Quase uma década depois do assalto de que foi alvo em Paris, Kim Kardashian voltou à cidade para depor no julgamento dos alegados autores do crime. A socialite e empresária norte-americana testemunhou no dia 13 de maio de 2025 perante o tribunal criminal de Paris, no âmbito de um processo que envolve dez acusados. O caso, que na altura teve mediatismo mundial, volta agora ao centro das atenções, não só pela notoriedade da vítima, mas também pela singularidade do crime: um roubo milionário executado por um grupo de idosos, apelidados pela imprensa francesa de "les papys braqueurs".
Durante o testemunho em Paris esta terça-feira, Kardashian enfrentou diretamente alguns dos acusados, numa audiência à porta fechada. O tribunal garantiu-lhe proteção especial, incluindo a possibilidade de não ter de os ver cara a cara - possibilidade que recusou. Segundo a Associated Press, o depoimento durou cerca de cinco horas e encerrou a sessão daquele dia. Um dos momentos mais marcantes foi o perdão oferecido por Kim a um dos acusados, que previamente lhe tinha enviado uma carta de arrependimento. "Je vous pardonne" ("Eu perdoo-o"), declarou em francês, emocionada, conforme relatado pela Reuters. Apesar do gesto, sublinhou que o trauma do assalto permanece consigo até hoje.
Na madrugada de 3 de outubro de 2016, Kim Kardashian foi vítima de um assalto à mão armada no apartamento privado onde se encontrava hospedada, durante a Semana da Moda de Paris. Disfarçados de polícias, cinco homens armados invadiram o local, amarraram e amordaçaram a celebridade, e roubaram joias no valor de cerca de 10 milhões de euros - incluindo um anel de diamantes avaliado em quatro milhões. Foi o maior assalto a um indivíduo em França nos últimos 20 anos. Kardashian, foi trancada na casa de banho enquanto os assaltantes executavam o golpe. Em depoimentos anteriores, referiu ter temido pela vida: "Achei que iam violar-me, ou matar-me", disse numa entrevista posterior à E! News. Agora, no tribunal francês, voltou a reviver esse momento ao descrever, segundo a Reuters, que achou "absolutamente" que ia morrer.
O que mais surpreendeu o público e a própria vítima foi o perfil dos autores do crime. O grupo, formado por homens entre os 60 e os 75 anos, planeou o golpe com uma eficácia impressionante - ao ponto de serem apelidados pela imprensa de "papys braqueurs", ou seja, "avôs assaltantes". O termo, embora irónico, sublinha o contraste entre a idade avançada dos suspeitos e a violência metódica do roubo. Mas esta não foi a primeira incursão do grupo no mundo do crime. Muitos dos réus têm antecedentes criminais relacionados com furtos organizados, tráfico e assaltos à mão armada. O líder presumível, Aomar Aït Khedache, de 69 anos, tem um longo histórico ligado ao crime organizado em França e na Bélgica. Outro dos acusados, Yunice Abbas, confessou o envolvimento e até publicou um livro autobiográfico no qual descreve o assalto com detalhes que coincidem com as provas recolhidas. A experiência criminal do grupo reforça a ideia de que o assalto foi meticulosamente preparado e executado com precisão quase cirúrgica.
O julgamento teve início a 28 de abril de 2025 no tribunal de Paris e deverá prolongar-se até ao final de maio. Entre os acusados estão nove homens e uma mulher, todos a responder por crimes que incluem roubo à mão armada, sequestro e participação em organização criminosa. As penas podem atingir a prisão perpétua. As investigações revelaram ainda que os assaltantes beneficiaram de informações internas. Segundo o Le Monde, Gary Madar, irmão do motorista de Kardashian, é suspeito de ter transmitido dados sensíveis sobre os horários e a localização da estrela. Embora negue qualquer envolvimento, o seu nome surgiu repetidamente durante o inquérito.
O caso Kardashian teve repercussões que foram além das manchetes. Nos meses e anos seguintes ao roubo, vários hotéis de luxo em Paris - nomeadamente o Hôtel de Pourtalès, onde o crime ocorreu - reforçaram os protocolos de segurança para hóspedes VIP. Foram instalados novos sistemas de videovigilância, os acessos passaram a ser mais controlados, e a presença de segurança privada aumentou substancialmente. O sector do turismo de luxo em França também repensou a forma como lida com a exposição mediática dos clientes. O crime demonstrou que a informação partilhada em tempo real nas redes sociais, como a localização e os bens de luxo exibidos, pode ser uma vulnerabilidade real. Desde então, várias celebridades passaram a viajar com equipas de segurança pessoal e a publicar conteúdos com atraso, de forma a dificultar a localização imediata.
Agora, quase uma década depois, Kim Kardashain voltou ao local do trauma para olhar os agressores nos olhos e relatar ao mundo o que viveu. O veredicto final está previsto para o final de maio de 2025.