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Celebridades

Joana Ribeiro, atriz. "Fala-se muito de uma rivalidade entre mulheres e atrizes que eu nunca experienciei"

A juventude de Joana Ribeiro foi vivida como quase todas: aos tropeções, sem saber que caminho seguir e a dar de caras com becos sem saída. Estudou Ciências, Artes, foi para Arquitetura. Decidiu ser atriz e, pela primeira vez, sentiu a sua vida como uma engrenagem bem montada. Um mecanismo em que tudo flui. Como neste editorial, em que assume looks completos Dior.

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Miss Joana
29 de novembro de 2024 às 16:43 Madalena Haderer

Tem 32 anos e começou o seu percurso como atriz aos 20, na novela Dancin’ Days. Nestes 12 anos, participou em diversas novelas – neste momento está a gravar A Promessa, da SIC –, e entrou em vários filmes. Um dos mais aclamados é O Homem que Matou Dom Quixote, realizado pelo ex-Monty Python Terry Gilliam, e com os atores Adam Driver, Jonathan Pryce e Stellan Skarsgård. A mãe fê-la prometer que, se um dia for convidada para os Óscares, a levará como acompanhante. Nada mais justo, tendo em conta que foram os pais que a convenceram a deixar a Arquitetura em lume brando e a experimentar a representação. E se o convite ainda não chegou, parece certo que chegará – embora Joana se entusiasme mais com os prémios europeus. Conversámos animadamente até o Zoom nos cortar o pio. E voltámos à carga. Falámos sobre oportunidades de trabalho para atrizes mais velhas, sobre amizades e rivalidades dentro da indústria e sobre como viver a vida de forma fluida. Falar com a Joana é como retomar uma conversa com aquela amiga que não vemos há muito, mas que sentimos sempre por perto.

Foto: Lucas Fonseca

Participaste, recentemente, numa produção de moda, que foi uma colaboração da Máxima com a Dior.  Ser protagonista de um editorial é como estar numa personagem?

Sempre gostei imenso de moda. Não só porque é interessante ver qual é o estilo de cada personagem, mas também porque, através da moda, podemos ser personagens diferentes [nas nossas vidas]. E isso é uma coisa que me atrai bastante, porque ajuda-me a criar uma barreira entre a Joana real e a Joana que está à vista do público.

E ajuda-te a dar corpo às personagens?

A roupa ajuda sempre, porque a maneira como uma pessoa se veste diz muito sobre ela. Diz se é uma pessoa que gosta de perder tempo a arranjar-se, se é uma pessoa que se preocupa com a ideia que os outros têm dela, se é mais romântica, mais fechada, mais divertida. A roupa diz muito. E ajuda-me sempre imenso quando estou a ver uma personagem pela primeira vez. Gosto muito de criar histórias por detrás daquilo que se vê, inventar algo para a vida das personagens. E isso é todo um processo que faço sozinha, muito solitário. Mas depois há outra camada do nosso trabalho que é quando experimentamos a roupa pela primeira vez, quando experimentamos a maquilhagem, o cabelo. E tudo isso ajuda muito na compreensão da personagem.

Foto: Lucas Fonseca

E tu, tens um estilo próprio que consigas definir?

Tenho, acho que sim. Confortável. Dou muito valor ao conforto. Clássico. Discreto, também. Monótono, para alguns. Mas, sim, clássico e discreto. Acho que essas duas palavras são as que melhor definem o meu estilo.

Palavras que também podem ser usadas para descrever o ethos da Dior. Contribuiu para aceitares o desafio?

Eu aceitaria qualquer desafio feito pela Dior! Adoro a Dior. Acho que é uma marca icónica. Incrível. Está num patamar ao qual poucas marcas conseguem chegar. E o que mais gosto na Dior, principalmente nesta coleção, é a linha entre o clássico e o moderno. Porque, apesar de a coleção ter looks que associamos aos anos 70  – senti que estava a viver num filme do Godard –, ao mesmo tempo tem um toque moderno e nunca está fora de tom. É algo que ficaria bem nos anos 70, nos anos 80, nos anos 90, fica bem agora, e há de ficar bem daqui a não sei quantos anos. É intemporal.

Começaste a representar bastante nova, com 20 anos. Sentes apoio por parte das mulheres com quem trabalhas? Ou sentes alguma rivalidade?

Devo ter muita sorte, porque se fala muito dessa rivalidade, entre mulheres e atrizes, e eu nunca a experienciei. Aliás, quando comecei, tive a sorte de trabalhar com três mulheres que admiro imenso, com quem ainda mantenho grande amizade,  falamos todos os dias, e com quem, aliás, estou a trabalhar outra vez, passados 12 anos. Estou a falar da Victoria Guerra, da Joana Santos e da Soraia Chaves. As três ajudaram-me a definir o tipo de mulher que eu queria ser, o tipo de atriz que eu gostava de ser e receberam-me de braços abertos. No caso da Joana e da Soraia, que faziam de minha mãe e de minha tia, respetivamente, foram superprotetoras comigo. Sempre que me sentia mais desconfortável, elas estavam lá, sempre me apoiaram. E a Victoria , que fazia de amiga, também foi muito minha amiga na vida real. É difícil começar e, ainda para mais, começar numa novela em horário nobre, sem experiência nenhuma, e foi mesmo incrível tê-las, às três, a encaminharem-me.

Foto: Lucas Fonseca

Antigamente, as atrizes queixavam-se de que não havia papéis de jeito para mulheres com mais de 50 anos, mas isso parece estar a mudar. Cate Blanchett, Nicole Kidman, Juliane Moore, Julia Roberts, Monica Bellucci, têm mais de 50 e são extremamente requisitadas e apreciadas. Isto significa que o estigma do envelhecimento está a desaparecer?

