Nos bastidores dos desfiles de Miguel Vieira e David Catalán em Milão
Os designers apresentaram as suas coleções para a primavera/verão 2022. A Máxima acompanhou as filmagens que antecederam a emissão durante a Milan Fashion Week Men.
Depois de Londres, é a vez de Milão revelar as suas coleções masculinas para a primavera/verão de 2022, numa edição em formato híbrido (há pelo menos três desfiles físicos, video-shows e desfiles online) de 18 a 22 de junho. Miguel Vieira e David Catalán voltam a marcar presença na semana de Moda de Milão de Homem, ao lado de nomes como a Fendi ou a Prada, num calendário que reúne 65 marcas, com 12 eventos especiais em paralelo a acontecer durante estes dias. Por estes dias também se comemoram os 25 anos do Portugal Fashion, que levou os dois designers a Milão.


A Máxima acompanhou de perto as gravações dos video-shows, formato eleito para revelar como será a Moda do próximo verão pensada por Miguel Vieira e David Catalán. Entre os últimos retoques de maquilhagem e as habituais fotografias de backstage, os modelos de Miguel Vieira preparam-se como todos os preceitos, como se fossem desfilar perante a multidão habitual que via cada peça a escassos metros de distância.

Para o designer, esta nunca será uma solução ideal, mas é a que a pandemia impôs. "Vivi este ano de duas formas. Primeiro, sem mala, sem hotel, sem aeroporto. Depois, pensei muito sobre a questão do digital. Quando comecei como designer de Moda, se eu soubesse que este passaria a ser o processo [normal] tinha escolhido outra profissão. Porque eu acho que se tornou impessoal, a Moda tem que ser palpável e tem que ter detalhes de glamour. No digital tudo isso se perde. Eu acho muito bonito poder enviar um convite escrito à mão para assistir a um desfile meu, saber que as pessoas podem ir a uma loja, experimentar e comprar uma peça de roupa. Tudo isso para mim é muito importante", diz Miguel Vieira com nostalgia.


Já maquilhados, os modelos esperam pacientemente a hora de vestir os respetivos looks. Miguel só já os compõe depois de vestidos, com uma elegância e uma calma assinaláveis. Depois, é como se entrassem em cena, numa cadência sonora que é substituída por vozes e ordens em vez da habitual música que acompanha um desfile.
Para esta coleção, a que chamou Cores do dia, o designer elegeu uma paleta de tons claros, como o azul turquesa, o verde, o roxo beringela, ou o rosa pastel, e alguns padrões exóticos com pássaros e plantas. "Foi uma coleção pensada desde o momento em que acordamos até irmos dormir", diz. "Acordamos de uma forma mais descontraída (daí o despenteado dos cabelos dos manequins), e ao longo do dia vão mudando de looks. Veste-se uma roupa mais desportiva para um passeio no parque ou junto ao rio, a seguir vão para o escritório com uma roupa mais formal, e se calhar ao fim do dia vão tomar um copo com os amigos com um conjunto mais sofisticado." Esta metamorfose vai dos modelos mais sóbrios aos mais arrojados, onde se incluem padrões e cores vibrantes. Não à sombra do branco e preto habitual de Miguel Vieira. "Quando se falava de Miguel Vieira, falava-se em tons monocromáticos. Nos últimos anos tenho tido necessidade, e tenho gostado, de ter mais cor. Tenho vindo a abdicar cada vez mais do preto e do branco."


Quantos aos tecidos, a missão continua a ser a mesma. "A minha formação académica é de controlo e qualidade têxtil. Isso faz parte do meu ADN. Eu tenho a felicidade e a sorte de poder ir a uma feira onde só vão muito poucos compradores de tecidos do mundo inteiro. Eu acho que a peça pode ser minimalista, pode ser muito clean, mas o tecido é altamente importante, mesmo sendo mais caro. Esta coleção tem muitas peças em puras lãs virgens."


Os ensaios começam. As ordens são concisas, os semblantes estão descontraídos. Toda a gente cumpre o seu papel. É como se de uma encenação se tratasse, tal como um desfile, mas com interrupções de vozes sobrepostas ou takes repetidos. Os manequins mudam de looks, volta a repetir-se o processo: retoques de cabelo e maquilhagem, idas à casa de banho, alinhamentos finais, prontos para um último olhar do Miguel. Todos eles têm as unhas pintadas e usam uma aliança, como há anos o designer decretou que assim seria."

"Num desfile consegue-se ter a reação das pessoas. Esse feedback, hoje, chega em forma de menções nas redes sociais, seja em comentários ou em histórias", refere o designer, que não se convence com os novos formatos e que anseia pelo regresso às passerelles. "Continuo a achar que o futuro passa pelas compras físicas, pelas pessoas poderem pavonear-se com os sacos das marcas, como vemos muito aqui em Milão."


Por sua vez, David Catalán, designer espanhol da nova geração que se apaixonou por Portugal e só usa materiais nacionais, está a adorar experimentar este novo formato. "Haverá uma festa dos 25 anos do Portugal, onde o vídeo também será exibido", conta-nos, já depois de ter concluído as filmagens. "Será muito bom poder falar um pouco com as pessoas." Quanto à pandemia, experienciou-a de forma pacífica. "Tenho sorte porque o atelier fica junto da minha casa. Claro que tem sido stressante, mas tenho feito desporto e continuei a dar as minhas aulas online. É pena não ter conseguido ir a Espanha ter com a minha família ou não estar tanto com os meus amigos", conta.

"A coleção é bastante atemporal, sobretudo porque temos uma silhueta descontraída, entre o sporty e os detalhes de alfaiataria. Chama-se Madre porque é dedicada à minha mãe, percorre a minha infância. Ela fazia peças artesanais e foi um pouco inspirado nessa arte que idealizei a coleção. Percorri fotografias de quando ela trabalhava."

Das coleções de David Catalán nascem peças com "tecidos vaporosos, peças em crochet e em patchwork com linhas." As cores vão "do amarelo torrado ao salmão, além das já habituais gangas em preto e em azul", explica. Em colaboração com uma marca espanhola, nasce a linha de sapatos, e a novidade é a coleção de óculos de sol em parceria com "a marca japonesa 62 Twig, que é criada por um homónimo, que também se chama David Catalán!". Os acessórios são de uma mexicana a morar em Madrid.

Numa azáfama semelhante à de Miguel, David encaminha os modelos para o exterior do edifício onde serão realizadas as filmagens. Não se afasta um minuto dos manequins, à medida que os vai acompanhando para a saída - um a um. "Um minuto!" grita, antes de preparar o último modelo, que veste um dos conjuntos mais arrojados desta coleção que dedica à mãe. Os designers apresentaram as suas coleções domingo, dia 20, neste calendário da Moda italiano. Veja as imagens.
