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Celebridades

Bruna Magalhães, Mia Fernandes, Leonor Carneiro e Ana Ventura. As herdeiras da contracorrente

São as filhas do alternativo português, as it girls que divergem e, por vezes, escandalizam, sempre sem medo. Sabem aquilo a que têm direito: a liberdade de serem elas próprias. Editorial pensado por Andy Dyo e Maria Nobre, com vídeo de Mariana Lokelani.

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As herdeiras da contracorrente
10 de dezembro de 2024 às 07:00 Joana Rodrigues Stumpo

Num mundo de pró-formas, uniformização e repetição, há as que fogem do mainstream. As que autentica e genuinamente se desviam das tendências, tanto na moda como nas redes sociais. Mas não é um evitar propositado. É o caminho por onde o instinto mais íntimo as leva - o destino significa poderem ser honestas e verdadeiras, um reino onde elas ditam as regras. São as filhas do alternativo português, as it girls que divergem e, por vezes, escandalizam, sempre sem medo. Sabem aquilo a que têm direito: a liberdade de serem elas próprias.

Bruna Magalhães, a Princesa Orgânica

Bruna Magalhães, ou PrincesaFofa146, como tantos a passámos a conhecer há uns bons anos, cresceu com as redes sociais e nós crescemos com ela. Mal a infância tinha acabado e já dava que falar (chegou a ser tema de conversa mais do que muitas vezes num certo grupo de amigas de uma certa jornalista). A rapariga que se revelou ao mundo com selfies carregadinhas de filtro veio a tornar-se numa força contracorrente das redes sociais. Paletas de cores, planeamento excessivo e pudor são coisas que não entram no seu léxico. Autenticidade é o principal critério para publicar o que chega ao Instagram, TikTok e YouTube. Nem sempre foi assim - a aceitação e a valorização do que é próprio e tão unicamente seu foi uma conquista que foi fazendo ao longo da exposição a que se submetia na internet.

Foto: Andy Dyo

"Lembro-me de não encontrar o meu sítio no mundo das influencers", diz à Máxima. Ouve-se, com alguma frequência, falar sobre como ser demasiado vulnerável nas redes sociais e estar constantemente sujeito a opiniões de quem não tem, à partida, legitimidade para opinar, pode levar a um descarrilar da identidade. Isto é, alguém que se exponha demasiado, especialmente em idade formativa, corre o risco de se perder, graças a exigências e críticas de usernames, porque "o ser humano não está formatado para ouvir tantas opiniões sobre si mesma." Com Bruna Magalhães, o caso foi praticamente o oposto: como nunca abdicou da sua individualidade, o desafio foi descobrir uma comunidade e um formato onde encaixasse. "Se é para vingar, quero ser eu mesma" é o lema que segue. Conta que tentou, inclusive, tornar-se mais "family-friendly" (com um tipo de conteúdo prudente, cauteloso e, se quisermos, conservador), mas foi um período que só trouxe infelicidade. Bruna não é mulher de fabricar. E a realidade sobre ser uma figura da internet é que, de uma maneira ou de outra, o hate [ódio] vai chegar. "Faz parte e estou mega habituada", diz, embora tenha dificuldade em entender de onde vem essa energia maliciosa: "Não consigo perder tempo do meu dia a comentar coisas maldosas". O melhor remédio é fingir que não leu nenhum desses comentários e não deixar que cheguem muito fundo, até porque "normalmente são homens [a comentar], o que facilita ignorar. Não é que não queira saber da opinião deles, mas no fundo não quero". Idolatramos (ou, em inglês da internet, stan) uma princesa segura de si mesma. E Bruna não ignora que, para criar ou manter uma carreira que depende de popularidade, não existe má publicidade. "Era pior se ninguém estivesse a comentar".

