Grace Wales Bonner. A nova era da masculinidade na Hermès

A britânica será a primeira mulher negra a liderar o design numa grande casa de moda tradicional.

Retrato de Najla Said em estúdio com blusa preta e joias Foto: ©malickbodian
21 de outubro de 2025 às 17:53 Safiya Ayoob

Há anúncios que marcam o calendário da moda, e depois há momentos que o redefinem. A nomeação de Grace Wales Bonner como diretora criativa da linha masculina da Hermès pertence, sem dúvida, à segunda categoria. A designer britânica, conhecida pela sua abordagem poética e culturalmente densa à moda, assume agora o comando de do luxo francês  e, com isso, inaugura uma nova fase na história da Hermès e da própria ideia do que significa vestir o homem contemporâneo.

Durante 37 anos, Véronique Nichanian foi a guardiã da elegância masculina da Hermès. Sob a sua direção, o prêt-à-porter masculino da casa consolidou-se como uma linguagem própria: discreta, refinada e fiel ao artesanato que é sinónimo da marca. A sua saída, anunciada no final de 2025, abre espaço para uma viragem geracional e conceptual. Entra Grace Wales Bonner — e com ela, um sopro de modernidade que promete reconfigurar a forma como o luxo e a identidade se entrelaçam.

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Nascida em Londres, filha de mãe inglesa e pai jamaicano, Wales Bonner construiu uma carreira a partir do encontro entre mundos. Desde a fundação da marca homónima, em 2014, que o trabalho se move entre a alfaiataria europeia e as narrativas da diáspora africana, entre o rigor académico e o lirismo espiritual. As coleções são menos sobre roupa e mais sobre reflexão - sobre pertença, herança e masculinidades plurais. Através de tecidos, cortes e detalhes minuciosos, a designer questiona quem somos e de onde vimos, trazendo para a passerelle a complexidade das identidades negras e mestiças num contexto de luxo e erudição.

O impacto da sua chegada vai muito além da estética. Grace Wales Bonner é a primeira mulher negra a liderar o design de moda masculina numa grande casa francesa. Num sector ainda dominado por narrativas eurocêntricas, a nomeação é um ato de renovação e de reconhecimento: o talento não tem cor, mas a história da moda tem. E é precisamente ao reinscrever essa história que a Hermès reafirma a sua relevância - não apenas como guardiã de um legado, mas como marca que olha o futuro de frente.

Sobre esta chegada à casa francesa,  deisgner afirmou, num comunicado partilhado: “É uma profunda honra ser confiada com o papel de Diretora Criativa da Moda Masculina Pronto-a-Vestir da Hermès. É um sonho realizado iniciar este novo capítulo, seguindo uma linhagem de artesãos e designers inspiradores. Desejo expressar a minha gratidão a Pierre-Alexis Dumas e Axel Dumas pela oportunidade de trazer a minha visão para esta casa mágica.”

A grande curiosidade, agora, reside em imaginar o que virá. Wales Bonner deverá apresentar a sua primeira coleção para Hermès em janeiro de 2027 e, até lá, o mundo da moda vai especular sobre como esta união se materializará. Poderemos esperar uma fusão entre a sobriedade clássica da Hermès e o espírito lírico de Wales Bonner: uma alfaiataria de precisão quase litúrgica, reinterpretada com fluidez, cor e significado. Talvez o homem Hermès se torne mais introspectivo, mais global, mais consciente do seu lugar no mundo - um viajante que veste a tradição com alma contemporânea.

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