Acho que sim. Mesmo em Portugal, sinto que tem havido mais projetos para mulheres acima dos 50. E há, de facto, certas atrizes que conseguiram passar essa barreira, mas não são todas. Essas trabalham muito por serem quem são. São estrelas. Mas isso não quer dizer que seja igual para todas as atrizes dessa idade. Acho, também, que o facto de haver mais mulheres realizadoras faz com que haja mais vontade de contar histórias sobre mulheres noutras idades. Mas também acho que, infelizmente, estou sempre a ver os mesmos atores e gostava de ver serem dadas oportunidades a outros atores. Especialmente em Hollywood, vive-se à base do ator ser bankable [rentável] e isso faz com que, num ano, uma atriz esteja em três ou quatro filmes e depois há outras sem trabalho. Mas acho que é um bom começo e que estas atrizes estão a abrir portas. Só espero que essas portas se mantenham abertas para outras mulheres que não têm a força, o conhecimento ou o star system que elas têm.

Foto: Lucas Fonseca

A Joana Santos também não tinha a propriamente idade para ser tua mãe, pois não?

Não, de todo [risos]. Aliás, lembro-me que, quando fiz o casting, o diretor da Globo estava cá e perguntou-me: "Então, achas que consegues passar por filha da Joana Santos?" E a minha resposta foi: "Pá, com maquilhagem, se calhar, não sei…" Mas estava mesmo a achar que não ia dar. Aliás, a Joana e eu gozamos muito com isso. Ela tem mais seis anos do que eu. É impossível! E, se calhar, hoje não teria sido feito. Mas não gosto de me queixar porque, se não tivessem acreditado em mim para esse papel, não estaria aqui agora.

E tu, sentes o peso de parecer sempre jovem, independentemente da idade?

Não, pelo contrário. Sempre quis ser mais velha. Talvez por nunca ter feito papéis de Lolita. Mas também isto não tem só que ver com as idades. Tem também que  ver com o tipo de beleza e com aquilo que é considerado bonito. E depois há o que faz sentido para o realizador, o género [de beleza] que ele aprecia. De qualquer forma, sempre achei que, para mim, talvez fosse ao contrário, que quando fosse mais velha fosse ter mais trabalho. Até porque acho que os papéis mais interessantes, e aqueles que eu mais gostaria de fazer, são de mulheres mais velhas.

Foto: Lucas Fonseca

Sei que gostas de personagens fortes, mulheres fortes, qual é a tua personagem de sonho?

Essa é uma pergunta que sempre me fez sentir muito desconfortável. Acho muito difícil escolher uma personagem, porque não depende só da personagem. Depende do  realizador, do guião. O que eu sei é que gostava de fazer um projeto no qual estivesse em sintonia total com o realizador. Uma personagem diferente daquilo que fiz até agora e um projeto em que  pudesse ficar totalmente imersa e desaparecer durante aquele período. Algo dentro do género do trabalho que o João Canijo faz com as atrizes. Adorava fazer algo assim. Entrar no filme e na personagem e viver aquilo. Pronto, se calhar, depois não vou querer repetir [risos], mas, pelo menos uma vez, gostava.

O início da tua carreira é curioso. Estavas a tirar Arquitetura e os teus pais disseram "Ó filha, vê lá, não queres antes ser artista?". Normalmente, passa-se ao contrário…

Quer dizer, a Arquitetura também não estava muito bem naquela altura. Entre ser arquiteta e ser atriz era um bocado "venha o diabo e escolha" [risos]. Mas sim, foi daquelas coisas que acontecem, e eu nem estava muito para aí virada, mas, às tantas, começou tudo a fazer sentido e a encaixar. Sempre senti que as coisas eram difíceis de fazer. Estive um ano em Ciências, depois fiz Artes, depois entrei em Arquitetura, mas não estava contente, não estava satisfeita, e, de repente, quando decidi ser atriz foi tipo... tuc tuc tuc [como peças que se encaixam].

Foto: Lucas Fonseca

Também contas que, quando foste ao casting do Dancin’ Days, não estavas muito interessada. Foi o teu pai que te falou nisso e tu foste meio na desportiva…

Mas sabes que essa indiferença é o melhor que se pode sentir! Já me aconteceu ter castings em que estou tipo "Ai, quero tanto ficar com isto! Por favor!" E claro que não fiquei. Agora penso, "olha, se ficar, fico".  Uma amiga mandou-me, no outro dia, uma coisa sobre o Carl Jung que fala muito disso, do poder de deixar [as coisas seguirem o seu rumo]. Queres uma coisa, mas isso não pode ser tão importante para ti que tolde a tua visão e te impeça de viveres o momento. Portanto, é fazer o que há a fazer e seguir [em frente].

E vives assim só a tua vida profissional ou também a tua vida pessoal?

Tem fases. Mesmo em relação à vida profissional, depende muito dos papéis e do estado mental em que me encontro. Hoje, sou uma pessoa muito mais tranquila do que era, se calhar, há dois anos. Na minha vida pessoal, sou aquela pessoa que acha que o que tem de ser, é. E, sim, no trabalho sou igual. Faço o meu melhor, entrego-me de corpo e alma e se não fico [com o papel] é porque há uma pessoa melhor. E já vi isso acontecer em castings que fiz, que eu queria imenso ficar e, de repente, vejo a pessoa que fica e digo "olha, sim, claro, faz todo o sentido". Eu própria gosto mais do filme com essa pessoa, do que se fosse comigo.

Foto: Lucas Fonseca

Texto originalmente publicado na revista anual da Máxima, de novembro de 2024.

Créditos:

Realização: Joyce Doret.

Fotografia: Lucas Fonseca.

Víde: Imagem de Joyce Doret.

Maquilhagem e cabelos: Alex Origuella.

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