“Gosto que os papéis me façam medo"
Alicia Vikander é a inelutável atriz sueca que vive em Portugal por causa do calor e do mar, que arrebatou um Óscar e interpreta uma sucessão de papéis e nenhum género lhe resiste.

Tem a silhueta de uma menina, mas a aura de uma deusa. Com 1,66 metros, chega, subitamente, ao estúdio fotográfico em Londres, vestindo uma camisola de gola alta de mohair amarela pálida, calças de golfe e bailarinas. É a nova estrela da galáxia do Cinema, surgida como uma explosão da sua Suécia natal: em poucos anos, fez uma OPA impressionante a Hollywood e aos seus realizadores que já não podem passar sem ela. Alicia Vikander, de 29 anos, atriz vencedora de um Óscar [para a Melhor Atriz Secundária] pela sua interpretação de Gerda Wegener, em A Rapariga Dinamarquesa, e musa da Vuitton que oferece a sua espantosa silhueta às criações de Nicolas Ghesquière. "Adoro a sua beleza e adoro o facto de ela preferir os filmes de autor mais radicais aos êxitos de bilheteira. Adoro que ela saiba transformar-se sem se trair. Adoro a sua disciplina escandinava", comenta o diretor artístico da marca. Com efeito, Alicia agracia a película como acaricia as palavras, joga com os silêncios e estremece mais do que se move, espartilhada perante o mundo exterior pelos modos impecáveis de uma menina de boas famílias, incandescente no interior como a paixão que traz em si. "Sou obstinada", garante esta jovem atriz. Ela é um daqueles talentos precoces que não desiste, sobretudo dos seus sonhos.
Alicia Vikander queria ser bailarina. E foi-o durante dez anos no Royal Ballet de Estocolmo, aguentando, sem queixumes, a disciplina militar e espartana imposta ao seu corpo. Ainda hoje tem um porte altivo, pernas esguias e uma vontade de ferro. Depois, mudou de ideias e decidiu ser atriz, como a sua mãe, bastante respeitada no Teatro Real de Estocolmo. "Foi a decisão mais difícil da minha vida e a mais audaciosa, tendo em conta que só são produzidos 18 filmes por ano, na Suécia", sublinha. Mas quando Alicia quer, Alicia move montanhas. "Nunca desisto", diz com a sua bela voz rouca. "Isso é bom porque não se pode exercer a profissão que se escolhe sendo diletante." Alicia encarna Lara Croft na nova adaptação de Tomb Raider, de Roar Uthaug, depois de ter feito papéis diametralmente opostos em Royal Affair, de Nikolaj Arcel, ou A Rapariga Dinamarquesa, de Tom Hooper.

Em que registo se sente mais à vontade?
Escolho os meus papéis em função de um critério que, para mim, é essencial. É preciso que esses papéis me metam medo. Adoro isso. Aquela sensação de insegurança estimula-me. Vejamos o exemplo de Royal Affair, o meu primeiro filme internacional, no qual interpreto a rainha Caroline-Mathilde de Hanover. Para me preparar, fui até à Dinamarca, aprendi Dinamarquês e estudei a história do país… A minha abordagem aos papéis é assim: sistemática. Trabalho imenso para os tornar credíveis, para que o público fique convencido e venha ver o filme. Os filmes são como os livros: têm de ser bons, senão ninguém os vai ver.
Participar numa superprodução norte-americana é uma etapa obrigatória na evolução da sua carreira?

Não foi tanto por necessidade, mas por curiosidade que aceitei este papel. Desde que sou atriz que me habituei a frequentar o teatro e a representar em filmes europeus. Quando me propuseram encarnar uma super-heroína e, além disso, seguir os passos de Angelina Jolie, que transformou Lara Croft numa lenda, disse a mim própria que não podia perder esta oportunidade.
Conversou com Angelina Jolie sobre o papel?
Não. Não a conheço, mas adoraria conhecê-la. Ela é um ícone, uma grande atriz, um modelo para mim e para as outras mulheres. Ela mostra como é possível tomar o poder quando se é mulher.

O que lhe agradou nesta história?
Lara Croft é uma jovem que vive, atualmente, num pequeno apartamento, em Londres. É uma super-heroína abordável. Uma mulher livre, audaciosa, curiosa, que acredita nos valores da Humanidade e da fraternidade nos quais eu também acredito. Sinto-me atraída por personagens femininas complexas e emancipadas, como esta heroína. Além disso, Lara Croft teve um grande sucesso comercial e, por isso, permite destilar estes ideais.
Considera-o, então, um filme pedagógico?

