"O que as pessoas não entendem é que o que Mugler fez nos anos 80 foi uma resposta à cultura da moda. É isso que eu quero fazer.”
Foi assim que Miguel Castro Freitas descreveu, em entrevista à Vogue, a visão que pretende imprimir à Mugler daqui para a frente. O designer português sublinhou que a histórica maison francesa nunca se resumiu apenas à ideia da “mulher sexy” - palavra que, aliás, foi banida dos ateliers durante o desenvolvimento desta coleção.
"Quando cheguei à Mugler, fui aos arquivos, examinei os elementos dos desfiles que as pessoas normalmente reconhecem, mas queria ir mais fundo”, contou à Vogue. “Fiz uma verdadeira escavação arqueológica na essência e no ethos da casa. A maioria das pessoas associa Mugler aos anos 80 e ao power dressing, que de facto foi um pilar da sua cultura, mas há muito mais para descobrir. A marca evoluiu imenso dos anos 70 para os anos 90."
Aos 45 anos, Castro Freitas chegou à Mugler no final de março, trazendo um currículo impressionante na bagagem: passou pela Dior (onde trabalhou com John Galliano e Raf Simons), pela Dries Van Noten, pela Lanvin de Alber Elbaz e, mais recentemente, liderou a direção criativa nos bastidores da Sportmax.
A palavra que mais repete quando fala desta coleção é "arqueologia". O designer insistiu, em várias entrevistas, na necessidade de "escavar" para lá das imagens cristalizadas que associamos à Mugler. Esse mergulho no passado resultou numa proposta surpreendentemente fresca: o preto, cor incontornável da herança Mugler, surge quase ausente, dando lugar a tons de bege e até a um rosa inesperado. Os materiais, como o látex, prestam homenagem tanto ao legado de Thierry Mugler como à era de Casey Cadwallader, enquanto as penas surgem em silhuetas que evocam figuras divinas - uma referência direta ao nome da coleção: “Aphrodite Stardust”.
Descrita como uma despedida da icónica Party Girl da Mugler, esta estreia apresenta uma Mugler mais madura, refinada e contida na forma como revela o corpo feminino. A sensualidade continua presente, mas agora é mais sugestiva do que explícita - salvo uma exceção memorável: um vestido etéreo que parece suspender-se delicadamente nos mamilos da modelo, tornando-se um dos momentos mais falados do desfile.
Com esta coleção-debut, Miguel Castro Freitas demonstra não só um respeito profundo pelos códigos da maison, como também uma visão clara para a sua evolução: reinventar a Mugler através de uma arqueologia criativa que olha para trás para avançar - fiel ao espírito irreverente de Thierry Mugler, mas pronta para dialogar com o presente.