Rabo de Peixe. Entrevista com os atores e quem é quem nesta série

Rabo de Peixe é já a segunda série integralmente portuguesa a chegar à Netflix, a 26 de maio. A série é realizada por Augusto Fraga, e provém de um projeto que acabou por vir a ser um dos vencedores do concurso da Netflix para argumentistas, lançado durante a pandemia de Covid-19, em 2020.

A série conta a história de um naufrágio de um barco que transportava meia tonelada de cocaína e que deu à costa de uma vila açoriana - Rabo de Peixe - um evento que aconteceu na na vida real, em 2001. A Máxima falou com o realizador e parte do elenco.

"Decidi criar uma história de um rapaz e o seu grupo de amigos, que tinham uma vida normal e que, de repente, por circunstâncias extraordinárias, mudaram de vida. É uma história de sonhos, do romper com o destino, e de alguma ironia divina", começou por explicar o realizador Augusto Fraga. "Houve qualquer coisa de metafísico, algo que queria que esta história acontecesse. Existiram vários episódios em que, por exemplo, no guião podia ler-se 'Era uma tarde de nevoeiro' e de facto havia nevoeiro. Momentos que nos fizeram acreditar que a ilha queria que nós lá estivessemos", acrescentou.

José Condessa, Kelly Bailey, Maria João Bastos, Pepê Rapazote ou Albano Jerónimo são alguns atores deste elenco, numa produção em que todos os intervenientes acreditam ter sido uma excelente plataforma para divulgar os Açores, onde ocorreram grande parte das filmagens.

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Os Açores

José Condessa, por exemplo, referiu o quão importante foi estar naquele ambiente tão genuíno, e onde de facto as coisas aconteceram, até para construir a sua personagem: "Tal como a própria ilha, que é tão virgem, o povo tem também uma grande amabilidade e simplicidade - essa forma tão simples de ser e de receber o próximo. Para mim foi só 'beber' o máximo possível para conseguir construir esta personagem.".

Já para Fraga, o realizador tem um gosto especial gravar nos Açores. "Para mim, como açoriano, era importante filmar lá. Não só porque a história, narrativamente, acontece lá, mas porque há uma relação entre a ilha e esta história... ou seja, a ilha é uma personagem. A presença dos terramotos, das tempestades, a vida dura do mar, cria e molda as personagens de uma forma importante. E isso significa estarmos preparados para filmar no alto mar, debaixo de chuva, ao pé de vulcões... Há um dramatismo natural importante para as personagens e para nós", referiu. "Foi, por um lado, super complicado, porque é desafiante filmar em condições onde a natureza é extrema, mas ao mesmo tempo era compensador, pois tinhamos a certeza que estavamos no sítio certo para contar esta história", confessou.

Quem é quem?

José Condessa é Eduardo, "um pescador em Rabo de Peixe, uma personagem muito cativante. (...) O primeiro contacto com a terra e com as pessoas foi essencial para eu conseguir construir as pequenas especificidades que eles têm - de corpo e na forma como vêem o mundo".

Kelly Bailey é Bruna, "uma miúda que não tem muitos planos para o futuro, vive muito o presente, é muito livre e não se mete nos melhores caminhos. (...) Ela é a única personagem que não é de Rabo de Peixe, mas que acaba por se ver super envolvida."

Rodrigo Tomás é Rafael: "A minha personagem nasceu em Rabo de Peixe, com um talento desmedido para o futebol e consegue chegar ao clube Santa Clara. Há um episódio marcante, que é quando ele marca um golo no estádio da Luz, contra o Benfica. Um golo histórico e toda a gente o conhece na rua por causa desse feito. Mas depois tem uma lesão no joelho e a carreira no futebol vai por água abaixo. Acaba por comprar uma traineira."

André Leitão sintetiza: "A minha personagem é o Carlinhos, uma das mais livres da série. Tem um amor desmedido por música e pelos amigos."