Também podemos vê-lo assim. Estamos a viver momentos difíceis e extremamente desagradáveis que nos esclareceram sobre o quanto a mulher ainda é considerada frágil e frequentemente maltratada. Espero que, de uma vez por todas, possamos refletir sobre a redefinição do poder das mulheres. Reparo que, na maioria das vezes, sou a única heroína dos filmes em que participo. Tal deve-se ao facto de o Cinema ter falta de papéis ou de atrizes? Creio que este desequilíbrio corresponde a uma triste realidade: uma falta de consideração pelas personagens femininas. De momento, é preciso que as mulheres se entreajudem, em vez de lutarem umas contra as outras. É urgente criar um ambiente em que possam trabalhar juntas, usando toda a sua inteligência. Isso seria verdadeiramente excitante. Paradoxalmente, acho que as turbulências pelas quais temos passado são uma sorte.
Daí advém a sua vontade de criar uma produtora, a Vikarious, feita para as mulheres e com as mulheres?
Claro que sim! Eu tenho muita vontade de trabalhar com mulheres, de encontrar papéis para as mulheres e de ajudar as mulheres a realizar os filmes. Nunca esquecerei que foi uma mulher sueca, Lisa Langseth, quem me deu uma oportunidade e me confiou o papel principal no seu filme Pure.

É militante do movimento Time’s Up?
Não sou tão ativa quanto a Jessica Chastain. Para mim, a existência deste fórum é atualmente indispensável para preservar as condições de trabalho das mulheres, para que não sejam exploradas, assediadas e menos bem pagas do que os homens. As mulheres precisam de ousar exprimir-se. Graças a este movimento de protesto, aprendemos a conhecermo-nos e a comunicar. Esta tomada da palavra e da liberdade é um passo importante no combate que nós, mulheres, travamos para ganhar igualdade em relação aos homens.
Sempre desejou ser uma estrela?
Deve estar a brincar! Eu nem sequer sabia que eu era uma estrela! Está a esquecer-se de que eu cresci na Suécia, um pequeno país onde o maior feito que se pode alcançar é representar no Teatro Real de Estocolmo, como a minha mãe fez? Nós temos uma estrela planetária: Ingrid Bergman.
Por que gosta desta profissão?
Porque condiz comigo. É só isso… A minha mãe é atriz e eu sempre andei pelos teatros. Comecei aos sete anos, participando em grandes produções da Ópera de Gotemburgo, depois estudei dança e, em simultâneo, descobri que me sentia atraída pela representação. Então, preparei, sem segredo, uma audição para uma série de Natal. Fui contratada e percebi que queria mesmo fazer aquilo. Tinha cerca de 15 anos. Regressei ao Teatro para viver os meus sonhos…
E para fugir à realidade?
Não, isso seria pejorativo. Tornei-me atriz para criar o meu próprio mundo. Adoro esta vida.
Lembra-se da noite em que recebeu o Óscar?
Muito vagamente… Eu estava com a cabeça completamente no ar, tal era o estado de excitação provocado pela adrenalina. Lembro-me que uma voz amiga me disse: "Sabes que há 90 milhões de pessoas a olhar para ti?"
Quando vê que tem uma carreira ainda curta, mas já tão rica, o que pensa?
Nas centenas de audições a que fui, sem sucesso. Nunca me senti desmotivada. Fui persistente. Queria trabalhar. Representar é aquilo que gosto de fazer e aceito os constrangimentos e as desilusões. Estava mentalmente preparada para enfrentar todas as humilhações. Sabia que isso faz parte desta profissão. É em cima de um palco ou num local de filmagens que me sinto bem e que me sinto em casa.
Por que vive, atualmente, em Portugal?
Queria ficar na Europa, num país onde fizesse mais calor do que em Inglaterra e onde houvesse mar. Não posso viver sem o mar.
Lembra-se do instante em que se apaixonou pelo seu marido, Michael Fassbender, durante as filmagens do filme de Derek Cianfrance, A Luz Entre Oceanos?
Claro que me lembro! Mas não lhe vou contar. É o meu segredo.
Exclusivo Madame Figaro. Tradução: Erica Cunha e Alves