Para sobreviver à vida de influencer é preciso calejar as inseguranças e, acima de tudo, encontrar quem esteja lá para lembrar quem verdadeiramente somos. "Rodeares-te de pessoas amigas é mesmo fundamental". Nessa procura, Bruna achou as duas coisas que lhe são essenciais para desenvolver este ofício: uma amiga e uma plataforma onde pode ser ela própria. É Mia Fernandes (a Visionária Caótica) e o podcast Más Influências. Este é o caminho para o futuro de Bruna Magalhães, para uma carreira em criação de conteúdos que a sustente plenamente, sem necessidade de empregos administrativos em part-time. "Encontrei um sítio onde posso mostrar a minha personalidade", onde pode falar sobre os piores dates que já teve, como Caranguejo é um signo que evita no amor e onde prega a palavra santa de O Sexo e A Cidade.

Mia Fernandes, a Visionária Caótica

Como em qualquer família, há sempre o membro com os olhos virados para o futuro. Aquele que, ainda que não se aperceba, dá por si a criar projetos, ainda que imaginados, pensando no potencial de determinadas ferramentas ou conhecimentos. Nesta família real, é Mia Fernandes a princesa com visão. Criadora de conteúdos com alguns créditos de atriz no currículo, é metade da equipa do podcast Más Influências - uma conversa sem filtros entre duas melhores amigas, que põe namoros e asneiras à mistura, mas com microfones e uma câmara que deixam tudo registado para a posteridade. Quando a ideia surgiu, Mia diz que, em conjunto com Bruna Magalhães (a Princesa Orgânica), "sempre dissemos que não queríamos ter muitos filtros". Más Influências foi pensado como o abraço quentinho que qualquer rapariga precisa no final do dia, um consolo amigável concedido à distância. Uma vez que são conversas de cerca de 45 minutos não muito programadas, a descontração e o à-vontade podem ser em demasia para alguns ouvintes. Para Mia, é simples: "Quem não percebe este podcast, lamentamos imenso, mas é porque nunca teve uma conversa com a sua melhor amiga sobre tudo e sobre nada".

Foto: Andy Dyo

Uma criatura do digital, Mia vê com clareza aquilo de que não gosta na indústria - homogeneidade e repetições, porque "estamos habituados a ver tudo muito certinho e planeado". No que toca a criadores de conteúdo portugueses, aponta "uma coisa muito clean, forçada, muito robótica". Uma estética à Hailey Bieber adoça os olhos, mas tudo o que é demais enjoa. "O mercado está a mudar, as pessoas estão desesperadamente à procura de realismo, estão fartas de coisas muito pensadas", diz. Para esta princesa visionária, o futuro da criação de conteúdos é o que é orgânico, genuíno e algo espontâneo. Não apanharão Mia Fernandes a calendarizar posts e a agendar as publicações da semana no Instagram. A ideia de Más Influências é precisamente "quebrar algumas barreiras no conteúdo digital criado em Portugal". Neste yapping para todo o mundo ouvir há apenas uma dúvida: "Será que um dia nos vamos arrepender de ter tanto exposto sobre nós?"

Confrontada com um pedido para descrever a sua estética, Mia Fernandes atira uma palavra - caótica. Adjetivo digno de integrar o cognome desta realeza, que transparece tanto pelas redes sociais quanto pelo seu estilo. Há laços coquette, cinturas descaídas à anos 2000, transparências e corpetes. Um cocktail de influências para estudar no seu perfil de Instagram. "Não penso muito em como vai ficar no feed, publico só", explica. Aqui, coesão não é qualidade que se preze, ao contrário de autenticidade: "Prefiro mostrar mais a minha personalidade do que ter um feed muito limpinho". Uma conversa com Mia inspira a uma certa impulsividade, apenas num nível que nos permita largar as amarras do controlo estético. Até porque o resultado desta filosofia parece ser promissor, já que admite que "o que estou a publicar nas redes sociais, e a imagem que deixo passar, nunca senti que fizesse tanto sentido como faz agora".

Entre tamanha anarquia há ainda espaço para algumas tendências mainstream. Mia não faz para as evitar, pelo contrário, diz que adora "ir ao Pinterest e ter os meus moodboards". Afinal, também é girly inspirar-se na rede social mais estética de todas. É lá que conhece as tendências da estação, admitindo que raramente encontra lugar para elas no guarda-roupa. "Não sinto que siga muito trends". Mia pode não seguir o que está em voga, mas segue o seu coração, a inspiração mais importante de todas.

