Há quem jure que é preciso namorar durante vários anos antes de se dizer o derradeiro “sim”. Por outro lado, há
quem defenda que when you know, you know — quando se sabe, simplesmente sabe-se —, e o pedido pode acontecer apenas alguns
meses depois do primeiro beijo.
Recentemente, a artista Taylor Swift ficou noiva de Travis Kelce, jogador profissional de futebol americano na NFL,
após apenas dois anos de namoro.
Curiosamente, o relacionamento anterior de Swift durou seis
anos e não houve pedido de noivado, acendendo um debate nas redes sociais.
Afinal, existe mesmo um timing certo para decidir casar? Falámos com a sexóloga e terapeuta
de casal Petra Freitas para perceber se o calendário do amor realmente influencia o sucesso de uma
relação e a tão desejada subida ao altar.
Tempo de namoro: ajuda ou nem por isso?
Para Petra Freitas, a resposta é clara: “O determinante não é a duração, mas sim a profundidade e a
qualidade do que se vive na relação”.
Namorar anos pode dar ao casal tempo para se conhecer melhor, lidar com desafios e perceber se
têm objetivos de vida compatíveis. Mas, como alerta a especialista, “o simples acumular de meses
ou anos não garante nada”.
Há casais que, em pouco tempo, já passaram por situações tão intensas que parecem ter feito um
mestrado em vida a dois – e estão prontos para dar o passo seguinte. “Por outro lado, outros, mesmo
após muitos anos, ainda evitam conversas difíceis ou não sabem gerir conflitos, o que os torna
menos preparados para um casamento”, acrescenta Petra.
Por que é que uns casam rápido enquanto outros esperam, por vezes, mais de uma década?
Nem tudo se resume ao número de aniversários de namoro. “Casais que se encontram numa fase da
vida em que já têm maturidade pessoal, estabilidade profissional e clareza sobre o que procuram
numa relação tendem a avançar mais rápido”, explica Petra.
Quem começa a namorar muito cedo pode querer explorar, crescer individualmente ou consolidar a
carreira antes de assumir compromissos formais. “Também há diferenças de personalidade: alguns
são naturalmente mais decididos, outros mais cautelosos. Em resumo, uns veem o casamento como
parte essencial da sua vida, outros encaram-no como apenas uma possibilidade futura”.
O que pesa mais do que o tempo?
Mais do que contar meses ou anos, o que realmente influencia a decisão de casar são fatores como
idade, estabilidade financeira e, acima de tudo, maturidade emocional.
“Casais capazes de lidar com frustrações, respeitar diferenças, apoiar os projetos individuais do
outro e manter uma comunicação clara têm muito mais condições para um casamento saudável”,
sublinha Petra.
A história de vida também conta. Quem cresceu a ver casamentos felizes tende a avançar com mais
confiança. Já quem assistiu a separações dolorosas pode ser mais reticente.
Pressão externa: família, amigos e... redes sociais
As pressões externas podem apressar ou atrasar o momento do pedido.
“A família pode exercer
pressão direta, sobretudo em contextos em que o casamento é visto como um ‘passo natural’ após
alguns anos de namoro. Os amigos também influenciam: quando todos à volta começam a casar, o
casal que ainda não deu esse passo pode sentir-se ‘fora de ritmo’”, revela Petra. Casar só para
corresponder às expectativas dos outros é receita para frustração.
O que diz a ciência: um ou dois anos é o “ideal”?
Estudos mostram que casais que passam pelo menos um a dois anos juntos antes do casamento
tendem a ter menor risco de divórcio.
Mas Petra lembra: “O tempo, por si só, não garante nada. Duas pessoas podem namorar dois anos
sem nunca terem tido conversas profundas sobre finanças, projetos de vida ou filhos. E, nesse caso,
estão menos preparadas do que um casal que, em seis meses, já abordou todos esses temas de forma
aberta”.
Checklist emocional: sinais de que estão prontos
Para quem precisa de pistas, Petra partilha quatro indicadores de maturidade:
- Conseguir falar de temas difíceis sem transformar tudo em drama.
- Confiar no outro.
- Respeitar o espaço individual.
- Já terem superado obstáculos juntos.
“Quando existe um projeto partilhado de futuro onde ambos se revêem, o tempo deixa de ser um
fator decisivo”, garante.
Erros que custam caro
Um dos maiores equívocos é acreditar que o casamento vai resolver problemas existentes. “Na
prática, esses problemas tendem a agravar-se”, avisa Petra.
Outro erro é avançar apenas para responder a pressões externas ou confundir paixão intensa com
prontidão para um compromisso duradouro. “O casamento exige mais do que emoção: exige
consistência, paciência e resiliência”.
E se ainda houver dúvidas?
“O casamento não é uma corrida contra o tempo, mas sim um compromisso que deve ser assumido
com consciência e serenidade”. Para Petra, esperar não é um problema, é até saudável, se a dúvida
existe.
“O ideal é que este passo seja vivido como uma celebração natural da relação e não como uma
obrigação. O que garante o sucesso não é o dia do ‘sim’, mas sim a forma como o casal constrói, dia
após dia, uma vida em conjunto baseada no respeito, no diálogo e no amor”.
No fundo, talvez a pergunta não seja “quanto tempo é preciso namorar antes de casar”, mas sim
“quanto estamos dispostos a investir para construir uma relação sólida?”
O amor não tem cronómetro. Se o pedido de casamento surge por pressão social, medo de ficar para
trás ou na tentativa de “salvar” uma relação, talvez seja melhor esperar. Mais vale adiar o “sim” do
que pronunciar um que, no fundo, não é inteiramente nosso.