O que se esconde por detrás dos óculos de Anna Wintour? 5 coisas que talvez não saiba

Conhecida por ser exigente, fria e implacável, a editora da Vogue americana – que acaba de anunciar a sua saída – é famosa pela expressão impenetrável. A sua imagem pública, cuidadosamente construída pela própria, impõe um misto de fascínio, medo e respeito.

Anna Wintour, editora da Vogue, anuncia saída após 37 anos no cargo, mantendo influência na Condé Nast Foto: Getty Images / Collage: Safiya Ayoob
27 de junho de 2025 às 16:28 Madalena Haderer

Quase como a rainha de Inglaterra, a quem as pessoas se referiam como “The Queen” sem que houvesse qualquer dúvida sobre a que rainha se referiam – apesar de haver várias rainhas europeias –, quem conhece a editora da Vogue, regra geral, refere-se a ela como Anna. E ninguém pergunta “Qual Anna?”, porque isso seria estúpido. Este facto é fruto da sua longevidade à frente da Vogue norte-americana – 37 anos passados, alegadamente, a aterrorizar as pessoas à sua volta. Afinal, Miranda Priestly, a protagonista do filmefoi inspirada nela. Tal como a personagem de Meryl Streep, Wintour tem um olho para o detalhe que iguala apenas o de uma ave de rapina, não tolera atrasos, detesta reuniões que se prolongam e andam às voltas sem chegar a lado nenhum, e é particularmente acintosa com quem lhe apresenta trabalho que não está ao nível das suas expectativas. Wintour geriu a Vogue norte/americana  e a britânica, antes disso  com mão de ferro. Disciplina era o nome do jogo. Absolutamente obcecada com controlo, tudo tinha de passar pelo seu crivo. Quem acredita que mulheres em posição de poder são naturalmente empáticas, sensíveis, emotivas e tolerantes, basta olhar para Anna para meter a viola no saco.

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Esta semana, porém, quando nada o fazia prever, Anna Wintour anunciou que vai deixar a sua posição de editora-chefe da revista Vogue e que está à procura de um sucessor – ou sucessora. Mas desengane-se quem pensa que Anna vai agora passar os dias a passear os cães, cultivar flores e a fazer biscoitos. O seu poder vai continuar a pairar sobre a empresa e a indústria, já que Wintour se mantém no grupo editorial Condé Nast, que controla a Vogue, como diretora de conteúdo da empresa e diretora editorial global da Vogue.

Anna Wintour, editora da Vogue americana, com um sorriso e um vestido preto Foto: Getty Images

A Máxima aproveitou este momento para tentar descobrir mais sobre a mulher que se esconde por detrás dos óculos escuros. E deixamos-lhe aqui cinco coisas que talvez não saiba sobre a vida pessoal de Anna Wintour:

1. Imagem de marca – Os óculos de sol que usa são sempre Chanel. Sempre grandes e muito escuros, para melhor esconderem qualquer tipo de emoção. E embora o protocolo ditasse que Anna devia tê-los removido na presença da rainha Isabel II, no London Fashion Week de 2018, isso não aconteceu. Também o seu corte de cabelo, “bob” liso e geométrico, sempre igual desde os anos 80, é quase uma assinatura. Este look muito específico faz com que seja imediatamente reconhecível. Em termos de estilo, Anna prefere vestidos estruturados de marcas como Oscar de la Renta, Prada, Chanel e raramente usa calças. Não abdica dos seus sapatos Manolo Blahnik de salto médio, sempre semelhantes.

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Anna Wintour e a rainha Isabel II num evento Foto: Getty Images

2. Amizades – No seu livro Anna: The Biography, a autora, Amy Odell, narra um episódio que se passou entre Wintour e a sua amiga de infância Vivienne Lasky e que é bastante demonstrativo da personalidade da editora: “Anna convidou-a para tomar chá, mas Lasky não ficou com a impressão de que a Anna tivesse verdadeiro interesse em reatar a amizade – apesar de dizer sentir-se isolada. O encontro foi frio. Anna, vestida de preto dos pés à cabeça, não lhe ofereceu nada para comer ou beber até que a mãe apareceu, mais tarde, e lhe disse para o fazer. [...] Esse encontro marcou o fim da amizade entre as duas. A Anna tinha seguido em frente.” 

Anna Wintour, ex-editora da Vogue, surge num evento com um vestido rosa e os seus óculos escuros Foto: Getty Images

3. Família e relações – Anna nasceu em Londres a 3 de novembro de 1949. A sua mãe, Nonie Wintour (nascida Eleanor Baker), era norte-americana e pertencia a uma família quaker abastada. Nonie conheceu Charles Wintour, nascido em Dorset, Inglaterra, quando ambos frequentavam Cambridge. Com o tempo, Nonie ficou conhecida pelo seu interesse pelo serviço público, enquanto Charles enveredou pelo jornalismo, e foi editor do jornal Evening Standard, construindo uma reputação como “chilly Charlie” (Charlie gelado) devido ao seu estilo de edição duro e distante – faz lembrar alguém? Alegadamente, o pai sempre disse à filha que o seu objetivo profissional deveria ser dirigir a Vogue (done and done – já que dirigiu tanto a britânica como a americana). Porém, na sua biografia, Amy Odell partilha também episódios que sublinham o interesse precoce de Anna pela moda – desde o tempo em que trabalhou numa loja da Biba, em Londres, até a uma breve experiência como modelo. Anna Wintour foi casada com o psiquiatra David Shaffer, com quem teve dois filhos: Charles Shaffer, médico, e Katherine Shaffer, produtora de televisão. O casal divorciou-se em 1999. Depois disso, Wintour teve uma relação longa com o empresário Shelby Bryan, executivo de telecomunicações e investidor texano. Separaram-se discretamente em meados de 2020.

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Anna Wintour e convidada num evento Foto: Getty Images

4. Tragédia – Numa manhã, a caminho da escola, Gerald, o irmão mais velho de Anna, foi atropelado quando tinha apenas 10 anos. O embate provocou-lhe uma fratura no crânio e ele morreu pouco depois de ter sido levado de urgência para o hospital. Anna tinha dois anos quando isto aconteceu e a família ficou, para sempre, marcada pelo luto e pela culpa.

5. Rotina – Vive entre Nova Iorque e Long Island, onde tem uma casa de campo, e mantém uma rotina extremamente disciplinada: nos dias de semana, acorda entre as 4h30 e as 5h e começa o dia a ler os jornais britânicos e americanos; de seguida, pratica ténis, para se manter em forma; passa num Starbucks para se abastecer de cafeína; e chega à redação da Vogue entre as 8h e as 8h30; regressa a casa às 17h com um saco cheio de trabalho para fazer ao serão; e vai para a cama por volta das 22h.

Como acontece quase sempre, o mito que Anna Wintour construiu à sua volta é muito mais interessante do que a mulher verdadeira. Ou assim parece.

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