sono, cultivar o silêncio diariamente – mesmo que por apenas 10 minutos. Criar vínculos afetivos seguros, onde haja espaço para ser, sem máscaras nem defesas. Regular emoções com presença e consciência. Ter um propósito que dê sentido aos dias, mesmo aos dias difíceis. Praticar o jejum noturno de 12 a 14 horas, dando ao corpo tempo para descansar, regenerar e voltar ao seu centro. Desenhar limites claros. Dizer “não” ao que adoece e “sim” a si mesma. Proteger o próprio tempo, energia, valores. Esse também é um hábito que cura e liberta. E, acima de tudo, cultivar o hábito de se ouvir. De se observar com honestidade e gentileza. Porque somos seres em constante transformação, e aquilo que nos serve numa fase da vida pode já não nos servir noutra. Autoconhecimento não é egoísmo, é uma forma de equilíbrio. E a saúde não nasce de um único hábito isolado, floresce da coerência entre o que sentimos, pensamos e vivemos, da repetição gentil de pequenas escolhas feitas com consciência, e da coragem de transformar o estilo de vida num estilo de amar – o corpo, a alma e a própria vida.
Há muitas histórias de homens que deixam as parceiras perante um diagnóstico de cancro porque não querem cuidar delas. Mas a Vânia também fala de casos em que acontece o oposto e é a mulher que deixa o parceiro porque percebe que não há ali um alinhamento de valores ou, mais grave, percebe que a relação é tóxica. O cancro acaba por ser também um convite à introspeção e a viver uma vida mais verdadeira e com mais propósito?
Para mim, foi, sem dúvida. Não queria que o que vivi fosse em vão. Precisava de dar um significado àquela dor, transformá-la em algo que fizesse sentido. E vejo esse movimento, com frequência, nas mulheres que têm a coragem de me procurar. Porque é preciso coragem para olhar para dentro, mexer em desconfortos, e estar disposta a mudar o que já não serve. Muitas percebem que estavam a viver uma vida que não era exatamente sua: relações tóxicas, trabalhos esgotantes, silêncios acumulados, prioridades invertidas. Carregam o peso do trabalho invisível da mulher – em casa, com o marido, com os filhos – tantas vezes desvalorizado ou romantizado com o rótulo de “mulher-maravilha”. Um rótulo que já ninguém aguenta carregar. É como se estivessem a sobreviver, mas sem se ouvirem. E quando o corpo grita, ele não fala apenas de células. Fala de ciclos que precisam de se encerrar, de versões de si que deixaram de fazer sentido. A doença, por mais dura que seja, pode ser um portal. Um ponto de viragem. Um convite para parar, olhar para dentro e escolher, com consciência, o que realmente importa. Acredito que tudo o que nos acontece pode ser uma oportunidade de crescimento. E quando vivemos com esse princípio, deixamos de ser vítimas das circunstâncias e tornamo-nos protagonistas da nossa própria vida. O cancro pode ser uma ruptura. Mas também pode ser um reencontro.
No seu próprio percurso de cura e em toda a investigação que fez, o que é que mais a surpreendeu relativamente às emoções que inflamam e aos hábitos que curam?
A força das emoções reprimidas. O impacto profundo e muitas vezes invisível do stress crónico no corpo. E, acima de tudo, a capacidade de regeneração que se ativa quando escolhemos viver com mais verdade, presença e coerência. A ansiedade, em níveis equilibrados, motiva, dá foco, movimento. Mas, quando se torna crónica e mal gerida, inflama silenciosamente. A ciência explica, mas a vida comprova: é possível transformar dor em potência. Só que não basta querer, é preciso ter coragem para ouvir o que dói e compromisso para agir, todos os dias, em direção à cura. “Um dia de cada vez” é o lema. Também me surpreende o poder que temos sobre o rumo das nossas vidas. A realidade é um espelho e os sintomas, muitas vezes, são apenas sinais. Se os resultados já não nos servem, temos a oportunidade de rever escolhas, ajustar rotas, mudar padrões. Fico, inclusive, admirada com alguns hábitos que consegui transformar, mesmo aqueles que pareciam fazer parte da minha genética. Sempre fui mais noturna, e hoje durmo entre as 21h e as 21h30. Acordo cedo, com boa energia, com um ritmo circadiano regulado. Tinha um paladar naturalmente mais doce (como o meu teste genético confirmou) e, hoje, sinto prazer em sabores amargos, como o chocolate com 80% de cacau – antes, seria impensável. Essas mudanças não foram impostas. Foram testadas, com curiosidade e consciência. Sou uma cientista do meu próprio corpo e faço da minha rotina um laboratório de autoconhecimento e de epigenética. Quando o estilo de vida deixa de ser uma obrigação, uma dieta ou uma lista de proibições e passa a ser uma forma de respeito, de amor-próprio e de autoconsciência, a transformação acontece. E há um elemento fundamental que aprendi na prática: sem limites claros, não há saúde possível. A nossa biologia precisa de pausas. A mente precisa de espaço. As emoções precisam de contenção. E o corpo precisa de fronteiras seguras para não se perder em excessos, ruídos ou obrigações. Aprender a dizer “não” – a mim mesma, aos outros, ao que não me respeita – tem sido uma das chaves mais silenciosas e poderosas da minha cura. O que adoece nem sempre é o que nos acontece. Mas sim o que fazemos com o que sentimos. E o que cura é o que conseguimos transformar.
Que mensagem gostaria de deixar a alguém que esteja a passar por uma doença oncológica? No livro diz que, no seu caso, nunca se perguntou “porquê eu?”, mas “para quê eu?”. Crê que é um ponto de vista que pode ajudar outras mulheres?
O cancro não é um castigo, é um sinal. Um corte no tempo que revela o que já não fazia sentido, o que pedia pausa, o que precisava de espaço para ser curado. É um convite – duro, sim, mas também sagrado – para viver com mais verdade, mais presença e mais compaixão por si mesma. Encontre, sem pressa, o seu “para quê”. Não se deixe definir pelo seu diagnóstico, escolha quem decide tornar-se a partir dele. A cura não está apenas no fim do tratamento, ela começa no momento em que se ouve com honestidade. Num gesto de cuidado. Num limite traçado. Numa palavra que finalmente se diz. Em cada passo rumo a si mesma. Mesmo quando parece que tudo à volta desaba, existe dentro de si um lugar intacto – a sua essência. É a ela que devemos regressar quando tudo o resto se desfaz. E é nela que mora a força para reconstruir. Conecte-se com ela. E comece a sua Rota de Cura Integral. Escolha viver – e não apenas sobreviver – mesmo que ainda esteja a atravessar um cancro.

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