Nunca lhe tinha passado pela cabeça ser designer de beachwear. Como todas as histórias de sucesso, foi algo que aconteceu por acaso: "Eu era arquiteta paisagista em São Paulo. Quando casei com o meu marido, um médico carioca, mudei-me para o Rio". Curiosamente, o marido era nada mais nada menos que neto do afamado arquiteto Oscar Niemeyer. Mas nem isso impediu que Lenny Niemeyer acabasse por largar a sua ainda curta carreira de arquiteta paisagista. "Não consegui levar o escritório de arquitetura que tinha em São Paulo para o Rio, então fiz um período sabático de um ano e meio para pensar no que queria fazer da vida", conta à Máxima. E foi precisamente aí que tudo começou: "Ninguém se vestia igual às cariocas. Tinham um estilo totalmente diferente do nosso [Lenny e as amigas de São Paulo]. Elas [as cariocas] eram meninas criadas na praia, eram verdadeiras garotas de Ipanema." Relembra que, à época – estávamos na década de 70 –, os biquínis de fio dental eram já uma realidade na Cidade Maravilhosa. "Achávamos aquilo lindo, nós que éramos todas bem comportadinhas", ri-se. Daí até começar a criar os seus próprios modelos de biquínis foi um tiro: "Comecei por fazer 30 peças por mês que vendia às minhas amigas de São Paulo. Era tudo muito simples." Recorda com certa nostalgia um modelo que "tinha uns ossinhos nas laterais das cuecas, tudo meio artesanal". As 30 peças acabaram por passar a 300, "e pronto, virou indústria", remata com um encolher de ombros. Lenny Niemeyer tem aquele visual irremediavelmente chique e simultaneamente descontraído. De vestido e sandálias pretas, sem um único cabelo fora do sítio, ninguém diria que tinha aterrado em Lisboa há poucas horas para visitar a Casa Pau-Brasil, palacete situado no coração da capital onde só moram marcas brasileiras, entre as quais a sua. Pergunto-lhe se a internacionalização foi fácil uma vez que, no que toca à moda de praia, a linha que separa (ou separava) o Brasil do resto do mundo era gigantesca. "Não foi nada fácil, o Brasil não era sequer considerado um polo criador de moda. Vendíamos para os Estados Unidos e pouco mais." Mas sublinha que Portugal se parece muito com o mercado paulista. Clássica, intemporal e bastante abrangente em termos de gerações. É assim que define a sua marca homónima, que vem mantendo a mesma linha ao longo de quase quatro décadas: "Sempre que tentei ficar um bocadinho mais comercial, não deu certo." E ainda bem, adoramos como está. Nas escassas impressões que trocámos acerca de marcas portuguesas emergentes, neste segmento específico da moda de praia, Lenny aplaudiu. "Estou muito feliz por estar aqui, estou realizada."