Leonor Carneiro, a Bailarina Camaleónica

É dançarina, sim, mas não há nada de clássico em Leonor Carneiro. Talvez apenas uma parte da formação, que a levou a estudar dança no Conservatório - e daí para a frente foi sempre a acrescentar diferentes disciplinas. O secundário foi em Artes Plásticas e a licenciatura em Produção e Performance de Teatro. A junção de todas estas influências resulta numa artista de muitos meios que bebe das várias experiências. "Quando crio coisas, há sempre referências desses outros lugares, nunca é só de um", explica Leonor. Também trabalha enquanto atriz e criadora de conteúdos para redes sociais. Não estar presa a um formato é essencial para continuar a criar: "Isso mantém a minha criatividade acesa porque me abre os horizontes e me dá visões mais frescas". Os vários ofícios que exerce têm em comum a base artística, o que provoca, inevitavelmente, o seu cruzamento. Leonor explica que, "às vezes, junto a dança com a representação, dança com moda, há sempre pontos de encontro". Está, por isso, "numa fase de descoberta" que a leva a territórios por explorar. Afinal, "também me interessa ser desafiada". E porque já não tinha atividades suficientes em mãos, criou NONO, uma marca de produtos de lã handmade pela própria e as aspirações para o futuro já estão a ser manifestadas: "Gostava de trabalhar mais como atriz em Portugal e de estudar algo relacionado com direção criativa, direção de arte ou mesmo realização".

Foto: Andy Dyo

Apesar dos planos e dos desejos de diversificar, Leonor admite que "a dança é sem dúvida o sítio onde me sinto mais como um peixe dentro de água". É presença assídua em praticamente tudo o que esteja relacionado com a fadista Ana Moura. Colabora com a cantora há algum tempo, tanto em concertos quanto em videoclipes. Para a bailarina, "partilhar o palco com esta artista é um sonho tornado realidade". E, por mais tempo que passe, por mais tournées que se completem e telediscos que se filmem, a euforia não se esgota: "Vou estar sempre entusiasmada para ir para palco".

Enquanto artista de várias disciplinas, é apenas natural que Leonor sempre desse valor "a tudo o que é estético". Tal como acontece no mundo profissional, também no que diz respeito à moda gosta de sondar as tendências que andam por aí e, pelo menos, dar-lhes uma oportunidade, embora as chances de sucesso sejam assumidamente baixas. "Nunca gostei de ser igual às outras pessoas", diz, "mas nunca me vesti de certa forma para marcar a diferença". Não é que esta bailarina seja do contra só para contrariar, é que, quando vê diferentes versões da mesma coisa repetida (às vezes mesmo replicada), fica naturalmente saturada. Ou seja, "se todo o mundo gosta, eu provavelmente vou deixar de gostar".

No que toca a influências de estilo, são tantas e tão variadas que Leonor prefere não as nomear. Não só seria uma lista infindável, como pode ser redutor da pluralidade de inspirações que recolhe diariamente. "O estilo que eu tenho hoje foi uma coisa que foi acontecendo. Ao longo da minha vida fui curando e experimentando, deitando fora e arranjando novas coisas", diz. Encontrou uma estética que apenas pode ser descrita como digna de figurino, de camaleão. Ora se pode vestir como uma verdadeira sereia de escritório, chique e sensual, ora com um par de calças baggy num estilo muito mais Y2K. Diz que a moda é como "encarnar personagens", uma oportunidade para vestir a pele de outras identidades, consoante a vontade - é o cruzamento que Leonor procura, aqui entre moda, dança e representação.