Helena Caldeira é Sílvia: "Ela é também natural de Rabo de Peixe. É uma rapariga cheia de sonhos, mas cuja vida não lhe deu oportunidades suficientes para seguir esses sonhos."

Maria João Bastos: "A minha personagem é a inspetora Paula Frias, trabalha no continente e é destacada para ir para os Açores investigar este caso. Chegada lá, encontra-se com o inspetor Francisco. Ela vai ali revolucionar um bocadinho as coisas."

Pepê Rapazote: "A minha personagem é o Uncle Joe, ele é retornado dos Estados Unidos, foi emigrante e acabou por ser deportado, porque se portou mal. Ele é verdadeiro um protagonista e envolve-se bastante em toda esta aventura"

Salvador Martinha: "Eu sou o inspetor Francisco. Nem sei bem se é inspetor, é estagiário. Vai aprender bastante com a inspetora Paula. Ele acaba por ser alguém em quem ela confia um bocadinho. Ela é a típica inspetora urbana, que chega à aldeia e pensa que são todos uns campónios."

O realizador

Maria João Bastos afirma que Augusto Fraga "é uma pessoa muito sensível e tem uma enorme capacidade de ouvir e de respeitar, e de dar os seus inputs, mas de maneira a ser um encontro de ideias". Ideia corroborada por Salvador Martinha que o intitula de "líder sensível". Já Pepê Rapazote relembra que "Augusto é um realizador de publicidade, o que eu só vejo como a maior mais valia. Na escola do novo cinema português, em que muitas vezes um realizador não sabe o que há-de fazer a 5 minutos de filme, a escola da publicidade diz que se tivesse mais 10 frames é que fazia a coisa como deve ser. E esta é a diferença de estrutura mental - a um realizador de publicidade faltam sempre frames, aos realizadores clássicos sobra sempre filme. Não tenhamos, por isso, preconceito, antes pelo contrário, é uma mais valia."

A importância da Netflix

Rabo de Peixe é a segunda série portuguesa a marcar presença na plataforma de streaming Netflix, algo que só nos deve encher de orgulho a todos os portugueses. Tal como Helena Caldeira refere "não nos podemos esquecer que isto é uma plataforma que chega a muita gente, a vários pontos do mundo, com diferenças culturais, sociais e económicas, e por isso nós temos alguma responsabilidade no que estamos a fazer." Augusto Fraga referiu, também, o que para ele significou estar neste projeto:"Para mim que sou realizador, poder estar ao lado dos realizadores que mais admiro (David Fincher, Alfonso Cuarón, Tarantino...), só tenho que estar agradecido, porque não era a escolha mais óbvia. Eu sou um realizador com muita experiência em publicidade, mas houve alguma coisa, nalgum momento, que fez com que acreditassem que eu era capaz de liderar este projeto."

Para José Condessa, afirma que trabalhar com Fraga "foi incrível, maravilhoso. As condições todas que nos foram dadas para gravar, a própria equipa técnica, profissionais de exceção que conseguimos juntar num só projeto. A trabalhar com os melhores, crescemos. E tivemos sempre uma base de amizade e de admiração uns pelos outros. Como ator, fez-me transcender, atingir, acredito eu, um nível de performance um bocadinho acima do que seria capaz. E isso deve-se muito a esta oportunidade que a Netflix nos deu a todos."

Maria João Bastos acrescenta que "é uma abertura da nossa indústria para um mercado internacional, mostrar o talento que existe em Portugal nas mais diversas áreas. É uma porta para que cada vez mais existam intercâmbios e mais oportunidades."

Pepê Rapazote também não poupa nos elogios: "Este Rabo de Peixe é o melhor exemplo que vi até hoje de uma excelente super história, exclusivamente portuguesa e feita com uma dinâmica, uma vertigem e com uma fotografia e edição que nos põe seguramente lá em cima, ao nível de qualquer outra série internacional."

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