Acabar uma relação é o melhor tratamento de beleza?

O que é que todas as histórias de glow-up têm em comum? “Marcámos consulta” com Mafalda Galvão Teles, psicóloga clínica e psicoterapeuta, sobre o porquê de ficarmos sempre mais bonitas depois do adeus.

A pintura "Le Rêveil" retrata uma mulher ao acordar Foto: Getty Images
23 de dezembro de 2025 às 14:16 Patrícia Domingues

Não é difícil imaginar que o fim de uma relação é um dos momentos mais intensos da nossa vida emocional. “Os sentimentos que mais se observam após o término são tristeza, solidão, raiva, culpa, ansiedade e desesperança”, explica Mafalda. Muitas pessoas sentem ainda rejeição, dúvidas sobre o próprio valor e uma diminuição da autoestima. O sofrimento, como a especialista sublinha, depende de inúmeros fatores: “A forma como lidamos com a separação depende da qualidade da relação, da nossa personalidade, do estilo de vinculação e do suporte social que temos.” Quem tem vinculação ansiosa tende a ruminar e a sofrer mais, enquanto outras pessoas se podem distanciar emocionalmente, reprimindo a dor que, por vezes, volta a aparecer mais tarde. 

O luto amoroso, continua Mafalda, é semelhante ao luto por morte: “É comum surgir tristeza profunda, perda de prazer nas atividades quotidianas, raiva, culpa e isolamento social.” Mas não há uma linha temporal fixa, cada pessoa reage de forma única. Há quem avance e recue emocionalmente, até integrar a perda de maneira saudável. Pessoas com vinculação segura conseguem enfrentar a dor sem se perder: “Conseguem lembrar-se do ex-parceiro de forma realista, integrando aspetos positivos e negativos, e gradualmente desinvestir emocionalmente da relação.” Já estilos inseguros ou desorganizados podem gerar lutos prolongados, com impacto na saúde emocional e física. 

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Apesar da dor, a separação também pode ser um ponto de renascimento. “É uma oportunidade de reconstruir a nossa identidade e reorientar a vida”, afirma. É o momento de redescobrir prioridades, explorar novos caminhos e investir em atividades que promovam bem-estar. E Mafalda reforça: “O verdadeiro glow-up não é apenas exterior – reside na evolução interna, na identidade, no autoconceito e na autoestima.” 

O processo começa muitas vezes pelo exterior, porque é a mudança mais rápida de controlar: um corte de cabelo, roupas novas, ginásio. Mas a transformação verdadeira é interna. Quem se dedica ao autocuidado, à reflexão e à terapia experimenta uma reconstrução do “eu” que vai além da aparência. A libertação de padrões limitantes ou expectativas de género dentro da relação torna-se uma oportunidade de recuperar a autonomia e a confiança: “Após a separação, muitas mulheres redescobrem quem são e ganham força para viver plenamente. O cuidado com o corpo também desempenha um papel essencial. O exercício físico “não é apenas estética: regula neurotransmissores, aumenta a produção de endorfinas e promove neuroplasticidade, ajudando a recuperar energia, autoestima e bem-estar mental.” 

No final, o conselho da psicóloga é claro: procurar ajuda profissional. “A psicoterapia oferece um espaço seguro para compreender os nossos pensamentos e sentimentos, elaborar o luto e transformar a dor em crescimento.” Afinal, o glow-up “não é só sobre parecer melhor aos olhos dos outros: é sobre sentir-se inteira, autónoma e capaz de viver plenamente, ainda que sozinha, redescobrindo o próprio poder e a própria vida”. 

Entrevista originalmente publicada na edição de aniversário da Máxima, novembro de 2025. 

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