Ana Ventura, a Tradutora do Chocante

É desde muito nova que ambiciona a este título profissional que descreve o trabalho de pegar em ideias e emoções e traduzi-las de maneira a que sejam entendidas apenas com o olhar. Ana Ventura tem as artes visuais a correr-lhe nas veias: "Desde pequenina que desenho e pinto com qualquer coisa. Pego em qualquer material e faço uma coisa interessante, é-me muito intuitivo", conta. Seguiu os estudos nesse sentido com um objetivo muito concreto, o de "fazer desenhos animados, trabalhar para a Disney e para a Pixar". A dedicação exclusiva e intensiva que seria necessária para alcançar esta meta pôs as coisas em perspetiva. "Eu não consigo dedicar-me a uma só coisa. Isso fez-me tomar a decisão de não seguir com a carreira em animação 2D, que foi o que estudei".

Foto: Andy Dyo

Como criativa no sentido mais visceral da palavra, estar presa a um formato pode significar fadiga e saturação daquilo que cria. Diz que, "por exemplo, quando fico cansada de uma pintura que estou a fazer preciso de me afastar para depois voltar e olhar para ela de forma diferente". Às vezes, é preciso "parar um bocado" e ir beber a outros meios e outras técnicas que despertem as ideias. Dedica-se, por isso, à ilustração, à escultura e, claro, à moda. "Há aquela expressão, ‘uma pessoa que faz muitas coisas nunca será a melhor em nenhuma delas’, mas eu quero contradizê-la, quero ser a melhor em todas elas".

É esta ambição que está a levar Ana a terras distantes. Aliás, Ana das Aventuras é alcunha digna de quem se muda para o outro lado do oceano sozinha, guiada apenas por um sonho: o de "trabalhar como pintora e ter muito sucesso nessa profissão". A visão levou-a a Los Angeles, na Califórnia, onde vive há pouco mais de um ano. Na cidade das estrelas, procura visibilidade para a sua arte. Mas até conseguir fazer disso o seu principal sustento, apoia-se na carreira de modelo que tem vindo a construir desde os seus tempos lusitanos. "A moda está sempre lá e ajuda-me imenso", não só a estabilizar a situação financeira, mas a criar um nível de exposição pública cada vez maior. "Decidi usar o facto de trabalhar muito como modelo para me promover nas redes sociais". Ana não luta contra as correntes modernas: "Sei que a minha imagem vende, sei que isso importa". Precisamente por entender o potencial de ter uma plataforma bem construída, é criteriosa com o que publica: "Sempre liguei muito à minha estética nas redes sociais, até no Facebook quando era mais nova. Quero apresentar-me de forma divertida e diferente". Cuidadosa, sim, mas a principal preocupação é não fugir à sua verdade. Para Ana, "o nível de exposição que tenho nas redes sociais faz-me querer ser o mais genuína e honesta possível. Não as uso só para partilhar os melhores momentos, uso para mostrar as fases mais sombrias". Até porque vê estas plataformas como tendencialmente "mais tóxicas do que produtivas" e, "se pudesse escolher, não teria redes sociais. Porque sou artista tenho de ter", este que é um espaço de promoção do trabalho.

Para já, a grande meta - e o que a levou a Los Angeles - é fazer das artes plásticas o seu principal ofício. A to-do list dos próximos tempos inclui ganhar reconhecimento pela pintura e criar uma rede de colecionadores de arte e curadores que a elevem ao próximo patamar. Tarefas que são simultâneas à principal devoção de artista: desenvolver um estilo próprio, uma imagem de marca que a distinga de todos os outros. O que se vê na pintura de Ana Ventura é, ainda, o estilo cartoonish que se mantém da ilustração, mas principalmente a aura tenebrosa e surrealista. "É mais macabro, sombrio, poético e mais adulto. Exploro os sentimentos que são mais difíceis de transmitir" em imagens. É, nesta fase, uma estética "mais chocante" que perturba e mais dificilmente abandona quem a vê. Ana das Aventuras só vê vantagens em impressionar: "Eu gosto disso".

Fotografia: Andy Dyo

Styling: Maria Nobre assistida por Beatriz Vidal

Maquilhagem: Raquel Soeiro assistida por Miriam Gomes

Cabelos: Eric Ribeiro

Imagem e edição: Mariana Lokelani

Agradecimento especial ao Lisbon Sports Club.

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