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Exposição a PFAS (que estão nas frigideiras) pode causar abortos recorrentes

Do número total de casos de abortos recorrentes, 50% fica por explicar, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento. Um estudo recente sugere que podem estar relacionadas com a exposição a “químicos eternos”.

Estudo relaciona abortos recorrentes com exposição a "químicos eternos"
Estudo relaciona abortos recorrentes com exposição a "químicos eternos" Foto: Pexels
17 de setembro de 2025 às 11:31 Madalena Haderer

Um estudo levado a cabo pelo Hospital de Obstetrícia e Ginecologia de Pequim em parceria com a Universidade Capital Medical, também de Pequim, analisou os dados de cerca de 200 mulheres, 110 das quais haviam sofrido abortos espontânos recorrentes inexplicados, ou seja, sofreram dois ou mais abortos seguidos cuja causa não foi possível identificar. A premissa dos investigadores era que a presença de PFAS no organismo destas mulheres podia explicar esta condição. Os PFAS – em português, substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas – fazem parte de uma grande família de mais de 4 mil compostos químicos sintéticos usados desde a década de 1950 em inúmeros produtos, devido à sua resistência à água, à gordura e ao calor e outros utensílios de cozinha.

De facto, tal como os investigadores previam, das mulheres cujos dados médicos foram analisados, as que sofreram pelo menos dois abortos espontâneos inexplicados tinham valores elevados de PFAS no sangue. No seu relatório, publicado no mês passado, na ScienceDirect, uma plataforma online de artigos científicos, estes investigadores referiram ainda que “vários estudos indicaram que os PFAS podem contribuir para diversos processos fisiopatológicos, incluindo efeitos de perturbação endócrina (Zhang et al., 2023), hepatotoxicidade (Costello et al., 2022) e imunotoxicidade (Antoniou e Dekant, 2024)”. No âmbito da saúde reprodutiva e metabólica, os investigadores referiram também que estudos anteriores demonstraram que “a exposição a PFAS pode aumentar o risco de parto prematuro (Gao et al., 2021), alterações metabólicas (Chen et al., 2024a), diabetes (Qu et al., 2024) e aborto espontâneo (Szecsi et al., 2015)”.

O aborto espontâneo recorrente é normalmente diagnosticado após duas ou mais perdas gestacionais e, de acordo com os investigadores, afeta aproximadamente 1% a 5% dos casais. “Entre os fatores que contribuem para este problema incluem-se anormalidades cromossómicas, disfunções hormonais e metabólicas, trombofilia, infeções, problemas espermáticos e outras causas (El Hachem et al., 2017)”, explicam. Ainda assim, cerca de 50% dos casos de aborto espontâneo recorrente permanecem sem explicação, sendo classificados como aborto espontâneo recorrente inexplicado. É especificamente para estes casos que este estudo científico avança agora uma explicação.

Os PFAS são também conhecidos como “químicos eternos” porque não se decompõem e têm grande mobilidade – migram através das correntes marítimas e atmosféricas, percorrendo longas distâncias desde a sua fonte de emissão. Contaminam as águas subterrâneas e superficiais e passam facilmente pelos tratamentos de águas residuais, chegando à água para consumo humano. Adicionalmente, acumulam-se no solo e migram para as plantas – incluindo frutas e vegetais que serão consumidos pelas pessoas. 

Para além da contaminação no meio ambiente, ao serem utilizados na composição das embalagens para alimentos ou utensílios de cozinha, migram para os produtos alimentares com os quais entram em contacto. Outra forma de exposição é através do consumo de leite, carne e ovos, provenientes de animais que foram alimentados com pastagens, ração e água contaminadas com PFAS, bem como do consumo de pescado e frutos do mar que vivem em águas contaminadas.

Análises demonstram a sua presença na corrente sanguínea tanto de seres humanos como de animais selvagens e, inclusivamente, no leite materno, em todo o mundo. E já foram detetados PFAS nos pinguins da Antártida, nos ursos polares do Ártico e na chuva do Tibete. 

Resumindo, não há como escapar. E a limpeza de locais poluídos, embora tecnicamente possível, é difícil e dispendiosa, já que, para serem destruídos, os PFAS têm de ser incinerados a temperaturas superiores a 1100ºC. Porém, tendo em conta que, nos últimos anos, têm sido frequentemente associados a problemas de saúde graves, é de esperar que a sua captura e destruição se torne uma prioridade para a comunidade científica e política.

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